16. Estranhos com memórias em comum.

276 30 103
                                    

18.12.2020

Escutei o penduricalho da porta de vidro da cafeteria soar pelo ambiente, levantei a cabeça do balcão e vi Choi Sumin entrar com Heejin no colo. A criança de sete anos parece grande demais para o colo da mãe.

— Heejin, acorde. - a mãe sacudiu a filha no colo. — Precisarei resolver umas coisas, fique aqui com sua irmã e se comporte. - vi a menina acordar lentamente com uma cara emburrada, a criança foi sentar em uma das mesas e ali apoiou a cabeça voltando a dormir. — Chaewon, eu volto rápido, se ela ficar entediada pode dar algum doce. - acenei com a cabeça em concordância. A mãe falou alguma coisa com a funcionária do caixa e depois foi embora fazendo barulho na porta outra vez. Fui até a mesa que a criança dormia.

Choi Heejin, minha irmãzinha.

A lembrança daquela primavera de 2019 ainda é fresca na mente. Tinha sido o primeiro inverno sem Jungkook, e aqueles três meses foram como tortura, onde até o barulho do vento me lembrava ele. Mas o inverno acabou e a primavera veio trazendo uma sensação de recomeço que atribuí a estação, também por causa de Jungkook. 

Passei na frente daquela cafeteria, fiquei ali parada do outro lado da calçada por uns trinta minutos. Eu iria embora como sempre fiz, mas algo me motivou, não sei o que. De repente eu não tinha mais medo. Já havia passado na frente daquela cafeteria várias outras vezes, e em todas eu fui medrosa demais para fazer o que queria, mas dessa vez não. Pensei que o medo não fazia sentido, se aquela mulher não me aceitasse como irmã da sua filha então eu estaria na mesma situação que estou hoje, sem uma irmã.

Atravessei a rua sem ao menos olhar para os lados. Escutei a porta fazer um barulho e fiquei tensa com aquilo. A mãe estava do lado de dentro do balcão e a filha estava pintando numa mesa do outro lado do salão. Tive medo de novo, mas era tarde demais para fugir, pois a mãe já havia notado minha presença. Eu mal sabia o que iria dizer, aonde queria chegar.

— Olá, boa tarde. - eu disse me aproximando do balcão. 

— Boa tarde, em que posso ajudar? - ela sorriu gentil como faria para qualquer cliente.

— Na verdade, não vim comprar nada. - eu sorri amarelo, estava morrendo de medo da rejeição. Vi seu rosto enrugar levemente. Olhei para a criança sentada na mesa, ela ainda pintava e parecia nem ter notado minha presença ali. — Me chamo Park Chaewon. - a mãe maneou a cabeça para o lado, como se não fizesse a mínima ideia do que eu estava querendo dizer.

— Park... Chaewon? - ela disse como se tentasse lembrar do nome. — Parece um nome familiar.

— Conhecia Park Dak-Ho? - fui direta, vi seu rosto congelar e percebi sua postura ficar ereta, aquilo me intimidou e eu me encolhi mais ainda. — Era meu pai. - tive vergonha de dizer isso e me senti infinitamente inferior a ela, estava tensa.

— Você quer sentar para conversar? - ela disse meio chocada ao sair do balcão.

Lembrei o quanto aquilo me fez ter esperança, naquele dia eu tive mais medo de sua rejeição do que de ser vítima de algum sequestro. E a simples indicação de ela estava disposta a me ouvir aliviou o peso no peito, eu mal sabia o que falar, não sabia se aquilo era justo, mas Sumin foi um anjo.

— Heejin é sua irmã. - ela disse. — Me perguntei por anos por onde andava a filha daquele homem, seu pai não era a melhor pessoa do mundo, mas também não foi um monstro, se fosse, não teria me envolvido com ele. Ele dizia que havia falhado como pai e que já era tarde demais para se redimir, sempre tive pena de você e depois que soube da morte de seu pai me perguntava se você estava bem, se sabia quem eu era e se viria até mim. - ela sorriu sem emoção para o chão.

SAY YES TO HEAVEN || 🄹🄹🄺Onde histórias criam vida. Descubra agora