III. A força de um tolo ⚔️ PARTE II ⚔️

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As pedras cuidadosamente sobrepostas, trabalho de construção constante e bem elaborada a partir da exploração de uma população exausta, enalteciam a grandiosidade do castelo que outrora abrigava a família Amirth, e agora era o lar e retiro de Aaro...

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As pedras cuidadosamente sobrepostas, trabalho de construção constante e bem elaborada a partir da exploração de uma população exausta, enalteciam a grandiosidade do castelo que outrora abrigava a família Amirth, e agora era o lar e retiro de Aaron Khan, seus consanguíneos e os poucos soldados que o tratado de paz dos Homens Livres lhe permitia ter.

No salão principal, como toda semana, ele buscava ensinar os segredos de Shinu para um não tão entusiasmado sobrinho. Era evidente, para ambos, que seu desenvolvimento não alcançara o nível esperado, ou melhor, seu desenvolvimento foi irrisório de uma forma nunca esperada, levando-se em conta sua descendência.

Handriak, frustrado e no limite de sua paciência questionava seu mentor novamente:

― Já tem dois anos! Dois anos! Isso não é pra mim, eu não consigo.

Aaron suspirou fundo.

― Vou repetir, pela milésima vez: você pode. Se o seu desejo é fazer parte dos Homens Livres, deixar essa ilha e honrar o legado de sua mãe, você precisa saber o mínimo dos segredos de Shinu.

― Não faz sentido. Eu tenho algum conhecimento sobre armas: sei manusear uma espada, um escudo e até um machado. Tenho mais força do que todos os soldados que já desembarcaram no porto dessa ilha. Por que eu preciso saber isso?

Sentado na cadeira ornamentada, o mentor tamborilou os dedos na mesa enquanto o sobrinho, esbravejava suas frustrações.

― Han, ter força não significa que...

― Hoje eu levantei uma carroça, sem fazer esforço! Por que eu preciso dobrar essa colher com minha mente? ― Questionou o jovem balançando o talher prateado na direção do tio.

― Tudo bem. Outra vez, vamos lá... você levantou uma carroça com os braços, correto? Sua mãe poderia erguê-la sem ao menos tocá-la.

― Eu não sou...

― Sim, você não é ela, eu sei. Apenas me escute, você não quer ser um soldado. Seu sangue faz de você um líder, alguém que pode proteger cidades, reinos, pessoas! Imagine que um dia, você se torne um grande general, e na frente de suas tropas é desafiado por um sacerdote iniciante de Shinu que conheça a Regência, sabe o que vai acontecer? Ele vai fazer você dançar na frente de todos, não importa sua força, sua coragem, nada disso.

A imensa janela aberta reluzia o sol da tarde, que tomava a face de um Handriak pensativo, contemplava o questionamento lançado por seu tutor sem saber uma forma de respondê-lo. O jovem nunca esteve fora da ilha, conheceu um ou outro usuário dos segredos de Shinu, mas nenhum deles, inclusive o próprio tio, usaria esse conhecimento contra ele.

Com a dúvida nos olhos de seu sobrinho, Aaron moveu sutilmente o talher, deixado na mesa, na direção dele. Handriak encarou o objeto por alguns instantes antes de dar seu veredito.

― Tudo bem! Mais uma vez, então! ― Ele pegou a colher da mesa.

― Vamos com calma. Qual é o primeiro passo?

― Fechar os olhos e respirar fundo.

― Exato.

O jovem suspirou, sentiu o ar entrar e deixar o corpo em um movimento firme.

― Agora, esqueça tudo ao seu redor. Não existe nada nesse mundo, além dessa colher e da minha voz. Transporte seus pensamentos, Han.

― Tá bom, eu entendi! Seja a colher, sinta a colher...

― Eu não disse isso! A colher é um obstáculo, remova isso do caminho. Preste atenção, Han!

Sentiu cada sútil deformidade do objeto percorrer seus dedos, franzia a testa sem perceber. Por mais que procurasse em sua mente não encontrava aquele detalhe, o pormenor que mudaria tudo. Procurava aquilo que separava seu tio dos homens comuns, o poder que os Deuses distribuíam para seus poucos escolhidos.

Shinu era egoísta, proclamava com muito cuidado aqueles que poderiam realizar suas proezas, os elegidos para entender a mente humana. Apesar disso, a deusa foi muito generosa com sua família, a linhagem dos Khan era presenteada a cada geração com o conhecimento, a sabedoria, o condão dos Deuses.

O suor percorria a testa de Han, esboçava uma concentração de dias anteriores, tudo era exatamente como os dias anteriores. O exercício prático de curvar a colher, era um conhecimento básico, mais uma de várias tentativas de seu tio, contudo algo estava diferente dos fracassos anteriores.

Han abriu os olhos estupefato.

A colher milagrosamente curvou-se diante de um Handriak em êxtase, seu semblante incrédulo assistia a colher dançar na sua frente.

― Consegui! Consegui! Olha tio, a colher! A colher!

A feição sisuda de seu tio entrou em contraste com a alegria do jovem. Han não entendeu a falta de entusiasmo do mentor, após tanto tempo de estudo e trabalho duro finalmente ele tinha conseguido, mas isso não parecia o entusiasmar.

― Tudo bem, tio? Eu fiz algo de errado?

Aaron se ergueu da cadeira, ele balançava a cabeça negativamente.

― Theodore, seu moleque! Você acha isso engraçado? ― O homem esbravejou na direção da porta.

― O quê?― Disse Han ao soltar a colher e olhar na direção da entrada do cômodo.

Era o primo, Theodore, uma criança prodigiosa no uso dos conhecimentos de Shinu. O garoto deu uma risada ao ter seu esconderijo revelado, entregou um sorriso arteiro para um pai nervoso e um Handriak perplexo que tentava compreender o ocorrido.

― E... então foi ele? Eu não consegui?

― Isso não teve graça, filho. Seu primo estava concentrado.

O garoto se deu por satisfeito com sua peripécia, enquanto se divertia com seu feito partia em disparada para longe do salão. Aaron balançou a cabeça mais uma vez:

― Essas crianças... Vamos prosseguir, Handriak.

― Não. Isso não vai dar certo, você viu o que aconteceu. O Theodore fez tudo com facilidade, ele estava a metros de distância dessa colher. Ele tem metade da minha idade, estou perdendo meu tempo e, pior ainda, estou desperdiçando seu tempo, tio.

― Você não pode se comparar ao seu primo, cada um tem seu tempo de aprendizagem. Além disso seu primo é um prodígio, nenhum Khan desenvolveu a habilidade dele em tão pouco tempo...

Han deixou a mesa e caminhou na direção da porta.

― Obrigado, tio. Você fez o que podia, mas Shinu não gosta muito de mim.

― Han...

― Não quero atrapalhar o Dia da Vitória, nos vemos na festa.

Seus olhos cintilaram diante da incerteza do futuro, uma decisão precisava ser tomada, mas não naquele momento, não na véspera do dia mais importante.

Seus olhos cintilaram diante da incerteza do futuro, uma decisão precisava ser tomada, mas não naquele momento, não na véspera do dia mais importante

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TRÍADE - Filhos dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora