CAPÍTULO 2

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Daniel adorava receber atenção. Ele vivia para isso, na verdade. Desde garotinho, buscava maneiras de ser o centro de tudo. Ele andou antes que todos da sua idade. Ele falou primeiro e, conforme foi ficando mais velho, tornou-se mais alto e mais belo que qualquer um. Com seus cabelos escuros, olhos penetrantes e ombros largos, era realmente bonito. As garotas o amavam; os garotos o veneravam. E Daniel? Ele absorvia toda a atenção e regozijava-se com ela..

Havia um limite de atenção que Daniel poderia receber crescendo em uma pequena aldeia. Isso o aborrecia. Então, para sua satisfação, a Coréia se
envolveu na guerra. Daniel não via a guerra como uma oportunidade de defender seu país, mas como uma chance de usar um uniforme elegante e
impressionar as mulheres o que ele fez com gosto quando se tornou um herói de guerra condecorado doze anos antes.
Daniel ainda usava sua farda.
E ainda acreditava ser o homem mais belo e másculo de toda a aldeia. Agora ele montava seu grande garanhão preto, fitando a aldeia do promontório que lhe permitia vê-la do alto. Seu tórax se avolumava sob um peitoral dourado deslumbrante. Os músculos em seus braços saltavam conforme ele puxava as rédeas do cavalo, fazendo o animal dançar nervosamente.
Amarrados à sela, estavam seu fiel mosquete e as recompensas de sua caçada. Como sempre, ele tivera uma tarde de sucesso na floresta.

— Você não errou um tiro, Daniel — disse o homem ao lado dele.
Se Daniel era um leão, como já haviam dito ao longo dos anos, o outro homem era um gato doméstico. Jimin era tudo que Daniel não era. Enquanto
Daniel era alto e musculoso, Jimin era baixo e fraco. Enquanto Daniel era todo elegância, movimentos treinados e falas bem ensaiadas, Jimin era só tropeços e balbucios incompreensíveis. Enquanto Daniel era conhecido e venerado por todos, Jimin era uma mera nota de rodapé aos olhos dos aldeões. Ainda assim,
Daniel estimava o pequeno rapaz: mais pelo fato de ele ser seu maior fã.

— Você é o maior caçador da aldeia — Jimin continuou. Daniel lançou-lhe um olhar fulminante e ele rapidamente corrigiu:

— Quer dizer… do mundo.

Daniel estufou ainda mais seu peito já inflado e ergueu o queixo no ar como se posasse para um artista invisível.

— Obrigado, Jimin — disse. Ele olhou para baixo para ver o que Jimin havia “capturado” (um punhado de vegetais) e ergueu uma sobrancelha. Então,
acrescentou com ironia:

— Você também não foi tão mal.

— Um dia desses vou aprender a atirar como você — comentou Jimin, alheio à zombaria de Daniel.

— E falar como você. E ser alto e belo como você.

— Deixe disso, velho amigo — disse Jimin, fingindo não ter adorado cada elogio.

— A glória refletida é tão boa quanto a original.

Jimin inclinou a cabeça, confuso. Ele abriu a boca para falar, mas parou quando viu Daniel se endireitar na sela. Os olhos do homem de cabelos escuros
se estreitaram, como se fossem de um lobo avistando uma presa. Seguindo o olhar de Daniel, Jimin viu o que havia chamado a atenção de seu amigo. Logo
adiante, Jihyo abria caminho pela praça da aldeia. Seu vestido azul vivo reluzia em contraste com seus fartos cabelos castanho-avermelhados. Mesmo àquela distância, Jimin conseguia ver que as bochechas dela estavam coradas.

— Olhe para ela, Jimin — prosseguiu Daniel. — Minha futura esposa. Jihyo é a garota mais bonita da aldeia. Isso faz dela a melhor.

— Mas ela é uma mulher tão culta, e você é tão… — Jimin se conteve. Ele quase incorreu no erro que se orgulhava de nunca ter cometido: ofender Daniel.
Rapidamente, antes que o amigo pudesse se perguntar sobre a hesitação, ele terminou a frase.

A Bela e a Fera (Jeongyeon e Jihyo)(Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora