CAPÍTULO 4

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Sem dúvida, não era o tipo de local para se perder à noite, especialmente durante uma tempestade.

— Talvez nós devêssemos ter virado à direita naquele cruzamento, velho amigo — disse Gong Yoo, com suas mãos tremendo nas rédeas conforme mais raios riscavam o céu.

— Ou talvez eu deva parar de fingir que meu cavalo entende o que falo.

Outra descarga de raios caiu. Só que, dessa vez, eles quase atingiram Gong e Philippe. Os dois escaparam por pouco, mas uma árvore nodosa e seca não
teve a mesma sorte: o raio a partiu em duas. Conforme ela se separou, uma metade caiu sobre a estrada logo à frente de Philippe. A outra metade caiu para o lado. Quando Gong olhou de perto, notou que a segunda metade havia caído bem próximo a um caminho estreito, antes oculto.

Um instante depois, um enorme lobo branco surgiu do meio dos arbustos, quase atingindo a carroça. Gong deu uma olhada rápida ao redor e viu uma
alcateia inteira das bestas correndo ao lado deles.

— Vamos, Philippe! — gritou ele, estalando as rédeas contra o pescoço do cavalo, como se a criatura precisasse de algum encorajamento.

— Depressa!

O cavalo não perdeu tempo e disparou a pleno galope. Mas o movimento brusco não combinava com a idade da carroça e sua degradação geral.

Assim que o cavalo começou a se afastar dos lobos, a carroça começou a ceder e os arreios, a se soltarem. Em questão de segundos, ela sucumbiu.
Gong gritou quando a carroça caiu no chão e ele foi arremessado pelo ar.
Ele ouviu o ruído de suas queridas caixinhas de música se espatifando na queda e os uivos sufocantes dos lobos, e soube que era uma questão de tempo até que ele também caísse e fosse destruído. Mas eis que seu corpo despencando parou de repente. Erguendo o olhar, viu que sua queda havia sido impedida por um galho baixo. Ele ficou pendurado pela roupa, sem poder fazer nada.
Livrando-se dos últimos pedaços de seus arreios de couro, Philippe deu um coice em um dos lobos com a pata traseira. Ele viu seu dono pendurado em uma
árvore e correu para baixo dela. Gong não perdeu tempo. Esticou o braço e se soltou do galho. Quando caiu sobre o dorso do cavalo, deu um grito de eia!,
ordenando que o animal avançasse.
Conforme eles corriam pela floresta, ele se agarrou à crina de Philippe.

Os lobos os seguiram, com os olhos furiosos e famintos e bocas abertas que revelavam os dentes afiados.

Gong pensou ter visto algo de relance com o canto do olho. Poderia haver algum tipo de estrutura… um refúgio seguro neste lugar desolado? Um instante depois, ele soube que não estava imaginando coisas: um gigantesco portão
ornamentado, coberto de gelo, apareceu de repente adiante. Eles dispararam naquela direção, e o portão se abriu ligeiramente. Philippe o atravessou. A ponta
de seu rabo mal havia acabado de passar quando os portões se fecharam. Atrás
deles, os uivos dos lobos se transformaram em ganidos medrosos, até que desapareceram totalmente quando as criaturas se foram.

Se Gong não tivesse acabado de escapar com vida e por pouco de uma alcateia de lobos, ele provavelmente pararia para analisar o sumiço repentino dos
bichos, ou mesmo o estranho portão, que se abriu e fechou sozinho. Ele também
se perguntaria como um castelo tão grande e adornado como aquele que se erguia à sua frente poderia surgir no meio do nada. Naquelas condições, entretanto, ele não parou para pensar no assunto. Em vez disso, avançou com Philippe na direção do enorme castelo e quem quer que morasse ali.

Gong guiou Philippe até lá, então desmontou depressa e o conduziu para dentro do estábulo. Parou sobre a soleira e observou ao redor. Parecia um
estábulo normal o suficiente.

— Água, feno fresco — constatou, acariciando o animal.

— Parece que você está acomodado, velho amigo. Descanse aqui. — Ele olhou de volta para o castelo logo além e comentou: — Enquanto isso, vou cumprimentar nosso anfitrião.

A Bela e a Fera (Jeongyeon e Jihyo)(Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora