CAPÍTULO 16

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Os outros espiaram pela janela limpa. Sana estava certo. Não era Jihyo quem vinha pela floresta e retornava para Jeongyeon. Era uma multidão! E, pelas expressões, uma multidão furiosa. Os aldeões abriram caminho até o portão do
castelo e atravessaram a ponte até a colunata. Um homem alto e forte montado em um grande cavalo preto liderava o grupo. Ele se dirigiu à turba, sob os olhares da equipe do castelo, que espiava pela janela.

— Peguem todos os tesouros que quiserem! — gritou ele. — Mas Jeongyeon é minha!

A equipe engoliu em seco de pavor. O que iriam fazer? Nayeon sabia exatamente o que ele tinha que fazer. Ele precisava alertar Jeong. Deixando os outros para formarem uma pequena e triste barricada na porta da frente, Nayeon seguiu para a torre. Ela saltitou e balançou o caminho todo por doze lances de escadas e longos corredores até finalmente chegar à varanda. Olhando ao redor, ela tentou encontrar Jeongyeon entre as gárgulas de pedra da balaustrada. Finalmente, avistou-o empoleirado próximo à outra ponta. Sua. cabeça estava abaixada e seus ombros, curvados.

Nayeon limpou a garganta.

— Oh, me perdoe, mestre — disse ela com nervosismo.

— Deixe-me em paz — retrucou Jeongyeon, sem se dar ao trabalho de erguer os olhos.

— Mas o castelo está sendo atacado — disse Nayeon com urgência.

Jeongyeon ainda assim não levantou a cabeça, mantendo seu rosto oculto na escuridão. Quando falou, sua voz estava se rasgando de dor.

— Não importa mais — disse ela tristemente, enfim erguendo a cabeça. Seus olhos marrons penetrantes estavam perturbados e cheios de lágrimas presas. — Apenas deixe que venham.

Nayeon estava farta. A empregada calmo, paciente e leal se fora. Ela havia passado anos demais presa naquele corpo de relógio para ver seu mestre desistindo agora. Ele tinha assistido Jeongyeon jogar fora sua única chance de ser feliz e permitira sem dizer uma palavra. Mas não mais. Agora ela iria dizer o que pensava.

— Por que lutar? — disparou ela. — Por que será?! Para que fazer algo sanguinário afinal? — Nayeon segurou o fôlego e esperou que Jeongyeon dissesse algo, qualquer coisa, em resposta. Mas tudo o que ele fez foi abaixar a cabeça de novo.

Com um suspiro, Nayeon se virou e começou a longa caminhada de volta ao saguão. Parecia que os membros da criadagem estavam por conta própria.

— Tenho que avisar Jeongyeon…

Jihyo olhava ao redor freneticamente. Suas mãos estavam cerradas e seus olhos transmitiam turbulência enquanto ela procurava desesperada um jeito de escapar
daquele espaço restrito. Não havia como. A janela era pequena demais e coberta de barras, e a carruagem estava trancada por fora.

— Avisá-la? — perguntou Gong, confuso. Ele estava largado em um canto. O velho homem parecia pior do que quando era um prisioneiro de Jeongyeon no castelo. Suas roupas estavam esfarrapadas e seu cabelo se arrepiava em todas as direções. A palma de suas mãos estava ralada pelas quedas e a exaustão pesava
sobre os ombros do homem. — Como você escapou dela? — Até onde Gong sabia, Jihyo estava sendo mantida prisioneira pela mesma Jeong que agora queria proteger.

Jihyo parou de andar em círculos. Ela se virou para o pai e segurou suas mãos.

— Ela me deixou ir, papai — disse ela. — Ele me enviou de volta para você.

— Não entendo.

Alcançando a pequena bolsa que tinha trazido do castelo, Jihyo puxou o chocalho com o formato de rosa. Gong o reconheceu de imediato. Suas mãos começaram a tremer quando Jihyo lhe contou como Jeongyeon a levara para o Japão e mostrara seu antigo lar. Gong pegou o chocalho e o passava de uma mão à outra quando foi atingido pelo significado daquilo: que Jihyo sabia.

— Jihyo — começou ele —, eu tive que deixar sua mãe lá. Eu não tinha
escolha, tinha que salvar você…

— Eu sei, papai. Eu entendo. — Os olhos gentis de Jihyo encontraram os dele. — Você vai me ajudar agora?

Gonf lutou para segurar as lágrimas que ameaçavam escorrer de seus olhos. Sua filha sempre fora tão cuidadosa e misericordiosa. Ele apenas não sabia até então o quanto ele precisava de seu perdão.

— Mas… é perigoso — disse Gong.

— Sei que é — respondeu Jihyo com coragem. Ela esperou que ele discutisse, mas seu pai simplesmente sorriu e assentiu. Ele uniu as palmas.

— Bem, então — disse ele enquanto olhava ao redor da pequena cela da carruagem —, parece que temos de encontrar um jeito de sair daqui para que você possa salvar sua Jeongyeon.

Jihyo sorriu.

— Obrigada, papai. — Então seu sorriso se desfez. — Mas eu já verifiquei. Não há saída.

Gong balançou a cabeça. Se ele tinha aprendido alguma coisa com o passar dos anos, era que sempre havia uma saída. Ele fitou através da pequena janela para o cadeado na porta da carruagem. Seu mecanismo não parecia tão diferente do de algumas de suas caixinhas de música.

— Acho que eu seria capaz de abrir o cadeado se ao menos tivesse…

Gong deparou com o grampo que Jihyo estava segurando diante dele. Lá estava ela, antecipando cada uma de suas necessidades. Eles trocaram sorrisos.

O homem começou a trabalhar para abrir o cadeado. Quando finalmente soou o clique da liberdade, eles empurraram lentamente a porta.

— O que está esperando? — sussurrou Gong para a filha. — Vá!

Lançando-lhe um sorriso de gratidão, Jihyo disparou pelo centro da aldeia, sem parar para ver se Jooyoung a avistara.

Ela chegou até Philippe e pulou nas costas do cavalo. Com um chute forte no grande animal, ela puxou as rédeas e o guiou para fora da aldeia. Pelas costas, podia ouvir o grito raivoso de Jooyoung e a comemoração animada de seu pai.

Inclinando-se para a frente, Jihyo apressou Philippe. Eles não tinham tempo para celebrar aquela pequena vitória. Precisavam voltar para o castelo. Enquanto galopavam através das árvores densas, Jihyo torcia para que chegassem a tempo. Ela não queria imaginar o que Daniel e sua turba sedenta por sangue poderiam fazer ao ficar cara a cara com uma Jeongyeon maior que tudo que eles já viram. Então seus pensamentos se desviaram para Momo, Sana, Nayeon e a pequena Chaeyoung, que estariam indefesos contra a multidão.

A Bela e a Fera (Jeongyeon e Jihyo)(Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora