Por dias escutei as batidas na porta, se quer sabia dizer quem era, deixei de ir nas aulas, já sabia que de qualquer jeito não iria ser expulsa, dei graças por ter comprado uma boa quantidade de comida para pelo menos um mês, e naquele quarto minúsculo eu fui atrás das respostas que tanto buscava, eu tanto evitava aquilo, não queria me descobrir, não queria ter que lidar com a ferida que já estava cicatrizada — ou estava convencida de que estava.
Tive que abrir meu coração de uma forma que nunca pensei que faria, tive que deixar a dor entrar e tomar conta, tive que me convencer de que seria melhor se eu sentisse. Sentisse tudo que estava acumulado a anos e anos.
Os dias aumentavam e eu continuava trancada, voltei a ter paralisia do sono quase todas as noites e várias crises de pânico e ansiedade.
Me sentia caindo no precipício."Achamos que estamos voando. Quando já estamos caindo."
As pessoas só notam que estão caindo, quando estão perto do chão.
A noite já havia chegado, me negava a pegar no sono, não queria ter pesadelos, não queria ter que conhecer a parte mais obscura de mim.
Não queria ter que ver as pessoas que tanto me machucaram, que tanto me traíram, que tanto me mataram.
O dia chegou depressa, meus pensamentos nunca paravam, parecia uma chuva de emoções, não sabia lidar com um tsunami de memórias.
Mas eu tinha, porque só então, poderia tomar uma decisão por mim.
Tirei a maldita caixa do armário, precisava reler os momentos dolorosos para saber oque queria, já se faziam dias, talvez semanas e não havia dado notícia alguma a ninguém.
Lágrimas rolavam enquanto eu lembrava de cada momento que passei no meu inferno pessoal.
Parecia se repetir em minha frente, a pequena Mi Suk, frágil como uma pluma, enquanto era pisoteada por pessoas cruéis, enquanto permitia ser pisada por essas pessoas, enquanto permitia ser fraca.
Mi Suk nunca foi forte, sempre foi uma criança no corpo de uma adulta enquanto fingia ser dona do mundo e de si própria.
A dor no peito me consumía, as lágrimas se negaram a rolar, se negaram a cair, mas minha boca soltava pequenos gritos dolorosos, como um pedido de ajuda.
O espelho me mostrava a vergonha, não conseguia se quer tomar uma decisão, tentei me preencher de lembranças boas, todas ao lado do meu pai.
Ele sempre me apoiou e foi ótimo para mim, me tirou quando pôde das pessoas que nos faziam mal, me protegeu e me deu do melhor.
Não seria crueldade escolher os meninos ao invés dele?
Minha mente martelava e concordava, novamente, estava dando ouvidos a razão, eu tinha que retribuir tudo que ele já havia feito por mim, em comparação aos meninos, ele havia movido mares e montanhas por mim.Decidi ficar o restante do dia na cama, tudo que poderia fazer era ficar lá, deitada, enquanto pensava na escolha que eu já havia tomado, me sentia uma pessoa egoísta por não ter certeza de minha decisão, porque escolheria pessoa que apareceram a um ano? Porque não escolheria meu pai, que me salvou em diversas situações? Perguntas me rodeavam, sentia falta da adolescência, quando o maior problema que eu tinha era minhas notas baixas e músicas tristes.
Eu se quer lembrava mais de como era ser criança, poder me divertir, poder aproveitar um tempo com alguém, tudo era facilmente dramatizado, mas a beleza aumentava aos nossos olhos. Um bom tempo que não fui capaz de aproveitar.Mais um dia se passou, estava com olheiras péssimas e estava com a marca do cobertor no rosto, tomei algumas pílulas energéticas, não poderia me dar ao luxo de dormir.
Foi a primeira vez em dias, que tive coragem para sair do quarto, estava com roupas desarrumadas e cabelo despenteado e lá estava meu pai, desfilando pelos corredores da empresa com um par de agentes ao seu lado, o mesmo veio ao meu encontro.— Filha! Tomou sua decisão?
Perguntou, senti a garganta secar e concordei, ele sorriu, ele sabia o resultado, ele havia planejado tudo.
— Que ótimo, você pode ir ao 6º andar no quarto 329? Comprei roupas novas, me encontre no escritório geral.
Disse o mesmo passando por mim como se nunca tivesse partido, ele estava diferente, não parecia ser o mesmo, seus cabelos brancos já estavam começando a parecer e ele parecia mais inchado, suspirei o vendo desfilar pelos corredores com seu humor magnífico e seu narcisismo.
Subí algumas escadas, naquele ponto, nem via mais problema em subir alguns pares de degraus, pensava que poderia subir eternamente e quem sabe, poderia arranjar uma saída daquela vida, era a decisão que eu havia tomado, não tinha nada de errado nisso, certo?
As roupas eram ridículas, não faziam meu estilo, enquanto eu gostava de blusas longas, calças justas e um par de tênis qualquer do armário, lá estava uma blusa branca justa, com uma saia preta e um par de saltos pretos, me sentia uma secretária, talvez as secretarias fossem até mais estilosas do que aquilo, e poderia até ser que ficassem melhor do que eu, já eu, me sentia um saco de batatas.Voltei a descer aquele inferno de escadas, se quer conseguia andar com aquele sapato, não vestia algo que eu gostava, estava vestindo por ele.
Me direcionei ao seu escritório, que eu se quer sabia que era dele, e entrei, o mesmo me recebeu com um sorriso extenso, parecia gostar de me ver naquele traje — ridículo. O mesmo sorriu e voltou a assinar alguns papéis, eu estava lá apenas de enfeite.— Pai?
Perguntei, ele tirou os olhos do papel e me olhou, não parecia entender a situação.
— Sim?
Ele me encarava, pisquei algumas vezes tentando manter a postura e a paciência no lugar.
— Hum, oque estou fazendo aqui?
Perguntei levantando o canto dos lábios, tentei forçar um sorriso, mas era provável estar parecendo uma psicopata naquele momento.
— Eu te disse, certo? Estou preparando você para tomar o meu lugar na empresa.
Disse como se fosse a coisa mais simples do mundo, eu se quer tinha vontade de ficar com a empresa, eu nem havia trabalhado duro por aquela empresa, me sentia como se roubasse o lugar de alguém que realmente merecia.
— Oque eu deveria fazer?
Perguntei enquanto me abraçava, me sentia desconfortável e ele com a maior certeza do mundo já havia notado, ele ignorou.
— Você pode me observar, ser minha guarda por um tempo, até que eu passe a liderança para você.
Concordei me calando, observei de longe oque o mesmo fazia, não queria passar a vida atrás de uma cadeira enquanto assinava papéis que não iriam me levar a lugar nenhum, e respeitava aquelas pessoas que conseguiam ser felizes fazendo esse tipo de trabalho.
— Se quiser pode ir tomar um ar.
Disse o mesmo, concordei, era sufocante ficar em uma sala tão silenciosa e era naqueles momentos que eu lembrava de como eu e os meninos eram barulhentos com nossas risadas, sentia saudade da risada escandalosa do Hyuka e das conversas sentimentais com o Taehyun, sentia falta de conversar sobre qualquer coisa com o Soobin e sobre apreciar a voz do Yeonjun, sentia falta de ajudar Beomgyu com dicas bobas.
Sentia falta de uma amizade e daqueles momentos divertidos entre nós.Ao sair da sala, tive que respirar algumas vezes e me manter estável, alguns guardas estavam na porta, como se "protegessem" meu pai e lá estava eu, ao lado deles, como se fosse mais uma que queria protegê-lo.
Naquele momento, vi os cinco garotos se aproximarem, meu pé falhou mas me mantive em pé, dei um passo para trás e os guardas deram um passo à frente.
— Vocês não estão permitidos a entrar na sala do dono da empresa.
Disseram em uníssono, estava atrás dos mesmos, me sentia a protegida, sendo que eu não precisava de proteção.
Os garotos trocaram olhares de desconforto e depois me encararam, como se me esperassem, abaixei o olhar, não poderia olhar os mesmos nos olhos, parecia que quem estava traindo a confiança deles era eu.
Me virei para entrar na sala, quando escutei a voz do Beomgyu.— Você se esqueceu oque somos? Esqueceu quem você é?
Perguntou, a verdade, é que eu nunca soube.
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Obrigada por lerem até aqui, já está chegando no final, prometo que um dos membros vai tocar o coraçãozinho dela, então continuem lendo, espero que estejam vendo da mesma forma que eu e espero que gostem do final.
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𝐑𝐮𝐧 𝐀𝐰𝐚𝐲 [🌊]. txt, Soobin.
Fanfiction- Nunca suponha, supor nos faz parecer idiotas. O encarei com dúvida, não sabia ao certo onde ele gostaria de chegar. - Está vendo essa cadeira? Apontou e concordei. - Você acha que ela ainda vai estar aqui, nesse mesmo lugar, amanhã de manhã? Con...