Steiner, IV

9 4 0
                                    

" Mesmo eu não tendo mais contato com a Bea; você, a Su e o Berk ainda me preservavam. Vocês ainda me mantinham incluído como um de vocês. Nos encontramos algumas vezes, saímos em outras, mesmo não sendo mais todos juntos. Mas eu via, eu sentia e esse é o ponto. Vocês deveriam ter me excluído junto com ela se queriam continuar sendo o que são. Porque eu errei grandemente. Por uma segunda vez. E quando eles resolveram chegar na minha porta, o que eu senti recaiu sobre vocês. "



____________________



25 de Fevereiro de 1939

 Eram cinco da tarde mas o dia já começara a anoitecer. Pouca neve caia naquele fim de tarde mas o vento intensamente gelado do inverno ainda corria pelas ruas de Viena.  Voltando do armazém, Aloys resolve passar na loja de Susanne e Wael.— Ei, Ally, nesse frio por aqui? — diz Susanne que estava arrumando as coisas pra fechar a loja.  Eles vendiam roupas sociais, eram belos ternos por sinal. E assim como os itens que vendiam, a loja deles também era muito bonita, e arrumada. — Aproveitei o fim de expediente pra chamar meus amigos favoritos da minha IMENSA lista de amigos pra um negócio, cade o Wael?— "IMENSA", sei sei, como se eu não conhecesse você — eles riram — Wael...tá lá em baixo — aponta pra porta no fim da loja. Eles tinham um porão na loja, um dos poucos da rua de lojas. Aloys parece ouvir conversa vindo da porta, e a voz do Wael se aproxima, subindo degraus.— Ahh, maninho! — diz Wael. De algum jeito parece desconsertado ao olhar o porão quando fecha a porta.— Quem ouve isso pensa que você é mais velho. Mas talvez seja com essa sua cara derrubada.— Seus olhos tão maus, talvez eu precise socar eles.— Que amorosos vocês — diz Su, cortando os dois —, amor, seu maninho querido veio chamar a gente pra algo.— Hmmm, o que tem pra gente Ally?— "Amor" — Aloys faz uma carinha de deboche pra eles —, então, garanti um negócio fino pra gente, um Hennessy, tá cheio ainda, juro que não tomei nenhum gole.— Nossa, esse conhaque é caro, tá gastando tanto é?— Digamos que foi um amigo meu.— Aprendeu a fazer amigos foi? — disse Wael.— Pensei algo parecido nestante ein — disse Su.— Sim engraçadões, eu sempre fui muito amigável. Então, tá no carro. Vou pegar e a gente vai pro porão e bebe jogando conversa fora. Su e Wael se entreolham enquanto Aloys fala.— No porão não vai rolar. Ta.. Tá cheio de coisa lá. Isso que eu tava fazendo, arrumando direito.— E tá um cheirinho de roupa velha. — disse Susanne, torcendo o nariz.— E desde quando a gente liga pra essas coisas? Diz aí, tão com visita? Ouvi uma voz na hora que você tava subindo.— Visita? Pleno inverno? Tá louco, só é isso mesmo. — disse Wael.— Hmm, ok ok — disse Aloys cerrando os olhos — tá, então vamos lá em casa, depois levo vocês.— Tá ok, só vou levar esses papéis pra lá pra baixo também — disse Wael olhando Susanne rapidamente.— Falta esse amor. Não pode esquecer de entregar. — disse Susanne pegando um que estava perto do balcão que Aloys estava encostado.— Enfim, dois minutos.

 Aquele papel. Tinha uns cadernos por cima, anotações de vendas. Mas as três palavras que ficaram a mostra deixaram a intriga em Aloys que tinha lido momentos antes. As três que ficaram fixadas na sua mente." Amorosamente, Beatrice Kaiser."

— Então, vamos entrando nesse carro? Tá um frio insuportável. — disse Aloys.— Vamos vamos, meu deus, esse inverno não acaba. — disse Wael enquanto entram no carro.— Vamos esquentar ele com conhaque, olha ele aqui. — Aloys pega a garrafa no banco do lado e inclina pro fundo.— Então esse é o bendito Hennessy do seu amigo. — disse Su.— MEU Hennessy.— NOSSO Hennessy — disse Wael. Eles riram.— Hmmm, uma garrafa com o selo do bendito partido nazi? Que a Beatrice não saiba as coisas que andamos bebendo. Quem é esse teu amigo mesmo ein? — disse Su.— É... é um velho conhecido de vendas, ele só me deu a garrafa, okay? Quer me convencer a entrar, mas eu não entrei, relaxem.— Não falamos nada aqui. — Wael e Su se entreolham, de novo. — Nem pensei que você entraria. Nem teria porquê pensar, teria? Um leve silêncio acontece.— Não né. Não vou entrar.— Então dá pra acelerar isso ai? Essa garrafa tá me chamando. — disse Su. Eles seguem até tarde, eles e a garrafa de Hennessy. Numa das poucas ocasiões que tiveram até o fim.



A Morte escreve Vida Onde histórias criam vida. Descubra agora