Dois

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James

   A única coisa que podia ver ou ouvir, eram as labaredas crepitando sob as madeiras postas na lareira diante de mim.

   Nada parecia ter mais sentido; tudo em minha vida, não passava de uma completa desordem. Estava sozinho. Completamente sozinho...

   — James! Ouviu o que acabei de dizer-lhe?!

Desviei os olhos da lareira para o homem sentado à minha frente, com uma expressão brava no rosto. Meu pai.

   — Ouvi, pai.

Ele arqueou uma sobrancelha.

   — Então? Promete que irás concordar e agir de acordo com o combinado?

Suspirei, inclinando-me na poltrona, apoiando meus braços sob minhas pernas.

   — Deixe-me ver se compreendo: estás pedindo-me que concorde com um casamento arranjado com uma completa desconhecida?

Meu pai bufou.

   — James, estás distorcendo a situação.

   — Ah, estou? — estreitei os olhos—, então explique-se, pai. Qual a verdadeira razão por trás de tal pedido?

Meu pai levantou-se da poltrona, cruzando os braços sob o peito numa pose autoritária.

   — Estou tentando cuidar de você, James.

Sorri amargamente.

   — Não. Não está. A única coisa que importa-se é com a sucessão do ducado de nossa família. Não minta para mim, pai.

  Eu sabia que era esta a verdade; Harold White não dava a mínima para seu filho, ou  qualquer pessoa que não fosse si mesmo.

  Ele avaliou-me atenciosamente, com sua pose habitual de superioridade. Cada olhar direcionado à mim, era dotado de repreenda.

  — Já faz dois anos, James. Tens de superar.

Cerrei as mãos em punhos.

Hipócrita.

  — Digo o mesmo à você, pai. — levantei-me, ficando diante dele — já faz 06 anos, papai. Supere.

Imediatamente, o rosto de meu pai tensionou, fazendo com que sua expressão ficasse dura e suas sobrancelhas se unissem.

  — Não ouse mencionar a morte de seu irmão! Aquilo foi... 

  — ... Um acidente. Eu sei. E é exatamente por isso, que tenho de adverti-lo: não sou Dylan, pai.

Ele abriu um sorriso debochado.

  — Isto é perceptível. Dylan era um candidato perfeito à sucessão do ducado. Ele era um homem forte, de honra...

  — E infelizmente, não encontra-se mais entre de nós, então sinto em ter de avisá-lo, mas tens apenas à mim.

Ele ergueu o queixo.

  — Exatamente, James. Tenho apenas à você então cabe à você e apenas você, cuidar do que restou de nossa família.

Deixei  as mãos caírem ao lado do corpo, em desolação. Apesar de não concordar com todos os seus métodos e argumentos, meu pai estava certo. Restava apenas à mim, o dever de cuidar de nossa família.

Ainda assim... De quê adiantava uma vida sem ela, à meu lado?

Apertei a cicatriz posta sob meu pulso esquerdo, ainda sentindo a dor dilacerante em meu corpo.

Neste momento, algo passou-se por minha cabeça: Claro. Como não havia pensado nisto antes?

Olhei para meu pai.

  — Este casamento que você está planejando, é uma forma de controlar-me, não é, pai?

Ele franziu o cenho.

  — Não estou compreendendo-o, James.

  — Mas é claro que sim! Como pude ser tão bobo? — apontei para ele —, o casamento é apenas uma forma de manter-me nos eixos, não? Uma forma de manter-me vivo, não é?

Papai desviou os olhos para o chão, comprovando minha hipótese.

Toda a coisa do casamento não passava de uma amarra posta à mim, para que permanecesse vivo. Mas isto não tinha relação alguma comigo; Meu pai queria que me casasse o quanto antes, para dar-lhe um neto e   consequentemente, um sucessor para o ducado White. Afinal, era apenas com isto que ele importava-se.

Balancei a cabeça, ainda incrédulo.

   — Inacreditável, Harold White. Continuas sendo o mesmo manipulador de sempre.

   — Muito pelo contrário, James. Estou pensando no seu futuro! No futuro de nossa família!

Passei por ele, começando à dar-lhe as costas.

   — Claro, continue repetindo isso, se o faz sentir-se melhor consigo mesmo.

A mão dele tocou meu ombro, imedindo-me de avançar.

   — James... Prometa-me que vai cooperar...

Permaneci imóvel e em sublime silêncio.

   — Se não vai fazer isso por mim... — suspirou —, faça por sua mãe.

Virei-me bruscamente, com a simples menção à minha mãe.

   — Não ouse meter minha mãe nisto!

   — Estou certo de que se ela estivesse em condições, estaria de acordo comigo, James. É o melhor para todos nós. E você sabe.

Dei-lhe as costas novamente, caminhando até a porta da sala. Aquele cômodo parecia ter sugado todo o ar de meus pulmões.

Errado, pai. Se minha mãe estivesse em condições, tudo seria diferente. Tudo...

Aceite meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora