Onze

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James

   Inclinei-me no guarda-corpo da sacada de meu aposento, admirando a espetacular vista que aquele local proporcionava-me. De onde estava, conseguia visualizar cada uma das casas de Longsford; era um privilégio cedido à mim, por morar no topo da colina.

   Já fazia um dia desde que Victoria havia mudado-se para minha casa; período que revelou-se ser realmente tranquilo e relaxante, devido ao fato de que ela estava seguido à risca, as minhas "orientações": passava o dia trancafiada em seu aposento e só a via, nos momentos em que compartilhávamos a mesa, durante as refeições.

   Bocejei, tendo noção do quão cedo estava. Não passavam das 5 horas da manhã, quando havia despertado. A insônia era algo comum, desde a morte de Elsa, mas agora estava deplorando-se cada vez mais.  O motivo de tal acontecimento, era óbvio: a mulher que dormia no aposento ao lado do meu. Por mais que tentasse negar, a presença dela não era tão insignificante assim.
Na realidade, a presença daquela mulher atormentava-me, fazendo ter recordações de um passado que aquela altura, mais parecia uma fantasia.

Desviei os olhos das montanhas salientes, para o andar de baixo, onde alguns lacaios já estavam à seus postos, cuidando da vigilância da casa. 

Estreitei os olhos, assim que notei uma cabeça loira, caminhando calmamente pelo que restava do jardim da casa; o semblante de Victoria estava evidenciando sua tristeza: seus ombros estavam caídos, seu cabelo desarrumado, além de estar enrolada em uma manta.

Franzi o cenho.

Que tipo de pessoa usava uma manta como agasalho?

  Certamente Victoria estava tendo problemas para acostumar-se com o clima de Longsford. Pelo que percebi, Hethersfild era um vilarejo ensolarado e quente, diferentemente daqui, onde os céus estavam quase sempre cobertos pelas nuvens e o ambiente era normalmente revestido pela neblina.

  — Ela é realmente encantadora, não?

Virei-me bruscamente, vendo meu pai com um sorriso no rosto. Ele havia regressado ontem à noite de sua viagem à Petersburg, um vilarejo próximo á nossa cidade e infelizmente, não havia perdido o hábito de aparecer sem ser solicitado.

  — Pai, como entrou aqui?

Ele arqueou uma sobrancelha ironicamente.

   — Pela porta.

Bufei, dando-lhe as costas e voltando o olhar para a vista diante de mim. – especificamente para a mulher que caminhava pelo jardim.

Meu pai seguiu meu olhar e de soslaio, pude perceber um sorriso em seus lábios.

   — Soube que estás portando-se terrivelmente mal com Victoria.

   — Parece que Marilyn continua sendo uma tremenda fofoqueira.

   — Não, ela está apenas cumprindo seu trabalho, que é cuidar de você.

Bufei.

   —  Claro pai, se é nisto que acredita, quem sou eu para discordar?

Meu pai permaceu em silêncio e ambos tornamos à apenas observar Victoria, que por sua vez, tremia desavergonhadamente devido ao frio.

  — Eu sei o que está fazendo, James.

Ignorei seu comentário, ainda inclinado sobre o guarda-corpo, observando a jovem no andar de baixo. Victoria passou as mãos por debaixo da manta e de lá, retirou uma trouxa velha, que apertou contra o peito.

Meu pai observou-me atentamente.

   — Você está afastando-a propositalmente.

Olhei para ele.

Aceite meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora