Victoria
Fechei a porta atrás de mim, apenas à tempo de ver Bertha, nossa subordinada – a única que restou –, saindo apressada de nossa sala.
— Bertha? O que aconteceu?
Ela ergueu o queixo, revelando o rosto vermelho e molhado, repleto por lágrimas.
— Oh, senhorita Victoria... Sinto muito. Sentirei tanto a falta de vocês...
— Sentir a falta? Do que...
Papai surgiu neste momento, com algumas malas sob suas mãos. Sua testa franziu assim que viu-me.
— Victoria! O que estás fazendo aqui tão cedo?
Ignorei sua pergunta e apontei para as suas mãos.
— Pai, o que está acontecendo? Porquê Bertha está indo embora?
Ele suspirou e deu último olhar para a mulher em questão, que em segundos, saiu da sala carregando consigo suas bagagens.
— Eu a demiti, Victoria.
— O quê? Porquê? Papai, Bertha está conosco há anos! Como pôde...
— Porque não tenho dinheiro!
Pisquei, ainda incrédula por tal comentário.
— Estamos falidos, Victoria...
Papai deixou-me cair no sofá atrás de si, totalmente desolado. Me pus de imediato, à seu lado.
— Como... Como isto ocorreu, papai?
Ele suspirou, fitando seus pés.
— Usei todas as nossas economias para quitar a dívida do tratamento de sua mãe, filha. E por fim... Tive de hipotecar nossa casa....
— O quê isto quer dizer?
— Que temos apenas alguns dias até podermos encontrar um lugar para morarmos... Perdemos nossa casa, filha!
Suspirei, inclinando-me para abraçá-lo e afugentar toda a sua dor.
Estávamos falidos. Como não pude prever que isto aconteceria? Presenciei de perto, a quantidade absurda de dinheiro que meu pai disponibilizou para o tratamento de mamãe. O pior de tudo, era que foi tudo em vão. No final das contas, não conseguimos salvá-la...
Afastei meus braços de papai, tomando distância suficiente para poder fitá-lo com atenção.
A expressão no rosto cansado de meu querido pai, era de partir o coração; – literalmente. Seus cabelos grisalhos já escassos estavam desgrenhados, e seu rosto magro e gentil, estava envergonhado e triste.
— Papai... — toquei seu rosto, fazendo-o fitar-me —, cuidaremos disto. Não há com quê preocupar-se.
— Como, querida? Você e sua irmã são o que tenho de mais precioso e não quero vê-las passando por apertos por minha causa...
Apertei sua mão.
— Nunca mais diga isto. Mamãe estava doente e você... Apenas fez o possível para ajudá-la a reerguer-se, papai. Não culpe-se!
Os olhos verdes de meu pai– antes já marejados – estavam agora repletos por lágrimas.
— Oh, Victoria! Minha Victoria! — disse ele, enquanto enlaçava-me em seus braços.
— Daremos um jeito, papai. Verônica e eu podemos cuidar dos afazeres de casa, enquanto você...
— Devo procurar um emprego? — suspirou —, filha, já estou velho e creio que ninguém irá contratar-me...
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Aceite meu coração
Historical FictionDuologia Recomeços - Livro 01 No auge de sua juventude, Victoria Jones pensava já estar ciente de todos os seus planos para o futuro. Fato que altera-se abruptamente, no momento em que ela descobre sobre a lastimável situação financeira em que sua f...