Três

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Victoria

   Fechei a porta atrás de mim, apenas à tempo de ver Bertha, nossa subordinada – a única que restou –, saindo apressada de nossa sala.

   — Bertha? O que aconteceu?

Ela ergueu o queixo, revelando o rosto vermelho e molhado, repleto por lágrimas.

  — Oh, senhorita Victoria... Sinto muito. Sentirei tanto a falta de vocês...

  — Sentir a falta? Do que...

Papai surgiu neste momento, com  algumas malas sob suas mãos. Sua testa franziu assim que viu-me.

   — Victoria! O que estás fazendo aqui tão cedo?

Ignorei sua pergunta e apontei para as suas mãos.

   — Pai, o que está acontecendo? Porquê Bertha está indo embora?

Ele suspirou e deu último olhar para a mulher em questão, que em segundos, saiu da sala carregando consigo suas bagagens.

  — Eu a demiti, Victoria.

  — O quê? Porquê? Papai, Bertha está conosco há anos! Como pôde...

   — Porque não tenho dinheiro!

Pisquei, ainda incrédula por tal comentário.

   — Estamos falidos, Victoria...

Papai deixou-me cair no sofá atrás de si, totalmente desolado. Me pus de imediato, à seu lado.

   — Como... Como isto ocorreu, papai?

Ele suspirou, fitando seus pés.

   — Usei todas as nossas economias para quitar a dívida do tratamento de sua mãe, filha. E por fim... Tive de hipotecar nossa casa....

   — O quê isto quer dizer?

   — Que temos apenas alguns dias até podermos encontrar um lugar para morarmos... Perdemos nossa casa, filha!

Suspirei, inclinando-me para abraçá-lo e afugentar toda a sua dor.

  Estávamos falidos. Como não pude prever que isto aconteceria? Presenciei de perto, a quantidade absurda de dinheiro que meu pai disponibilizou para o tratamento de mamãe. O pior de tudo, era que foi tudo em vão. No final das contas, não conseguimos salvá-la...

Afastei meus braços de papai, tomando distância suficiente para poder fitá-lo com atenção.

   A expressão no rosto cansado de meu querido pai, era de partir o coração; – literalmente. Seus cabelos grisalhos já escassos estavam desgrenhados, e seu rosto magro e gentil, estava envergonhado e triste.

   — Papai... — toquei seu rosto, fazendo-o fitar-me —, cuidaremos disto. Não há com quê preocupar-se.

   — Como, querida? Você e sua irmã são o que tenho de mais precioso e não quero vê-las passando por apertos por minha causa...

Apertei sua mão.

   — Nunca mais diga isto. Mamãe estava doente e você... Apenas fez o possível para ajudá-la a reerguer-se, papai. Não culpe-se!

Os olhos verdes de meu pai– antes já marejados – estavam agora repletos por lágrimas. 

   — Oh, Victoria! Minha Victoria! — disse ele, enquanto enlaçava-me em seus braços.

   — Daremos um jeito, papai. Verônica e eu podemos cuidar dos afazeres de casa, enquanto você...

   — Devo procurar um emprego? — suspirou —, filha, já estou velho e creio que ninguém irá contratar-me...

Aceite meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora