Quatorze

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Victoria

  Mudei novamente o lado da cama, fazendo com que os lençóis que cobriam meu corpo escorressem pelo lado da cama, caindo no chão.

Bufei, erguendo-me pelos cotovelos.

   Minha ausência de sono devia-se ao fato de não conseguir falar com James o dia inteiro. Logo após a discussão esquisita que tive com seu pai, esperei no lado de fora do cômodo, como me foi pedido. Em questão de minutos, uma das criadas surgiu, solicitando a minha presença para a escolha do cardápio do jantar – fato que era um "dever" de uma White – e acabei tendo de seguí-la. Quando retornei ao escritório, uma hora depois, a porta estava trancada e nenhum sinal de James. E assim permaneceu, até mesmo no horário do jantar – no qual tive de fazer a refeição sozinha, já que nenhum de meus "acompanhantes" estava disposto.

Há apenas algumas horas atrás, Marilyn havia dito-me que Harold havia pedido-a que me informasse  que a quantia do acordo seria  destinada amanhã mesmo, para meus familiares.

Um detalhe importante, era que o próprio James, havia convencido seu pai à cumprir com as exigências do acordo. E por esta razão, sentia-me no dever de agradecê-lo, por seus atos generosos à cerca de mim e meus familiares.

  Pus-me de pé, e peguei a lamparina, saindo discretamente de meu aposento. Precisava de um copo de leite para apaziguar a insônia. – era um hábito que eu havia desenvolvido desde criança, no combate contra a insônia.

Engoli em seco, no momento em que abri a porta e visualizei aquele corredor assustador, submerso à escuridão. Ergui a lamparina com uma das mãos, enquanto apertava a fita de meu robe, com a outra.

Como já era esperado, aquela casa possuía uma quantidade absurda de aposentos, o que apenas servia para aumentar o percurso até as escadas que davam acesso ao andar de baixo.

Caminhei lentamente por alguns minutos, até parar, quando notei que  um dos vários aposentos estava iluminado pelas luzes de velas.

Estreitei os olhos e segui rumo à tal aposento, sentindo-me uma verdadeira mariposa, sendo atraída pela luz. 

   Encostei-me sorrateiramente na soletra da porta, passando os olhos por cada centímetro daquele quarto – que aparentemente estava vazio. Já ia sair de lá, quando ouvi o som de uma risada.

Segui o som e vi uma senhora sentada próxima ao quarda roupa do quarto; ela ria, enquanto tricotava algo, que identifiquei como um... Gorro de bebê?

Observei atentamente aquela senhora, com sua expressão cansada e aparência maltrapilha: seu cabelo estava revestido por fios esbranquiçados, adornados por uma trança que descia ao decorrer de suas costas. Havia algo no rosto dela, que lembrava-me muito James...

De repente, a mulher olhou na minha direção e soltou o tricô, arregalando seus olhos em completo horror. Senti-me constrangida imediatamente, tendo em vista que estava "bisbilhotando" aquela mulher.

Soltei calmamente a lamparina e ergui as mãos, na tentativa de demonstrar que não havia perigo algum, o que acabou tendo efeito contrário, pois a mulher levantou-se, parecendo completamente horrorizada. Seu peito começou a  subir e descer irregular, suas mãos tremiam e seus olhos arregalaram-se ainda mais.

Ao invés de ordenar que eu saísse de seu quarto como o esperado, a mulher gritou. Gritou tão alto, que creio que tenha acordado até mesmo os roedores da casa;

Em questão de segundos, os sons de portas sendo abertas ecoaram por meus ouvidos. Permaneci imóvel, sem realmente compreender nada;

   — Mãe! — disse uma voz bem familiar às minhas costas.

Aceite meu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora