Quinze

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James

  
  — Dylan... Para onde estás levando-me?

Suspirei, unindo meus braços aos da senhora à meu lado, ajudando-a à descer as escadas.

   — Você irá fazer um passeio com papai, mãe.

Ela franziu a testa e sorriu.

   — Com Harold...?

Assenti, segurando seu braço que estava unido ao meu com força, para que ela não tropeçasse.

  Ainda era difícil acreditar no que estava acontecendo. Não conseguia acreditar que minha mãe estava partindo de sua casa – a casa na qual sempre gabou-se possuir– para sempre. Recusava-me à pensar muito no assunto, já que caso o fizesse, não conseguiria controlar-me; deixaria a tristeza dentro de mim tomar conta, o que era definitivamente, o oposto do que estava tentando fazer.

   Assim que pusemos os pés no segundo andar, vimos alguns lacaios carregarem as bagagens de minha mãe, para fora da casa, onde uma carruagem já estava à sua espera.

Ela piscou algumas vezes, parecendo confusa.

   — Dylan, e o fantasma? Se Harold e eu fomos passear, você vai ficar sozinho com o fantasma...

Delicadamente, afastei meus braços do dela, virando-me de modo à ficar diante dela. Toquei ambos os lados de seu rosto, depositando logo em seguida, um beijo em sua testa. Passei os braços em torno dela, abraçando-lhe apertado.

   — Eu te amo mãe. — sussurrei ao pé de seu ouvido esquerdo, ainda a mantendo prisioneira por entre meus braços.

  Surpreendentemente, as mãos de minha mãe contornaram meu corpo, retribuindo o abraço.

  — Eu também o amo, meu filho.

Fechei os olhos com força, sentindo seu aroma e perdendo-me em seu abraço. O abraço que a tanto tempo não sentia.

  Relutante, dei um passo para trás, vendo o rosto confuso de minha mãe, coberto por algumas lágrimas. Parecendo também surpresa com o feito, ela tocou o rosto, secando as lágrimas com os dedos enrugados.

   — Ora, porquê estou chorando...? — perguntou ela.

Para mim, aquele simples gesto emocional significava alguma coisa. Talvez aquelas lágrimas fossem apenas o reflexo de que a antiga Josephine White, ainda estava ali dentro.

Os dedos de minha mãe tocaram meu rosto, secando algumas das lágrimas relutantes que ali jaziam.

  — Porquê estás chorando, Dylan?

Peguei suas mãos e as uni às minhas, beijando-as. Mamãe apenas piscava, parecendo completamente imersa ao que estava ocorrendo diante de si.

  — James... Está na hora. — disse uma voz detrás de mim. Era a voz de meu pai.

Sequei rapidamente as lágrimas em meu rosto e soltei as mãos de minha mãe. Papai tocou meu ombro, apertando-o num movimento consolador.

  — Ficará tudo bem, eu prometo. — disse ele, no momento em que passava por mim e unia seus braços aos de sua esposa.

Permanecemos os três em silêncio, durante todo o percurso que se deu até a entrada da casa – onde uma carruagem já estava disposta, aguardando-os.

Meu pai ajudou minha mãe à subir na carruagem, sendo o cavalheiro que era e em seguida, ao invés de entrar na carruagem como pensei que faria,  virou-se para mim e deu aquele olhar. O olhar. Eu sabia o significado daquele olhar. Aquele era o mesmo olhar que ele havia usado na cerimônia de enterro de Dylan, o mesmo que esboçou quando descobriu sobre a doença de minha mãe, e era também, o mesmo olhar usado por ele, quando encontrou-me com o pulso esquerdo cortado. Era a forma dele de lutar contra as lágrimas. De não demonstrar vulnerabilidade. Era a maneira usada por Harold White, para não exibir suas fraquezas.

  Ergui uma das mãos e acenei para a carruagem que já partia na estrada de chão de nossa propriedade. No segundo em que notei que a carruagem já estava sumindo por entre a paisagem, virei-me, no intuito de sufocar-me com a minha própria dor.

Entretanto, ao girar nos calcanhares, foi o rosto bravo de Victoria, que vi. Ela desviou seus olhos de mim, para o portão da propriedade – que por sua vez, estava sendo fechado pelos lacaios da casa.

Desvencilhei-me dela, com o intuito de entrar na casa, mas no momento em que o fiz, ela deu um passo para o lado, assumindo novamente, sua posição anterior: à minha frente. Suas sobrancelhas franziam, à medida em que seus braços eram postos sob o peito.

   — Lor... James, o que está acontecendo? — apontou para o portão — Porquê sua mãe e seu pai acabaram de sair?

Suspirei.

Não queria falar sobre isto. Não agora. Precisava ficar sozinho.

  — James. — tornou à dizer ela —, o que está acontecendo? Podes explicar-me, por favor?

Bufei, olhando no fundo de seus olhos castanhos. Havia algo de diferente neles. Com toda certeza. Ou talvez... Eu nunca tivesse notado que os olhos dela tinham adornos dourados, no eixo de suas iris.

  — James! Estou falando com você! Exijo respostas! Eu também moro aqui!

Suspirei.
Que mulher teimosa...

  — Meus pais foram à Londres.

  — Londres...? Mas porquê? O que foram fazer lá?

  — Foram especificamente ao hospital psiquiátrico Rosewood.

Victoria arregalou os olhos.

  —  Sua mãe...

  — ... Será internada lá.

Ainda de braços cruzados, Victoria lambeu seus lábios, ao mesmo tempo em que franzia levemente a testa.

  — Quando ia contar-me, James?

  — Contar-lhe o quê?

  — Sobre a condição de sua mãe! Não achas que tenho o direito de saber? Por Deus, ela estava aqui o tempo todo e e-eu nem sabia...

Suspirei.

  — Victoria, está frio. — toquei seu ombro, incentivando-a —, Vamos entrar.

Ela desvencilhou-se de meu toque num movimento brusco, chamando a atenção de todos os empregados que executavam suas funções no jardim.

  — Não! Estou farta das suas desculpas! Estou farta de ser ignorada nesta casa! — deu um passo à frente, olhando no fundo de meus olhos —, serei sua esposa, James. Preciso saber e... Entender o que está acontecendo na casa... com você. Preciso que converse comigo, James. Que confie em mim.

Abri e fechei a boca, sem encontarar as palavras certas.

Cumplicidade, diálogo e confiança.
Os pilares essenciais de um relacionamento.
Eram exatamente tais coisas, que minha noiva estava à cobrar de mim. E era meu dever, cumpri-los.

Victoria piscou, ainda aguardando por minha resposta em evidente expectativa.

Pigarrei, desviando o olhar para o lado.

  — Victoria, eu a compreendo perfeitamente. Mas devo dizer-lhe que agora... Não estou sentindo-me disposto. 

Victoria franziu as sobrancelhas, prestes à protestar contra minha declaração.

  — Victoria, por favor...

Aquele pedido bastou para fazê-la dar um passo para o lado, abrindo caminho para que eu passasse. Não tive coragem de olhar nos seus olhos, enquanto praticamente fugia dela.

Victoria precisava de mais. Muito mais do que estava disposto à oferecê-la. Ademais, ela estava certa. Agora, seríamos apenas nós dois e consequentemente, teríamos de nos dar bem.

Mas como poderia fazê-lo, se sempre que a via, era á outra mulher que recordava-me?

Não era justo. Não era certo.

Precisava esforçar-me para poder fazer nosso casamento dar certo. Mas hoje não. Hoje, precisava ficar sozinho. A solidão era a única forma encontrada por mim, para suportar a dor pela ausência de minha mãe...






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