James
Uma semana.
Hoje completavam exatos sete dias desde que Victoria havia partido. Acabei por sentir mais saudade dela, do que gostaria de admitir.Sentia falta da presença dela naquela casa. Sem ela, pude notar o quão silenciosa e solitária, era a mansão White. Era assustador como não pude perceber– mesmo morando lá durante anos –, como precisava fazer algumas mudanças naquele ambiente.
Mudanças claras haviam ocorrido: começando pelas cortinas escuras, que foram substituídas por novas em tons mais claros; o carpete mofado havia sido alterado, e até mesmo alguns dos móveis da mobília, haviam sido trocados.
Virei mais uma página do livro que estava lendo e no momento em que o fiz, ouvi o som dos cascos de cavalo no andar de baixo. Dei um longo suspiro. Sabia exatamente quem era.
Há apenas alguns dias, atrás, havia enviado uma correspondência à Londres, destinada à meu pai. Ele precisava saber a verdade sobre o acordo. Ainda que parte de mim, estivesse completamente arrependida naquele momento.
Em questão de minutos, a porta de meu aposento foi aberta de forma brusca. Suspirei.
— James White, o que diabos você pensa que está fazendo?
Larguei o livro na poltrona e ergui-me, indo até o homem visivelmente bravo.
— É muito bom ver você também, pai. Como está minha mãe?
Ele estreitou os olhos.
— Não tente mudar de assunto, James. Como você pôde desfazer o contrato? Você tem noção de quanto dinheiro tive de dar para Richard Jones?!
Suspirei.
— Como se dinheiro fosse algum problema para nós...
— Não interessa se temos muito dinheiro! Não pode sair por aí, fazendo caridade! Eu trabalho duro para manter esta casa e ter todo o dinheiro que possuímos!
— Eu sei, pai. Mas não achei justo deixá-la partir sem... recompensá-la pelos dias em que permaneceu aqui. Ademais, o pai dela realmente precisava do dinheiro, não podia simplesmente ordenar que me devolvesse o dinheiro!
Papai suspirou, massageando as têmporas enquanto caminhava em círculos.
— Tenho de admitir que foi um ato nobre mas, como faremos a sucessão? Você não pode desistir...
— Não irei desistir, pai.
Minha declaração chamou atenção de meu pai, que parou abruptamente seu "trajeto circular", fitando à mim com atenção.
— Como assim...?
— Não irei mais fugir de meus deveres e obrigações, pai. Assumirei o título, assim como nos foi confirmado.
Papai piscou e foi nesse momento que notei um brilho em seu olhar. Era... Orgulho?
— Não sabes como alegra-me saber disto, meu filho. Você... Finalmente está reerguido. Mas como faremos para selecionar uma noiva, em tão pouco tempo?— Nada de noivas. Não irei casar, pai. É a minha condição.
Ele piscou.
— M-Mas James... E quanto ao herdeiro...? Como faremos para...
— Não irei casar-me, pai. E consequentemente, nada de herdeiros. Farei o que estiver ao meu alcance para honrar e cuidar dos negócios de nossa família; usarei todo o meu empenho, e enquanto me houver vida, cuidarei de cada centímetro dos territórios White. Mas nada de casamento.
Papai assentiu.
— Certo... Parece-me justo.
Desviei os olhos, dando-lhe as costas e voltando à poltrona para pegar meu livro.
— Ora, ora... Isto é totalmente inesperado.
Ergui o olhar do livro, vendo meu pai observar o espaço vazio onde costumava jazer o retrato de Elsa.
Um sorriso passou por seus lábios, à medida em que desviava seu olhar novamente até mim.
— Quem diria que você se livraria do retrato de Elsa.
— Não "me livrei" dele, pai. Mandei como um presente para os Hollowell. Acredito que eles gostarão muito.
— E a quê deve, tal ato inesperado?Voltei o olhar para o livro diante de mim, ignorando a pergunta feita por meu pai.
Infelizmente, meu silêncio pareceu responder por si, só, já que meu pai desatou-se à gargalhar.— Victoria Jones, não é? Quem diria! Não posso acreditar que aquela moça foi realmente capaz de fazer-lhe tirar Elsa da cabeça.
Permaneci em silêncio.
— James... responda-me, porquê Victoria não está aqui? Por qual motivo ela teve de partir?
Finalmente, ergui os olhos do livro.
— Porque eu a liberei do contrato, pai.
— E porquê fizeste tal coisa?
— Porque ela quis. Ela... descobriu sobre Elsa e obviamente, ficou brava. Declarei meu amor à ela, mas não pareci suficientemente verdadeiro, já que ela não acreditou.
— Certo... Que situação a sua meu filho! Mas, diga-me estás realmente seguro quanto à seus sentimentos à cerca de Victoria?
Demorei alguns instantes, até respondê-lo.
De fato, questionei-me diversas vezes quanto à verdade por trás de meus sentimentos. Agora, somente agora, pudia perceber que não era mais de Elsa, que sentia falta; era de Victoria.
Por anos, passei cada segundo da minha vida martirizando-me pela perca de Elsa, mas depois que conheci Victoria... Percebi que o amor não estava perdido para mim. Aos poucos, Victoria foi conquistando um local especial em meu coração.
Eu a amava. E não por sua aparência. Eu a amava, pelo que ela despertava em mim: o meu melhor.— Sim, pai. A amo.
Ele assentiu, fitando-me com um misto de tristeza e piedade.
— Jamais pensei que o veria apaixonado novamente, meu filho.
Abri um meio sorriso.
— O amor é completamente surpreendente.
Ele riu.
— De fato. — seu sorriso ampliou-se—, sua mãe está bem, à propósito. Ela disse que está amando a instalação e o antedimento do hospital psiquiátrico.
Assenti, aliviado.
Seguimos conversando por horas, à despeito de minha mãe; perguntava-me como faria, quando meu pai tivesse de mudar-se para Londres. Mas de todo modo, deveria adequar-me a vida que aguardava-me como duque de Calangner.
Depois de dois anos, havia aprendido a lição: não desistiria de minha vida novamente. As dores do amor, tornariam-me mais forte não o contrário.
Buscaria uma forma de seguir sem ela, mesmo que todo o meu ser implorasse que fosse atrás dela...
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Aceite meu coração
Historical FictionDuologia Recomeços - Livro 01 No auge de sua juventude, Victoria Jones pensava já estar ciente de todos os seus planos para o futuro. Fato que altera-se abruptamente, no momento em que ela descobre sobre a lastimável situação financeira em que sua f...