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        Eu não deveria ter ficado, não deveria estar aqui na cama dela, assim como não deveria estar chorando no seu colo, mas não consegui me controlar desde o início. Claro, como já é esperado, perco minha resiliência quando se trata dela.

    Não sei o porque, mas é fácil demais me entregar à sua presença, toques e carinhos; é fácil demais querer que seja ela a me consolar, a me ver assim, apesar de odiar ter que mostrar esse meu lado ferrado, posto que quero impressioná-la mais que tudo, quando, na verdade, deveria me manter longe para o seu próprio bem. E, cacete, estou tão cansado de resistir, de reprimir tudo, de alimentar essa guerra interna que nunca tem fim entre mim e essa maldita voz interior que não silencia e que promete um esquecimento enganador e sufocante.

   Não queria arrastá-la para isso, mas olha onde me encontro encolhido e chorando pela primeira vez depois de tanto tempo, colocando para fora as outras vezes que quis fazer e não fiz, arrebentando com cada soluço, espasmo e gemido o que cimentei dentro de mim. E sabendo que, quando amanhecer e minha cara estiver desfigurada por conta do inchaço, provavelmente vou me arrepender ainda mais e vou querer fugir.

   Mas isso não é novidade, posto que é isso que faço com todos a minha volta, principalmente, com o meu melhor amigo, o cara que ia me visitar todos os fins de semana na reabilitação, trazendo sempre consigo aqueles podrões que a gente tanto curte; o cara que ia me procurar madrugada a dentro, preocupado com meu sumiço de dias; o cara que diz as coisas certas para o que estou passando, sem eu ter falado absolutamente nada (sério, chega a ser uma parada mediúnica); o cara que já se meteu em tanta merda por minha causa; e o cara que não reagiu a nenhum soco que dei, e que ainda disse que estava tudo bem, mesmo depois de dias desacordado no hospital. Como um cara como ele quer um amigo, que faz tanta merda e traz tanto estresse como eu?

  Até quando vou deixar essa porra orquestrar minha vida?

  Até quando vou precisar assistir o sorriso aliviado e decepcionado de Hoseok?

  Será que é falta de empenho suficiente? Mas, cacete, eu venho tentando tanto, tanto, tanto e mesmo assim nunca basta?

   Tem dias que nem quero levantar da cama e tem outros que não consigo ir para ela; será que minha vida vai ser sempre resumida nisso, em dizer não todos os dias, quando, na verdade, é muito mais fácil ceder? Eu tenho tentado todas as coisas que me dizem para fazer, meditação, terapia, me ocupar, mas há sempre esse buraco persistente e agoniante, do qual eu digo para mim mesmo que não existe, que não está lá, mas está.

   Todos dizem entender o quanto é difícil o que estou passando, mas, na verdade, não sabem o que é ter que lutar contra si mesmo todos os dias, quando o seu cérebro vira essa coisa que mendiga por todas as merdas já colocadas no seu sistema. Eles não sabem a agonia, o mal-estar, o sufoco, a falta de perspectiva, o abismo, o anestesiamento das dores antigas e das novas. Eles não conhecem esse tipo de solidão, onde você tem que se auto combater, onde você mesmo é a pior companhia na qual pode estar. Eu sei que eles não dizem isso por mal, sei que querem o meu bem, mas mesmo assim é uma luta que eles jamais entenderão por completo, a menos que passem.

   A verdade é que eu estou cansado de lutar, cansado de gritar contra mim mesmo por todas as vezes que fiz o sorriso do meu melhor amigo diminuir, assim como estou cansado de me sentir um lixo e de ver o sorriso decepcionado de todos que já "compreendem" a minha recaída. Estou exausto de decepcionar a todos! Por isso agora estou chorando, porque mais uma vez Jungkook vacilou, mesmo depois de se empenhar tanto e prometer para si e para todos que não os fariam se preocupar novamente.

   Não tenho nem coragem para encará-los, principalmente Hoseok. O que vou dizer a ele? Desculpa mais uma vez? Mesmo que eu diga, depois de tantas vezes que já o fiz, não vai parecer sincero. A palavra já virou uma banalidade saindo da minha boca, até para mim.

Uma noite. //// JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora