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É manhã, eu sei, porque o sol entra pela janela e bate na minha cara como de costume. Porém, há uma pequena diferença, ou melhor, quase 1,80m de diferença dormindo na cama com a luz também batendo nele. Diferente de mim, Jungkook não se incomoda, já que continua entregue ao sono, enquanto está com a cabeça no meu peito e agarrado do jeito que pode a mim.

Não reclamo, porque no fundo eu acordei até sorrindo por causa disso, apesar do peso do seu corpo e da posição, que tive de manter por mais tempo do que meus músculos gostariam. Entretanto, tenho que me levantar para fechar essa cortina, já que não sei por quanto tempo Jungkook permanecerá indiferente a esse holofote no rosto e, sinceramente, depois de ontem, a última coisa que quero é acordá-lo sem necessidade.

É um trabalho complexo, do qual tenho que me arrastar com jeito pela cama e deslizar membro por membro seu de cima de mim, observando minuciosamente para ter certeza de que não o acordei. Consigo depois de achar que meu trabalho foi em vão umas duas vezes, pois o adormecido se remexeu incomodado, mas no final consegui fechar a bendita cortina.

Eu me aproximo novamente da cama, para tocar discretamente sua testa e respiro aliviada, porque a febre dele parece ter melhorado.

Graças a Deus, menos um problema.

Permito a mim mesma esse prazer proibido de acariciar um pouquinho seu cabelo despenteado, o admirando com os lábios entreabertos e a bochecha esmagada contra o travesseiro, que é o meu substituto nos seus braços. Ele é tão adorável que até dá vontade de dar uns beijinhos na sua bochecha disponível, mas me contenho, afinal os desabafos da madrugada e o fato de termos dormido agarrados, praticamente, respirando a alma um do outro, não significam que tenho essa liberdade.

Se orienta, garota.

Levanto logo, antes que eu ceda a esse impulso e o acorde, vou para a cozinha e preparo um chá, procurando o que fazer para me manter ocupada e ignorando a vontade quase maníaca que tenho de ir para o quarto e ficar o observando babar no meu travesseiro. E, enquanto a água ferve, me lembro de ontem, dele com a voz embargada, tentando controlar as lágrimas que desciam involuntariamente durante o meu sono fingido. Acho que depois do relato de Brie, esse foi o mais doloroso que já presenciei... Jungkook estava com tanta dor, tão frágil que teve um momento que não consegui fingir mais.

Embora toda a densidade emocional de ontem, agora consigo entender um pouquinho mais de como ele funciona e chego em uma conclusão que até assusta: Brie e Jungkook são muito parecidos. Esse comportamento de afastar quem gosta e de criar uma postura forte que nada mais é que um disfarce... Agora compreendo melhor o porquê de Brie me querer distante dele e não é só pela cena horrível que ela teve que impedir, mas porque se enxerga nele mais do que gostaria.

Brie também tem um passado problemático, um do qual não gosta nem de mencionar, eu só sei porque passei por essa época com ela, então entendo o porquê de seus sermões, o porquê de seu receio. Porém, existe uma diferença, Brie estava mais no papel de Hoseok e aquele verme do seu ex estava no lugar de Jungkook.

Sinto até um calafrio subir pela espinha só com a breve lembrança daquele monstro. Ele marcou Brie de tantas formas que é até surpreendente que ela não tenha sucumbido... Lembro até hoje do dia que me ligou chorando e dizendo que não aguentava mais, que não queria abandoná-lo porque ele precisava dela, mas que não queria mais aquilo. Daí por diante foi uma luta para afastá-lo dela, de fazê-lo aceitar o que para ele não tinha sentido e, pior ainda, foi trabalhar a mente de Brie para entender que não era responsável pela reabilitação dele, assim como mostrá-la que merece ser amada e respeitada. E, nesse sentido, devo a Hoseok toda a minha gratidão, por, finalmente, mostrar a Brie como merece ser tratada.

Uma noite. //// JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora