15

199 20 25
                                    

    A madrugada passa e me perco nas suas explicações do porquê de cada tatuagem que possui no braço e dos seus futuros planos para outras. Ele me conta sobre a frase de um dos poemas de Poe - “And all I loved, I loved alone” - tatuada na face interna do antebraço, a sua primeira tatuagem. 

- Foi a primeira vez que me senti compreendido por alguém, sabe? Como se Poe tivesse passado pelas mesmas coisas. - diz perdido em pensamentos, olhando para o teto do quarto, no qual as luzes da rua e de alguns carros passando são refletidas. -  Foi por isso que comecei a gostar de literatura. Era uma forma de não pensar, de desconectar de tudo ao meu redor e de ser entendido. 

      Eu não digo nada, só deixo que ele fale. Admiro cada detalhe do seu perfil, enquanto está distraído nas próprias lembranças. Observo seu nariz gordinho de silhueta um pouco curva, sigo para os lábios bem desenhados e rosados que, quando ele está triste ou tímido, faz um biquinho bem suave. Depois volto minha atenção para os seus olhos, dos quais conseguem alternar entre inocentes e intensos, e que se tornam meia luas adoráveis com aquelas bolsinhas abaixo e ruguinhas ao lado se destacando quando sorri. 

        Jungkook é a mistura perfeita do cara gostoso com o cara fofo, chega até ser inacreditável olhá-lo agora e querer enchê-lo de beijinhos por ser tão adorável, enquanto há pouco tempo atrás queria sentar nele. É bem doido se for parar para pensar… Uma única pessoa me desperta das duas formas, como pode? Para além disso, como consegui esbarrar com essa combinação incrível que ele é? Porque, até então, tinha perdido as esperanças (se é que eu as tinha) de achar um XY que fosse me fazer sentir essas coisas. Ai, ai, como as coisas mudam… 

- Marrentinha? - ele chama, provavelmente me pegou babando por ele. - Está tudo bem? 

- Uhum. - afirmo de pronto. - Só dispersei um pouco, mas estou ouvindo, pode continuar. - dando um beijinho na sua bochecha, só para matar essa vontade doida e para disfarçar um pouco a minha distração. 

       Jungkook se aconchega mais e desconsidera meu lapso de atenção, continuando a me explicar as motivações por trás das outras tatuagens, como da Barbara e do Adam Maitland de Os fantasmas se divertem, na qual estão naquela versão assustadora dos rostos transfigurados. 

- Era o meu filme favorito quando pequeno e passava na TV aberta. E os dois são os personagens mais legais do filme. - ele explica me mostrando a tatuagem que recobre uma parte do braço. 

- Eram mesmo. - concordo distraída contornando os traços da imagem. 

        Fico aliviada por ele não ter tatuado o idiota do Beetlejuice, já que, normalmente, é a preferência das pessoas ao fazerem tatuagem com a temática do filme. E o pior que as pessoas que a fazem acham super legal, vai entender. 

- Você tem vontade de fazer alguma, marrentinha? - pergunta curioso, enquanto admiro suas outras tatuagens.

- Não sei… Nunca tive nada significativo que quisesse no meu corpo… - falo pensativa, porque realmente nunca encontrei algo que quisesse ter gravado no meu corpo pelo resto da vida. 

        Até me pergunto como funciona para as pessoas, como elas sabem o que tatuar em si mesmas e como elas têm certeza se é isso que querem. 

- Hum… Tem medo de ficar arrependida? 

- Talvez… Você não tem? Mesmo com todos os significados por trás das suas? - viro o meu rosto para captar sua expressão de breve reflexão que é substituída logo depois por um sorriso. - O que foi? - um sorriso também desponta no meu rosto. 

- É engraçado, porque eu tenho vergonha de quem sou, mas não tenho das minhas tatuagens que representam justamente isso. Só agora que fui reparar. - ele dá um riso amargo ao dizer.

Uma noite. //// JjkOnde histórias criam vida. Descubra agora