Capítulo 24 Um Dia de Domingo

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E aquele domingo parece que nasceu mais lindo do que todos os outros; e o nosso primeiro programa foi ir a praia, muito previsível pra quem mora no litoral, e lá fomos nós, a praia estava bem cheia, o clima quente convidava para um banho de mar, e o Martim insistiu que entrássemos no mar, esse foi um momento muito tenso, porque desde aquele "trágico" incidente eu nunca mais me atrevi entrar no mar, a princípio eu recusei de forma bem sutil! 

Até falei pra ele ir sozinho, e não deu certo ele falou que o combinado era passar o domingo juntos por isso queria muito que eu fosse... Pronto! Eu ia ter que entrar no mar... Mas eu estava com tanto medo! E como não teve como fugir eu resolvi me abrir com ele: 

— Martim, eu preciso falar algo contigo, é muito vergonhoso tocar no assunto, mas vamos lá! Senta aqui pra gente conversar! — sentamos na areia, olhando pro chão comecei a falar... 

— Há mais ou menos um ano, nessa praia e em um domingo eu tentei tirar a minha vida... A gente já conversou isso inclusive! Mesmo eu já tendo superado boa parte dessa história, nem tudo ainda está bem resolvido! E uma dessas coisas é que agora eu tenho muito medo do mar! — dei uma pausa, respirei fundo e senti a boca ficando seca, eu estava mesmo muito nervoso.

— Eu entendo! Depois disso você nunca mais entrou no mar? — perguntou me olhando com carinho. 

— Não! Nem no mar muito menos em piscina! E mesmo sabendo nadar muito bem, inclusive aprendi com o meu pai! Eu nunca mais tive coragem... — respondi ainda trêmulo diante da possibilidade de entrar no mar. 

Carinhosamente ele aperta a minha mão e fala: 

—Eu te compreendo bem, mas você precisa pensar que o seu medo nunca é maior que você! Não precisa sentir vergonha de nada! Às vezes uma grande guerra se vence com pequenas batalhas! — nessa hora ele se levantou e me puxou pelo braço — Agora vamos! Se levanta! Você já superou muita coisa, então vamos superar mais uma! É hoje que, pelo menos, um pouquinho você supera o seu medo do mar! Vamos confie em mim... Por favor! 

Atendi o seu pedido, ainda de cabeça baixa, e fomos caminhando devagar em direção ao mar, a princípio molhamos os nossos pés e ele sempre do meu lado! 

— Bom! Muito bom! Que tal aprofundarmos só mais um pouco? Vou ficar aqui do seu lado o tempo todo! Mas se sentir inseguro e quiser voltar é só me falar! — me disse com carinho na voz!
Dessa vez ficamos mergulhados até a cintura, ele me sorria transmitindo confiança, gradualmente o meu corpo foi se acostumando com a temperatura da água e fui ficando menos tenso e até comecei a brincar com as mãos na água. Ele sempre atento, percebeu isso e me lança mais um desafio! 

— Agora que você está mais calmo, vamos entrar até a água cobrir o seu pescoço, mas fique calmo! Eu não apenas estarei do seu lado, mas já que estaremos embaixo d'água, vou segurar a sua mão! Mas se você não se sentir a vontade voltamos para a parte mais rasa, Ok? — me perguntou num sorriso tentando me transmitir confiança. 

Balancei a cabeça dizendo que sim, e fomos caminhando devagar assim que a água do mar nos cobriu até o pescoço, ele segurou a minha mão, o meu coração foi se acalmando, o medo cedeu lugar a uma sensação leve de segurança e paz... Foi pensar que nessas águas que um dia eu me joguei pra morrer e agora nessas mesmas águas eu estou encontrando mais motivos pra viver! Não me segurei e comecei a chorar! Martim me olha assustado e me pergunta: 

— Está tudo bem? O que está acontecendo? Eu fiz algo errado? — me pergunta assustado. 

Entre lágrimas e soluços eu falo: 

— O que está acontecendo? Estou feliz, poxa! O que você fez? Você não imagina o bem que você me faz Martim! É do seu lado que estou vencendo uma das etapas mais difíceis da minha vida!  Agora apenas me diz, como não me apaixonar por você? 

— Estou sem palavras — ele apenas respondeu, ficando vermelho. 

Se não estivéssemos em um local público aquela hora do dia, teria lhe dado um enorme beijo. Mas apenas ameacei: 

— A sua sorte português é que estamos em um local público, senão eu ia te dar um beijo pra te deixar sem fôlego! Mas se preocupa não, a noite a gente resolve isso! — Falei sorrindo e ele me retribuiu o sorriso. 

— Tá bom, gajo! Agora chega de aventuras no mar! Vamos almoçar? — me convidou saindo da água. 

— Vamos sim, tem um restaurante ali pertinho, eu acredito que seria uma boa a gente almoçar lá! — respondi o seguindo. 

— Flávio, o programa hoje é todo planejado por mim, lembra? — me respondeu fingindo de bravo. 

— Ah Tá! Desculpa! — Falei meio sem jeito!

E saindo dali fomos a um restaurante japonês, que não ficava muito longe da praia, que servia uma comida maravilhosa... 

A curiosidade foi tanta que eu não resisti e resolvi perguntar: 

— E agora? O que faremos na nossa tarde de domingo? — pergunto não segurando a minha curiosidade. 

— Eu pensei em uma coisa bem legal! É uma coisa que eu nunca fiz! E não foi nada planejado, mas acredito que vai te ajudar a vencer o medo do mar! Mas tudo bem se você não topar! — diz pensativo. 

— Sim... Mas quer deixar de fazer "suspense" por favor? — insisto meio impaciente. 

— Vamos passear de lancha? — finalmente ele diz!

— Vamos sim, com certeza! Vai ser muito Legal! — falei sorrindo. 

O passeio foi maravilhoso! Como é linda a visão! Esse português sabe mesmo tornar um simples dia de folga em um momento inesquecível! 

Ele realmente estava encantado com tudo, me aproximei dele e falei: 

— Sorrindo lindo desse jeito, eu começo a acreditar que você está se divertindo muito! — brinquei com ele! 

— Pode apostar que sim! Isso até me fez lembrar da primeira vez que viemos a praia e você falou em velejar e sentir a brisa no rosto! É realmente uma sensação de liberdade incrível! — disse isso e abriu os braços, imitando o filme Titanic! 

— Tá gostando mesmo! É muito te ver tão feliz assim! — comentei. 

— Ah, seu te contar que esse lugar é um pedacinho do céu, você acredita em mim? — perguntou. 

— Acredito sim e sabe por quê? — não esperei que ele me respondesse fui logo dizendo — Porque foi um anjo que me contou! 

— Que anjo foi esse que anda te contando essas coisas? Já estou ficando com ciúmes desse anjo! — falou me provocando. 

— Ah é um anjo com os olhos mais lindos que eu já vi! Um anjo que todas as noites me leva pro céu! 

— Huuum! Eu vou é cortar as asinhas desse anjo! — disse isso e começamos a rir...
O passeio terminou estávamos cansados e resolvemos ir pra casa, por isso seguimos em direção ao hotel.

Pelo Mar e Por AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora