Pelo Mar e Por Amar

Capítulo 17 Uma Rosa Em Meu Caminho!

Amanheceu e eu me levantei bem devagar pra não incomodar, sai já pensando no que eu ia fazer pra noite! Já fui me encaminhando pra cozinha, ajudar a fazer o café da manhã, na verdade essa era uma das minhas tarefas que mais eu gostava!

Vejo a cozinha como um ambiente acolhedor e particularmente acho que cozinhar traz felicidade para as pessoas, juro acredito muito mesmo! Alguém já viu algum cozinheiro infeliz?

As cantineiras das escolas por exemplo, como elas são agradáveis, as melhores pessoas do mundo! Será que tem aquela coisa de alquimia? Onde a mistura dos ingredientes, o calor do fogo e o perfume dos temperos adoçam de uma certa forma a alma de quem prepara os alimentos?

Isso, eu não vou poder dizer com certeza, mas é fato que tudo o que eu aprendi a cozinhar foi gracas a nossa cozinheira, a Rosa, ela é uma pessoa simples, muito batalhadora, que começou como auxiliar e hoje manda em tudo da cozinha; é uma grande amiga o problema é que ela é muito fechada e as vezes é bastante complicado arrancar alguma coisa da boca dela!

Eu me sentei na mesa e comecei a descascar algumas frutas, enquanto eu pensava na maneira de preparar a surpresa dessa noite, mas percebi que eu ia precisar de ajuda!

A questão era como fazer isso sem despertar suspeita? Complicado! Mas resolvi arriscar levantei a cabeça e olhei para Rosa e perguntei:

—Rosa, você é cozinheira há muito tempo né?— puxando assunto.

—Sim, meu filho! Sempre trabalhei na cozinha e desse trabalho sustentei a minha família! Amo a minha profissão e faço com muito gosto! Mas porque essa pergunta agora menino?— me olhou desconfiada.

Eu sabia que não seria uma tarefa fácil! Mas, se eu não tentasse eu não ia conseguir... Então resolvi abrir o jogo com ela! Respirei fundo e comecei a falar:

—Sabe o que é Rosa, você sabe muito bem que eu gosto de cozinhar e tal, mas eu não tenho o seu talento! É que eu queria preparar um jantar surpresa para uma pessoa especial! Então eu pensei que...— não terminei a frase e ela me interrompeu:

—Já sei! Você quer que eu faça algo pra você e que você vai falar que foi tu mesmo que fez? Se for isso, já te adianto! Não Mesmo! Primeiro: que eu não tenho tempo pra fazer e segundo: nada de fazer bonito com o chapéu dos outros! Pode tirar o seu cavalinho da chuva! Que essa conversa mole comigo não vai colar!

—Calma Rosa! Não é nada disso, não! Na verdade sou eu que quero fazer o jantar! A graça é essa! Mas a questão é que eu queria um jantar romântico! E eu não tenho a menor ideia do que fazer... Me ajuda?— insisti porque eu sabia que ela ia ser dura na queda!

Nessa hora, Rosa interrompe o que está fazendo puxa uma cadeira e senta na mesa de frente pra mim, me olhando bem no fundo dos olhos e me fala:

—Menino, eu trabalho aqui há mais ou menos dez anos, e contando a minha experiência de vida também, eu posso te garantir que, quando se vai preparar um jantar dessa forma que você tanto quer, a comida meio que acaba em segundo plano sabe? O menos é mais nesse caso! O importante mesmo é situação entende?

Fiz que não com a cabeça, ela respirou fundo e recomeçou:

—Na verdade, o mais importante é o clima de romance! Deixa eu ser mais clara! Por mais simples que seja a comida, mas se for servida em uma bela peça de porcelana e belos talheres, se você usar velas e um bom vinho! Não vai ter erro! E isso tudo você tem a sua disposição, mas não vai me quebrar nada! Senão eu conto tudo pro seu pai!

—Calma! Eu sou responsável! Você mesmo sabe que eu sempre assumi os meus erros, nunca ninguém pagou o pato por mim...— falei ofendido.

—Sim, você está certo! Me desculpe!— falou meio sem graça— Olha nesses casos manda muito o capricho e a dedicação!

—Mas Rosa, me ajuda com um cardápio? Não quero fazer feio!— imploro.

—Tá certo! Oh, menino insistente! Vamos combinar, te indico o básico, simples e até chique! A minha sugestão é espaguete ao molho pesto, um bom vinho Vermentino, olha na adega tem um lá que é muito bom, mas reponha por favor, de sobremesa tem sempre um mousse na geladeira de prontidão, esse eu posso te ajudar! Agora a mesa toalha branca, velas e uma rosa vermelha! Deixa eu ver se eu não me esqueci de nada! Ah, leva preservativo!— disse começando a rir.

—Oh, Rosa me respeita! É só um jantar!—protestei ficando vermelho.

—Tá bom, me desculpa!— ela me respondeu ficando meio sem graça.

Na verdade eu não concordei muito com a sugestão e por isso insisti:

—Mas será que isso vai dar certo? Um jantar tão simples assim? Ele é bastante sofisticado...— interrompi a minha fala tapando a minha boca com a mão todo sem graça.

—Ele?!— perguntou Rosa demonstrando uma certa surpresa!

Pronto o estrago já havia sido feito! Mas saiu sem querer, não tive reação a não ser abaixar a minha cabeça e permanecer calado. Com o meu silêncio Rosa voltou a falar:

—Ok, garoto! Eu não nasci ontem, não! Eu já havia percebido, mas não tinha certeza e depois também eu não queria me meter na vida dos outros, ainda mais na vida de filho de patrão! Você me conhece muito bem! E sabe que não gosto de me meter na vida de ninguém! Mas também, eu não estou morta! Se ajoelhou agora reza! Quem é a sua paixão? É o português não é?

Apenas fiz que sim com a cabeça constrangido e pensando como eu fui bobo em deixar essa informação escapar. Nessa hora ela olhou pro nada como se estivesse longe... Então eu resolvi falar:

—Rosa por favor, não conta nada pro meu pai, por favor! O Martim vai ficar pouco tempo pro aqui, logo ele vai embora e tudo volta ao normal! Por favor?

—Flávio, por favor, fique calmo! Eu não vou falar nada pro seu pai, não! Mesmo eu não concordando com a sua atitude! É seu pai! Ele é um homem muito humano! Ele vai te entender... No início é complicado, mas ele é seu pai, um homem bom, justo e muito honesto.

—Mas eu tenho medo, Rosa! Não quero que ele se decepcione comigo! Basta o que ele já passou com a minha mãe! Vamos deixar desse jeito! É coisa de momento! Logo o Martim vai embora! Meu pai não precisa ficar sabendo! Pelo menos agora não! Por favor!?

—Sabe, Flávio, você é jovem! Tem muito o que aprender! Mas entenda uma coisa importante, pai e mãe também cresce junto com o filho! Se a situação é difícil para você, também é para o seu pai! Divide com ele, cresça junto dele!

—Como assim?— perguntei confuso.

—Deixa eu te explicar melhor, a minha filha mais velha a Ana Paula, você se lembra dela! Quantas vezes o seu pai deixou ela ficar aqui enquanto eu trabalhava! Vocês até brincavam juntos!

—Sei, me lembro dela sim! A gente passava o dia no videogame! Saudade dela!— sorri com a lembrança.

—Pois é! Ela já até falou que quer trabalhar aqui! Assim que terminar a faculdade! Ela é uma filha maravilhosa! Mas quando ela se descobriu... Quando ela percebeu que gostava de meninas, ela acabou me escondendo, eu entendo ela sabe? A educação que dei pra ela sempre foi rígida e eu sou muito religiosa! Na verdade a gente que é mãe e pai a gente sabe mas, no fundo, a gente não quer ver! Mas eu não descobri do melhor jeito e reagi da pior forma! Fiz de tudo pra “curar” ela, desde benzimento, exorcismo e até surra ela levou! Na minha ignorância fiz ela sofrer muito! E eu só me dei conta da besteira que eu estava fazendo quando ela disse que ia embora de casa!

Os seus olhos ficaram marejados, confesso que também chorei junto! Eu nunca imaginei que ia ver Rosa naquele estado, mesmo emocionada ela insiste:

—Ela antes de ir embora, falou que me amava muito e que não escolheu ser como era! Mas não sabia ser diferente, me pediu perdão por ser quem era e como era, e que estava só indo embora só pra não me ver mais sofrer!

—Isso é muito triste Rosa!— falei emocionado.

—Nessa hora, eu nem sei em quantos pedaços o meu coração se partiu, eu a abracei e apenas pedi pra ela ficar! Pra me perdoar, pra me ajudar a entender tudo o que estava acontecendo!— deu uma pausa pra enxugar as lágrimas — apartir desse dia eu procurei crescer junto dela! E por causa disso eu te garanto só uma mãe melhor a cada dia! Porque eu amo a minha filha do jeito que ela é! Eu me arrependo muito do que eu fiz! Eu errei e estou corrigindo o meu erro!

Nessa hora eu me aproximei, apertei a sua mão, e não falei:

—Eu tenho certeza de que a Ana tem o maior orgulho da mãe incrível que você é!

—Então meu filho! Eu sei o que você está passando! Sei que é difícil! Mas no final tudo se ajeita! Eu não sou como o seu pai, que é culto e inteligente! Ele vai entender, tenho certeza de que ele não vai fazer as mesmas besteiras que eu fiz! Então deixa ele crescer junto de você!? Não concordo, porém eu respeito a sua opinião e não é direito meu intrometer na sua vida desse jeito! Mas, eu posso ser muito franca contigo?

Apenas assenti com a cabeça, então ela continuou:

—Você está apaixonado e não é pouco não! Fazendo jantarzinho, querendo impressionar… E o português também gosta muito de você! Aprenda a ler os sinais! Nunca te vi tão feliz como estou te vendo agora! Por isso eu não creio que o que está acontecendo com vocês dois seja coisa de momento como você mesmo falou! A minha intuição não me engana! A história de vocês dois não vai parar por aqui, não! Mas tá bom... Vamos combinar o seguinte, vou te dar uma força nesse jantar! E pode ficar tranquilo que o seu segredo estará guardado! Descrição é comigo mesmo!— disse isso e piscou somente o olho direito!

—Tá certo! Obrigado de verdade! Me ajudou muito! Mas seria pedir demais, se eu te pedisse pra me ajudar a bolar um plano pra ele sair do quarto?— falei meio sem jeito!

—Oh minha nossa! Eu tenho que fazer tudo mesmo! Te ajudo! É fácil! Combina um programa, um cinema! Sei lá! E quando der a hora você estará todo arrumado! Inventa uma dorzinha e pede pra ele buscar na farmácia um remédio! Aí a gente entra em cena! Entendeu? Ou quer que eu desenhe?— Rosa me falou um pouco impaciente.

—Tá bom, Rosa! Pode parar de desenhar que eu entendi!— respondi contente com o resultado da nossa conversa.

Rosa se levantou da cadeira voltou aos seus afazeres e falou:

—Termina logo isso aí, que a gente tem muita coisa pra fazer hoje! E vai logo tomar o seu café que já tem gente te esperando!— falou sorrindo com a mão no coração me debochando.