Capítulo 27 Aeroporto "My Love Is Gone..."

169 21 242
                                    

Me joguei na cama, pensando no que eu fiz... Abracei o travesseiro e voltei a chorar... Não consegui dormir, a cabeça ainda doía muito, o meu corpo estava exausto, mas, mesmo assim, me levantei cedo de propósito, eu queria levar Martim no aeroporto, precisava saber como ele estava, na verdade, eu precisava era ficar do lado dele... 

Mesmo que fosse apenas só para vê—lo partir... Mas acredito que depois de ontem nem sei, acredito que ele nem quer mais me ver... Mas, ainda assim, eu precisava arriscar! Nos encontramos na recepção, ele já com as malas nas mãos, e eu mais que depressa me aproximo dele, antes que ele pedisse a recepcionista para pedir um táxi: 

— Martim, bom dia... Posso te levar no aeroporto? — pedi meio sem jeito. 

— Se não te atrapalhar... Será um prazer! — disse de forma muito educada, porém com um sorriso triste... 

Mais que depressa eu o ajudei com as malas e entramos no carro, a viagem seguiu em silêncio, mesmo ele sentando ao meu lado parecia distante... Foi aí que eu tive a brilhante ideia de ligar o rádio e o que eu começo a ouvir: "my love is gone..." desligo no mesmo instante, meu rosto ficou vermelho não tive coragem de dizer nenhuma palavra durante toda a viagem. Chegamos no aeroporto, estaciono, olho para ele e digo: 

— Espero que faça uma boa viagem... — mas ele me interrompe com um beijo! Que mesmo surpreso, eu não consigo recuar... Parecia que eu já estava sentindo no seu beijo o gosto da saudade... 

Depois do beijo fiquei um tempo alí, admirando o seu rosto, um rosto tão bonito, seus olhos castanhos agora tinham o mesmo brilho misterioso e triste da primeira vez que o vi; o seu queixo quadrado e forte harmonizava com seus lábios carnudos que mesmo forçando um sorriso demonstravam tristeza... Por mais que eu quisesse jamais o esqueceria, e aquela despedida era tão dolorosa! 

Saímos do carro entramos no aeroporto fiquei ao teu lado até na hora do embarque, quando ele me abraçou e se despediu me desejando felicidades, e isso só me fez pensa como eu seria feliz se a minha felicidade estava entrando naquele avião, e a medida que ele se afastava em direção ao embarque aumentava minha certeza de que eu estava ficando em seu passado... 

Voltei pro estacionamento, e ví o avião decolando, me tranquei no carro, abracei o volante e chorei feito criança! Nessa hora fechei os olhos pedindo para que uma tempestade surgisse do nada e impedisse aquele avião de voar, mas quando eu abri meus olhos o céu continuava sem nenhuma nuvem... Senti um aperto no peito, uma vontade de gritar, o ar me faltava, minhas mãos tremiam, a angústia e o desespero me consumiam... Martim se foi e eu não podia fazer mais nada! 

Agora era a hora de voltar pra casa, dei partida no carro e passei por algumas ruas, por onde passamos juntos, voltar pra casa nunca foi tão difícil... Passei pela orla da praia e estacionei o carro exatamente no mesmo lugar onde aconteceu o nosso primeiro beijo, fiquei por um tempo ali, como se o Martim fosse sair do mar, como foi naquela tarde... A lágrima escorre pelo meu rosto, oh! Meu Deus me diz que isso é só um sonho ruim! Me diz que eu vou acordar e o Martim estará do meu lado. 

Nessa hora sai do carro desnorteado, parecia que o meu corpo não acompanhava a minha mente, nada do que eu via parecia real e eu estava em um pesadelo, eu não sei por quanto tempo fiquei caminhando sem rumo pela praia, em um momento que comecei a olhar o mar e fui me aproximando bem devagar e mesmo sem tirar os sapatos comecei a molhar os meus pés, sei lá eu não estava raciocinando direito e fui caminhando devagar em direção ao mar molhando até os joelhos. 

Interrompi a minha caminhada, porque tive a impressão de que alguém chamava o meu nome, eu não sabia se era real até sentir um toque em meu braço e a voz estava bem mais próxima agora: 

— Flávio, que bom que te encontrei! — falou Rosa me abraçando. 

— Como você me achou? — Perguntei lhe abraçando de volta. 

— Você estava demorando muito e eu fiquei preocupada, pra não alarmar todo mundo, resolvi te procurar sozinha! Mas graças a Deus te encontrei! — falou respirando aliviada. 

— Ele se foi, Rosa! Agora não tem mais jeito — e comecei a chorar em seu ombro. 

— Calma meu filho! A gente vai resolver isso juntos! Vamos pra casa agora! Você precisa descansar! Vamos eu te levo! — me conduzindo pela mão. 

— Mas eu estou com o carro, Rosa! — respondi meio confuso. 

— Eu dirijo, vem comigo pro favor! — insistiu com carinho. 

Obedeci sem reclamar afinal eu tinha que voltar pra casa, o trajeto foi tranquilo e Rosa dirigiu sem parar de falar um só minuto, tentando me distrair, ela me deixou em casa e ainda fez questão de me acompanhar até o meu quarto. 

— Flávio, eu preciso muito ir! Então aproveita agora toma um banho, come alguma coisa e descansa! Daqui a pouco eu vou te ligar pra saber como você está! Por favor, fique bem e me atenda! Se não eu venho aqui com o seu pai. Combinado? — recomendou Rosa me olhando nos olhos e com carinho acariciou o meu rosto. 

— Pode deixar, Rosa! Eu vou ficar bem, eu prometo! Pode me ligar quantas vezes você quiser, eu atendo. Apenas não conta pro meu pai e nem pra Júlia! Se você contar eles vão ficar preocupados e não precisa disso! Eu vou me acalmar e vai dar tudo, por favor, confia em mim? — perguntei quase implorando. 

— Flávio, isso não está certo! E eu não deveria fazer isso! — Me responde coçando a cabeça. 

— Por favor, Rosa! — insisto quase chorando. 

— Eu vou confiar em você! Mas por favor, não me faça arrepender dessa decisão! Faz o que eu estou te pedindo, come algo, toma um banho e descansa e me atende todas às vezes que eu te ligar! Caso contrário o nosso acordo está desfeito! — o seu tom de voz era bastante sério. 

— Eu prometo! Você vai ver! Logo estarei bem melhor! — respondo tentando demonstrar uma confiança que eu não tinha. 

— Tá certo! Eu realmente preciso ir... Se cuidar, por favor! — falou me abraçando — E se precisar me chama! 

Concordei com a cabeça, retribuindo aquele abraço reconfortante, assim que Rosa se foi, corri pra tomar um banho bem demorado, não consegui comer nada... Me deitei na cama, liguei uma música bem calma, fechei os olhos e comecei a respirar de forma bem calma e controlada tentando recuperar o controle das minhas emoções. 

Rosa me ligou várias vezes até ter a certeza de que estava bem. Sabe eu não sei o que seria de mim se fosse esse apoio, que mulher incrível! Tanta coisa passou pela minha cabeça... Pensei no Martim, pensei que, no fundo eu realmente era igual à minha mãe, eu abandonei o Martim, mas foi pra não abandonar a minha família, pelo menos essa foi a justificativa encontrei naquela hora.

Pelo Mar e Por AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora