Capítulo 2 Sobre O Amor Da Minha Vida.

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E sobre o amor da minha vida? Boa pergunta! Mas não sei responder... Isso me faz sentir muito inferior aos meus amigos, porque todos já se apaixonaram, namoraram e até um deles já possui um filho e eu nada! Já cansei de ouvir piadinhas de que estou encalhado, ou que vou ficar pra titio, ou que eu deveria virar padre, "será que ele é?" e etc...

Sempre levei na esportiva todas essas brincadeiras mas, confesso que essa "será que ele é?" me incomoda bastante porque é muito nociva! Basta apenas o cara ser um pouco tímido ou não fazer parte da galera que essa piadinha surge! E pensar que eu também pratiquei tal coisa só pra não ficar de fora, sinceramente eu não me orgulho nem um pouco disso!

Ser diferente, às vezes, pode ter um preço bastante caro! Eu conheço bem essa situação, sempre fui apontado como o menino que a mãe abandonou... E não era fácil em todas as festinhas do dia das mães, saber que a minha mãe não ia aparecer e que como prêmio de consolação viria meu pai ou a Lurdinha!

Nessas horas eu era consolado pela minha maior amiga da época, a Ana Paula, ou simplesmente Ana, ela era filha da Rosa, chefe de cozinha do hotel, ela sempre me falava que se no dia das mães a minha mãe não aparecia, no dia dos pais, o pai dela também não viria, já que foi morar no céu!

A gente acabava se consolando, sempre estávamos juntos, alguns colegas até brincavam que a gente estava namorando e por um tempo, até eu mesmo acreditei nisso... Mas as coisas mudaram, assim que começamos o ensino médio, Ana teve que mudar de escola e a gente acabou se afastando.

Esse foi um dos anos mais difíceis da minha vida escolar, fiquei sem a minha amiga e ainda passei por vários conflitos. Nesse mesmo ano chegou um aluno novo na nossa classe, Denis um menino bonito, com cabelos loiros e olhos azuis, mesmo não sendo muito alto, tinha o corpo forte e muito desenvolvido para a sua idade; mas era muito tímido; ele acabou se sentando na carteira que era da Ana!

Acho que pela proximidade das carteiras, acabou que ficamos amigos, o que não superou a falta que eu sentia da Ana, mas passei a não me sentir tão sozinho! O tempo foi passando e a nossa amizade foi se estreitando, frequentávamos a casa um do outro, pra jogar videogame, estudar e ir a praia onde ele sempre me vencia no surf, mas eu sempre nadei melhor, inclusive ele mesmo reconhecia isso!

E foi nessa época, no auge da minha adolescência, que eu percebi que, aos meus olhos, Denis deixava de ser amigo para ser algo mais, e respondendo aquela maldita pergunta "será que ele é?" Sim, eu sou! E durante o resto daquele ano eu convivi com esse sentimento, com o medo e a incerteza de que se eu me abrisse com ele perderia a sua amizade, afinal o que ele pensaria disso? Será ele sentia o mesmo por mim?

Essas perguntas foram respondidas, em uma tarde de sábado vésperas das provas finais Denis me chama para ir para sorveteria e que precisava conversar comigo e que era importante! Um pouco assustado fui correndo e mal cheguei e ele já estava me esperando, ele me cumprimenta, sentamos em uma mesa na calçada e ele dispara a falar:

— Obrigado por ter vindo! Eu preciso muito falar contigo!— sua voz estava um pouco aflita.

— Lógico que eu viria! Aconteceu algo? Estou te achando um pouco aflito!— respondi curioso.

— Sabe Flávio, eu estou apaixonado!— me respondeu ainda trêmulo.

Nessa hora o meu coração disparou e as minhas mãos suavam frio, sem condições de pronunciar alguma palavra, fiz sinal para que ele continuasse.

— Eu precisava muito te falar e espero muito que você me entenda! Estou apaixonado pela Júlia!— ele falou abaixando os olhos.

— Júlia? A minha irmã?— perguntei sentindo um bolo subir pela garganta.

—Sim! Você se importa? Será que tenho chance? — me respondeu com o rosto começando a corar!

Nessa hora, eu só queria sair correndo dali, me trancar no meu quarto e nunca mais sair de lá, mas, ainda assim, arranquei forças de não sei onde, contive as minhas lágrimas e respondi:

— Eu... Eu não sei se você tem chance, vai ter que perguntar pra ela... Mas eu não me importo, você é meu amigo e um cara muito legal, se ela te querer não vai ser eu que vou te impedir! Na verdade vou dar a maior força...

— Ah que bom! Você é parceiro mesmo! Então assim que eu tiver uma oportunidade eu vou me declarar pra ela! Vamos pedir um açaí? — sorriu aliviado.

— Vamos sim... — concordei, mas morrendo de vontade de sair correndo daquele lugar.

Aquele foi o açaí mais amargo que eu provei! Mal terminamos e eu inventei uma desculpa qualquer e fui correndo pra casa. E foi uma das piores noites, chorei muito e me odiei ainda mais! Me odiei por ser tão diferente dos outros, me odiei por ser quem era e sentir o que eu estava sentido! Era realmente necessário que eu passasse por isso?

Eu não obtive resposta para essa pergunta, mas decidi sufocar esse sentimento dentro do meu peito, jurando nunca mais me apaixonar por ninguém! E o fim dessa história foi que eu e Denis continuamos amigos, inclusive foi eu que o consolei quando ele foi rejeitado pela minha irmã e essa amizade se manteve até concluirmos o ensino médio, porque logo em seguida ele se mudou para os Estados Unidos em busca de uma melhor condição de vida! Mas sempre que possível nos falamos!

Pelo Mar e Por AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora