Capítulo 4 Não Quero Viver.

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Acordei uma semana depois, sendo levado de maca para o quarto do hospital, Júlia e meu pai estavam do meu lado, eu não conseguia raciocinar direito, estava ardendo em febre, mas senti meu pai carinhosamente apertando a minha mão tentando me transmitir conforto; me colocaram na cama ligaram soro em minha veia, parece que colocaram algum sonífero que fui logo adormecendo...

 Acordei de madrugada assustado do meu lado estava um enfermeiro dizendo que a febre está muito alta e colocando uma toalha molhada e fria na minha testa. Acordei na manhã do outro dia quando me trouxeram o café, eu não tinha a menor vontade de comer, apenas bebi o café, e fiquei pensando quando eu voltaria pra casa, eu já estava quase dormindo novamente quando dois enfermeiros chegaram no quarto anunciando que era a hora do banho, me adiantei falando que podia fazer isso sozinho e um dos enfermeiros riu, quando tentei me levantar da cama entendi o motivo da sua risada, como eu estava fraco, mal consegui me sentar!

E foi assim amparado por um, enquanto o outro conduzia o suporte do soro fui conduzido ao banheiro e digo que foi muito constrangedor, dois desconhecidos tirando a minha roupa, como mal conseguia ficar de pé me colocaram em uma dessas cadeiras de banho e assim fui lavado. A tarde o meu pai veio me visitar, e me trouxe alguns livros e revistas para eu me distrair, perguntei pra ele porque a Júlia não veio me ver e ele me respondeu que ela estava cuidando de algumas coisas no hotel e que amanhã ela viria me ver. 

Meu pai nunca foi um homem muito falante, mas naquele dia estava ainda mais calado e quieto, eu já estava começando a sentir os sintomas da febre subindo, mas peguei um livro e comecei a falar:

 -Sabe pai, ano passado li um livro que um homem caiu de um avião, mas sobreviveu e na primeira noite no hospital ele teve um sonho que estava na margem de um rio e ele podia escolher entre atravessar para o outro lado ou ficar. E ele escolheu ficar, ele sobreviveu! 

- Meu filho, então... Se você tivesse esse mesmo sonho, você ia querer atravessar esse rio? - havia lágrimas nos seus olhos quando terminou essa frase. 

- Honestamente sim... - falei sem ter coragem de encará-lo. 

- Flávio, me dói muito te ver falando desse jeito! Você não imagina o quanto sofri só com a possibilidade de te perder. O que está te faltando meu filho? Me fala que a gente dá um jeito! Sou seu pai, pode me falar tudo! Mas, não fala uma coisa dessas, por favor, pensa em mim, na Júlia, na sua mãe e em todo mundo que gosta tanto de você! É só uma fase difícil, meu filho, a gente vai vencer juntos, porque eu nunca vou desistir de você!- emocionado segura a minha mão. 

- Não quero mais viver, pai!- respondo chorando. Nessa hora entra a enfermeira que vendo a cena tenta salvar a situação: 

-Tá na hora do remédio! E que história é essa de que quer morrer menino? Um moço bonito e cheio de vida igual a você? Para com essa história! Sou enfermeira há mais de vinte anos, te falo depois do perrengue que você passou e venceu, eu te garanto tú é muito forte! Tem muito pra viver! A sua missão por aqui não acabou ainda não! Vou te dar um conselho! O teu pai te ama muito, por isso, eu te falo que com o amor e apoio dele, você vence o mundo! Agora vamos tomar os remédios? - falou num sorriso que transmitia paz. 

- Eu penso que ele está com febre!- falou o meu pai meio ansioso. 

- Calma pai! É normal! Tem só um dia que ele saiu do U.T.I, ele engoliu muito água que além de invadir os pulmões também caiu na corrente sanguínea e isso causou uma infecção e o corpo dele precisa vencer a infecção, mas ele é forte! Muito forte! Logo estará bem e de volta pra casa! Agora que acabou o horário de visitas, vou te dar um conselho também, não se desespere não! O seu filho passou por um estresse muito grande é muito normal essa tristeza... Ele vai melhorar e ainda te dar muita alegria! Vou te acompanhar até a recepção!- com carinho afagou seu ombro e caminhou com o meu pai até a porta virou pra trás e me olhando falou: 

-Agora você descansa que quero te ver bom logo! E seu pai pode ficar descansado que vou ficar de olho em você até a sua alta!- e acenou se despedindo. 

Mal eles sumiram da minha vista, eu comecei a chorar virando o rosto pra parede, na minha mente eu apenas pensava, por que me salvaram? Será que a enfermeira estava certa e a minha missão ainda não havia acabado? Será que tenho uma missão? O que sei é que eu me senti a pessoa mais egoísta e irresponsável desse mundo, não bastava eu sofrer sozinho tinha que fazer o meu pai sofrer também? Sem muito o que fazer acabei adormecendo.

Pelo Mar e Por AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora