Sr. Mandão [COMPLETO]

Capítulo 1

CATARINA

Estava tão concentrada nos papéis em minha mesa, que dei um pulo da cadeira quando o telefone tocou.

Arrumei os óculos em meu rosto, e verifiquei se alguém tinha visto meu pequeno mico. Só vejo a moça da limpeza que me olhava segurando a risada.

Pega no flagra.

Dou-lhe um sorriso envergonhado e atendo o telefone.

- Jussara, na minha sala agora! -a voz autóritaria ecoou no meu ouvido, dou uma revirada de olhos.

Sem me dar tempo de dizer ao menos uma palavra, ele desligou na minha cara.

Me ajeitei em minha cadeira, e cruzei meus braços torcendo a boca.

Que tal um: "bom dia Catarina, poderia vir em minha sala por favor? ".

Meneei a cabeça, é mais fácil eu virar freira, do que o senhor mandão ser educado comigo.

Peguei alguns papéis importantes e meu caderno de anotações e me dirijo até sua sala.

Dou duas batidas, e como de costume ele não responde, então entro o vendo sentado em sua poltrona concentrado em seus papéis.

Por quê ele tinha que ser tão... Tão... Bonito?

- Me chamou, senhor? -perguntei com a voz baixa.

Sem dúvida, qualquer um que tivesse juízo ficaria nervoso em sua frente.

Ele então virou sua atenção para mim, encostando em sua cadeira. Seus olhos claros me analisava, como se quisesse ver através de mim.

- Sente-se. -sua voz grossa preencheu toda a sala.

E sem questioná-lo, sentei na cadeira em minha frente, segurando minhas coisas contra meu peito.

Ficar na presença deste homem mexe com os neurônios de qualquer um.

- Tenho uma proposta para fazê-la. -informou, me olhando sériamente como sempre.

Durante um ano trabalhando para o Sr. Mandão nunca vi um sorriso surgir em seu rosto, NUNCA mesmo.

Certo que ele não precisa necessariamente sorrir para tudo que se move, mas acho que trabalhar como sua escrava pessoal, eu ao menos merecia um sorrisinho não?

- Q-que p-proposta? -juro que tentei não gaguejar, mas seu olhar intimidante me deixava nervosa.

Suas sobrancelhas eram um pouco grossas, na medida certa, seus olhos pareciam o céu escuro, sua barba bem feita, em seu rosto o deixava sexy.

Ele apoiou os braços em cima da mesa, e me fitou por um pequeno tempo, que para mim pareceu horas.

Seus olhos me analisavam de maneira minuciosa, um pouco incomodada me remexi na cadeira. Percebendo meu desconforto, ele encostou suas costas na cadeira e entrelaçou seus dedos.

- Preciso que seja minha noiva. -soltou de uma vez, fazendo com que os meus olhos quase pulassem.

Inconscientemente, pulei da cadeira e o olhei incrédula.

- O-o quê o senhor disse?!-minha voz saiu como um sussurro.

Vendo a situação em que eu me encontrava desatei a rir. Aquilo sem dúvidas, era uma piada.

E muito engraçada por sinal.

Não sei quanto tempo passei rindo, só sei que quando parei lágrimas desceram dos meus olhos, e minha barriga doía.

- Ótima piada, senhor. -suspirei cansada de tanto rir, e vi que ele permanecia sério.

O homem parecia até um robô. Ele não sente nada?

- Não foi uma piada. -respondeu simplesmente. - Acha que perco meu tempo com piadas, senhorita Camila?

- O senhor, está de zoação só pode. -dei um sorriso de nervoso. - Meu nome é Catarina, senhor.

Eu andava de um lado para o outro nervosa, aquilo não podia ser verdade.

Ele levantou-se abruptamente de sua cadeira fazendo com que eu desse um gritinho de surpresa.

- Primeiro. -começou, e sinalizou com o dedo indicador. - Baixe seu tom Vitória, e segundo, já falei para não falar gírias aqui dentro.

Este homem sempre tirou nomes de sei lá onde para me chamar. Mas isso é o que menos importa nesse momento.

Ele realmente está me pedindo em casamento?

- Olhe senhor... -comecei um pouco nervosa. - O senhor é muito bonito e tudo mais, mas eu... Eu, não quero me casar com o senhor.

Nosso casamento não duraria nem um dia, quem aguentaria um homem mandando em você vinte e quatro horas?

- Não é de verdade. -confessou me fazendo franzir a testa. - É apenas por duas semanas.

Se antes em me achava confusa, agora nem se fala.

- Calma. -levantei a mão extasiada. - O senhor, quer que eu seja sua noiva por duas semanas?

Ergui minhas sobrancelhas em frustração.

Ele só poderia estar louco.

- Isso. -falou calmamente, como se não fosse nada.

Mesmo hesitante caminhei até ele a passos vacilantes. Assim que fiquei em frente a sua mesa, me inclinei um pouco, e com as mãos um pouco trêmulas toquei sua testa.

Como se ele tivesse levado um choque, estremeceu um pouco e imediatamente, retirou minha mão.

- O que está fazendo? -perguntou confuso.

- Vendo se o senhor não está com febre.

Ele me fuzilou com o olhar me fazendo encolher.

- Eu preciso que finja ser minha noiva, para minha família durante duas semanas. -passou as mãos no cabelo bem alinhado. - Então, o que me diz?

Suspirei pesadamente.

- E se eu disser que não? -indaguei hesitante.

Ok, eu estava desafiando o senhor mandão. Como eu poderia imaginar uma coisa dessas?

- Será demitida. -cruzou os braços.

Raul Seixas nunca pedia, ele ordenava.

- Porquê logo eu? -questionei. - Aposto que muitas morreriam para ser a noiva do grande Raul, mesmo que seja por duas semanas.

Ele me olhou com a testa franzida.

- Todas menos você. -balbuciou. - Seria bem mais difícil me livrar delas depois.

- O que ganho com isso?

Qual é? Temos que aproveitar as oportunidades que a vida nos dá.

- Que tal vinte mil? -respondeu, fazendo com que minha boca fosse ao chão.

- D-doláres?

- Não, vinte mil canetas. -debochou. - Claro que é dólares, Bianca.

Oh meu Deus! Vinte mil dólares?!

- Quando viajamos?-brinquei, mas arregalei meus olhos em seguida. - N-nós não vamos nos beijar não é?

Toda minha alegria foi para o ralo quando pensei nisso.

- Prometo que não. -assegurou e estendeu a mão para mim.

Olhei sua mão e ponderei uma última vez.

Se isso era uma loucura? Com certeza.
Eu sabia, bem lá no fundo eu sabia, que aquilo não daria certo, e não acabaria bem.

Mas como sempre, eu apenas ignorei os avisos que rodeavam minha mente. Só espero não me arrepender.