A ira o encaminha para o inferno.

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[12.02.1955      19:47pm]

A noite já havia caído ao que Jisung, após uma longa visita à casa de seu vizinho e melhor amigo, voltou para seu lar.
O céu com nuvens em tons escuros de azul apagando-se naquele espaço imenso de mesma cor não era extraordinário. Jisung gostava de vislumbrar as cores diferenciadas que pintavam o céu ao entardecer, como as nuvens tão rosadas quanto algodão doce, ou o laranja que lembrava o fogo — ele sabia que aquilo significava algo ruim, entretanto, mas era impossível não admirar —. Não havia friagem naquele horário e, diferente de noites passadas, o vento não lhe acariciava a pele e nem fazia seu corpo tremelicar. Invés disso, a temperatura era quente o suficiente para gotículas de suor nascerem em sua testa e o fazer desejar correr para o banheiro e sentir a água gelada em contato com a sua pele. E o adolescente fez aquilo ao abrir o portão da sua casa, batendo-o logo em seguida com a pressa de conseguir o que tanto queria para se refrescar. Seus pés cobertos pelos sapatos de couro esmagavam a grama limpa, e, ao abrir a porta de entrada, viu sua mãe pular em susto.

Sua pele era pálida, indicando que ela não visitava a rua e nem se encontrava com a luz solar. Seus cabelos ralos e sem vida não estavam presos como usualmente, talvez por seu pai não estar em casa àquele horário, ou talvez porque não havia alguém prestando atenção em si antes de Jisung chegar. Suas olheiras eram profundas e evidentes. O adolescente sabia que ela o protegia na calada da noite, sempre indo até seu quarto para ver se ele estava bem.

"Tire seus sapatos!" ChoHee advertiu após se recompor do susto que o filho a dera.

"Não posso tirar no meu quarto? Não estão sujos, de qualquer forma."

"Você sabe que o certo é tirar antes de entrar em casa, não sabe?" Jisung estava pronto para respondê-la, porém ela logo o cortou "Então, você deve tirá-los aí mesmo."

Han suspirou e, sem tentar argumentar, tirou seus sapatos e os posicionou no lugar que deveria. Seus pés desnudos sentiram o frio que do chão era liberado, e então, seu corpo amoleceu com aquele choque de temperatura. Confortável. Ele não perdeu tempo ali, entretanto, e, após cumprimentar sua mãe de uma maneira mais respeitosa, correu até o banheiro do último andar.
Sua felicidade era perceptível. Ele era capaz até de dizer que aquele fora o melhor dia de sua vida. Oras, havia feito coisas divertidas como assistir filmes com seus amigos, conversar e contar piadas e, de quebra, seu pai não estava em casa. Havia até mesmo visto os cabelos de sua mãe soltos.

E não demorou para que ele alcançasse o banheiro impecavelmente limpo e grande. Ali havia uma banheira e, ao longe, a ducha. O grande espelho acima da cuba da pia mostrava Jisung, que encarava seu reflexo e ponderava sobre a infância perdida abaixo do lustre amarelado.
Não era segredo nenhum que ele não sabia sobre coisas simples, coisas que pessoas de sua idade costumavam saber. Ele não era um especialista em sexo, e nem sabia como era se apaixonar. Ele não sabia como esquentar alguém em um abraço, e nem sabia como chutar bola. E ali, aos 18 anos, ele se pegou enraivecido por não ter a oportunidade de aproveitar intensamente. Ser civilizado e acumular gel em seus cabelos para parecer elegante não o interessava. Usar roupas consideradas elegantes e gravatas não o interessava. Mas aquilo não podia destruir o seu dia, certo? Então ele guardou debaixo do tapete toda aquela confusão, e tentou esconder de si todo aquele nó que o machucava a garganta pouco a pouco.

Ele permitiu-se, então, entregar-se ao frio relaxante da água que caía da ducha e tocava sua pele suada e seus cabelos sujos após suas roupas tocarem o chão. O cheiro do shampoo adentrava suas narinas, fazendo-o suspirar, e as bolhas que saíam do frasco deste apenas deixava o ambiente mais divertido. Era como um filme de imagem limpa e mensagem acolhedora, tendo crianças se divertindo na banheira com patos de borracha enquanto seus responsáveis preparam um bom almoço. Tudo era muito agradável, e ele sentia que, além de seu corpo, sua alma também estava sendo lavada. Mas não lhe era permitido demoras, então logo alcançou a toalha limpa que, habitualmente, ficava dobrada nas pequenas prateleiras ali próximo. Havia diversas daquele tipo, e ele escolheu a que mais lhe agradou.
Mesmo no banheiro, era possível escutar os miados de Fluffy em seu quarto. Ele havia encontrado o gato no porão ao que se escondia de seu pai em uma das aleatórias rodadas de pique-esconde. Nunca havia visto o gato antes daquele dia, e muito menos sabia como ele fora parar em sua casa, mas não reclamou. O felino de pelagem negra e olhos esverdeados apareceu quando ele mais precisava e o mostrou que ele não estava sozinho ali naquela casa. Ele tinha outro amigo além de Seungmin, certo?
Após muito pensar, Jisung o nomeou Fluffy por sua aparência adorável e seus pêlos tão macios quanto um urso de pelúcia. O nome era simples, mas importante para si.
De alguma forma, Han gostava de pensar que o gato apareceu não só para o acompanhar, mas também para mostrar que o amor ainda podia florescer pouco a pouco em seu coração novamente. A cada dia que passava, a cada vez que ouvia a voz de seu pai, o seu ódio crescia, e então Fluffy apareceu.

Peek A Boo • hjs + lmhOnde histórias criam vida. Descubra agora