A garota de alma pura e juvenil. (Parte II)

1.9K 367 238
                                    

- Eu conheci uma criança. No caso, não era uma simples criança como todas as outras... - Jeongin anunciou baixo, quase que em um sussurro, sentindo o calor do chão ser transferido para a sua pele ao estar sentado ali enquanto observava as fartas estantes e prateleiras.

Os outros garotos estavam ao seu lado, tendo suas orbes e atenção completamente entregues ao mais novo. Naquele lugar, o frio não era presente - o que foi um alívio para eles que, por vezes, sentiram seus músculos rígidos por conta da temperatura extremamente baixa -, e a luz solar já estava a nascer acima de suas cabeças. MinHo tentava prestar atenção em cada mínima palavra do Yang, mas não podia evitar desviar o olhar para o teto de vidro, ainda sem reação. Ele esquecera o quão azul o céu podia ser, assim como as nuvens de algodão podiam ser extremamente límpidas.

Ao encarar Hyunjin, o garoto que fugiu de Jisung perguntou:

- Você se lembra de DaHyun, o espírito que sentou nos seus ombros em uma das partidas de Ouija?

Hwang assentiu, calado.

- Ela é essa criança, e me trouxe até aqui. Foi tão assustador, e eu pensei que poderia morrer. E se eu morresse, assombraria Hyunjin até o dia de sua morte. De qualquer forma, DaHyun tem apenas sete anos. Vocês entendem isso? Aquele garoto endemoniado matou uma criança. Precisamos contar para todos quando sairmos daqui.

O nervosismo era gigante ao ponto de impedi-los de deixar, no mínimo, alguma vogal sair de suas bocas. De início, eles ficaram felizes ao ter o Yang de volta, mas os relatos sobre Jisung, DaHyun e morte não contribuíam para que suas mentes ficassem em paz.
Felix tentava, inutilmente, se convencer de que aquilo tudo não fugia de um pesadelo. Era tudo tão irreal, e ele nunca havia visto coisas do tipo. Não era comum estar em uma casa, fugindo de um demônio que anseia pela sua alma enquanto espíritos te ajudam a encontrar passagens secretas em locais inusitados. E o pior de tudo era supor que talvez nunca fosse escapar dali. Ele foi obrigado a pausar aqueles pensamentos, entretanto, pois seus amigos iniciaram um diferente tópico ao discutir sobre o tabuleiro Ouija que ficara no quarto espelhado e os espíritos que foram atraídos por este - sendo eles a menina de sete anos, Jieun e Tzuyu. No fim, hesitaram na ideia de que as duas últimas podiam ser espíritos malignos, e ajudavam Jisung no jogo. DaHyun, por sua vez, era um espírito de luz que, obrigatoriamente, escrevia recados e avisos no espelho todas as noites. Era comum ter mensagens amedrontadoras, mas também era comum ter avisos e dicas, isto porque o demônio tinha um grande controle sobre ela.
A Kim não era um espírito maldoso, mas precisava agir como um.

- Eu ainda quero os meus cento e cinquenta reais... - o sardento sussurrou - Não estou passando por isso sem objetivos. Eu quero, pelo menos, ir lanchar depois que tudo isso acabar.

MinHo riu e, finalmente, deixou de encarar os algodões lá em cima para encarar Felix.

- Vocês apostaram dinheiro para entrar aqui? - ele perguntou, desacreditado ao que os três assentiram.

MinHo finalmente se sentia leve. Era como se nada houvesse acontecido, tampouco estivesse acontecendo. Era como se nada fosse acontecer.
Fingir que nada está acontecendo é, de longe, a pior coisa que o ser humano pode fazer, pois o mundo continua girando e o relógio não para, e, no final, estamos estagnados no mesmo lugar. Nem um passo para trás. Nem um passo para a frente. Podemos deixar-nos enganar por nossa habilidosa mente, mas é impossível ocultar a realidade.
Os garotos permitiram relaxar o corpo e a mente naquela tarde, e até conseguiram dormir visto que na noite anterior isso não pôde ser feito. MinHo não se entregou à sonolência por um tempo superior a meia hora, e logo estava encarando o céu e os pássaros novamente, em uma singela conversa silenciosa sobre como desejava sentir a brisa fresca no rosto por pelo menos uma última vez.

Peek A Boo • hjs + lmhOnde histórias criam vida. Descubra agora