Any GabriellyMesmo que pudesse me mexer, ainda assim não me moveria. Ficaria imóvel, especialmente para não perturbá-lo, silenciosa, sobretudo para não acordá-lo. Talvez até me permitisse virar um pouco para vê-lo dormir, mas nada além disso.
Acompanhei toda a movimentação de Noah com uma atenção aguda. Jamais esperaria que ele se deitasse a meu lado. Poderia ser encarado como algo mórbido tentar dormir no mesmo leito de uma pessoa em coma, contudo, uma vez mais, meu visitante me surpreende. E pensar que minha mãe praticamente não ousa me tocar.
Noah se encostou completamente em mim. Pelo menos acho que foi isso que fez. Meu leito não é exatamente grande. Forçosamente deve haver partes de nós em contato.
Contato... Eu correria para ele como uma garotinha diante de um sorvete de chocolate. Quase vinte e uma semanas sem experimentar a menor sensação tátil. Sobretudo porque a última foi a da neve contra meu corpo todo, algo que não é exatamente uma ótima lembrança.
Sem dúvida, eu daria com alegria todos os meus mosquetões para sentir apenas um pedacinho de Noah encostado em mim. Haveria, claro, montes de roupas e de lençóis entre nós, mas com certeza seu calor passaria através de tudo, e isso me bastaria.
Sendo sincera, o contato poderia ser com qualquer pessoa. A auxiliar de enfermagem faz minha higiene pessoal todo dia, minha irmã põe a mão normalmente em mim, ao que me parece, e quando Lamar, Bailey e Joalin vêm eu tenho direito a beijo na testa.
Mas com Noah é completamente diferente. É minha relaçãozinha privilegiada. É minha lufada de oxigênio. Uma lufada de oxigênio da qual não conheço o menor detalhe físico.
Por reflexo, mando meu cérebro fazer minha cabeça girar e abrir minhas pálpebras. Entendo a bobagem que estou fazendo ao pensar na etapa seguinte: "Dizer a meus neurônios que ponham meus olhos em atividade." Isso não adianta de nada. Os médicos o disseram hoje de manhã.
Começo a entrar em depressão ao mesmo tempo em que passo a detestar esses médicos, futuros médicos, estagiários e residentes, incluindo aquele que mais ou menos tomou minha defesa. Todos eles passam por aqui, sem exceção.
Em meu delírio de cólera, eu os imagino com cabeças assustadoras e gênios irascíveis. Chego até a pensar que haverá algum deles que fará um diagnóstico errado algum dia em sua carreira, depois me recomponho bruscamente.
Não. Um diagnóstico errado significaria uma pessoa que não conseguiria se curar. Não posso lhes desejar isso. Especialmente porque essa pessoa poderia ser eu.
Poderia ser eu...
Poderia ser eu!
Se eu não estivesse em coma, me levantaria num pulo gritando algo do gênero: "Boa menina", mas me satisfaço em me felicitar interiormente.
Poderia ser comigo o diagnóstico errado, com a história deles dos 2% que não entendi.
Meu moral se recompõe de imediato. Tenho a impressão de ser um desses balanços de crianças nos parques públicos.
Poderia ser eu. Eu poderia despertar, provar a eles que estão errados. Afinal, ninguém imagina que eu possa ouvir e, vejam só, é isso o que está acontecendo. Se eu pudesse abrir os olhos ou dar um sinal de atividade qualquer...
A questão é: como fazer? Por enquanto, tudo o que fiz foi ouvir e esperar. Mas será que tentei realmente fazer outra coisa?
Cinco minutos atrás, literalmente fugi da tentativa de virar a cabeça. Não fiz o menor esforço, porque achei que não conseguiria. Eles são todos tão categóricos, mas nenhum deles viveu o coma em meu lugar. Então, suas teorias... Me dou a liberdade de duvidar delas.
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I'm here
Romancenoany +| ❝ eu nunca vi o seu sorriso, muito menos seus olhos, mas sua voz foi suficiente para me mostrar que eles são lindos ❞ Em um dia tumultuado, Noah entra no quarto errado do hospital e encontra Any dormindo, em coma. E por um sentimento que el...