» Capítulo 23

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any gabrielly

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any gabrielly.


Ele me disse "até amanhã".

E isso já faz uma semana.

Repassei nosso último encontro um milhão de vezes para ver seu eu não estava enganada, mas não. Tenho certeza de que ele me disse "até amanhã". No começo, fiquei até tranquila. Ele talvez tivesse tido alguma outra coisa para fazer. Claro que tinha outras coisas para fazer. Isso me provocou uma ponta de ciúme.

Mantive um fio de esperança durante a semana, quando o trinco de minha porta rangeu, mas era apenas um médico. Não sei exatamente qual, mas tenho fortes indícios para achar que era o médico-residente. Acho que ele folheou meu prontuário e rabiscou algo nele. E também ficou bastante tempo junto aos meus monitores, como se estudasse cada um deles, depois saiu sem dizer uma só palavra. Mas por que razão ele falaria, não é?

Depois disso, experimentei novas emoções. Decepção, angústia passageira. Medo.

Medo, eu ia acabar sentindo. Mas eu queria tê-lo deixado para o final. Especialmente por não se tratar do tipo de medo que gosto de sentir.

Numa geleira, quando eu estava com os crampons nos pés e via uma ponte de neve ou uma fissura, sempre sentia um pouco de medo. Mas era um medo com adrenalina controlada, como dizia a Lamar. Sabíamos que quase tudo dependia exclusivamente de nós, de nosso modo de atravessar, de nossa delicadeza e de nossa rapidez, de nossa agilidade e de nossa inteligência.

Sempre havia a parte da sorte, mas, francamente, não pode fazer montanhismo alguém que não aceite encarar riscos a cada passo.

Mas o que estou sentindo hoje é um medo que me devora por dentro. Não tenho o menor domínio sobre ele, nenhum meio de escondê-lo atrás de alguma outra emoção. Estou na expectativa, e essa expectativa é interminável.

No começo, tive medo de que Noah não aparecesse nunca mais. O que implicava que meus exercícios não seriam mais tão eficazes; logo, que eu poderia não despertar a tempo. Em meio a tudo isso, tive medo de que tivesse acontecido algo com ele. Em resumo, era certo que meu organismo estava voltando a funcionar no meio dessa química atroz.

Felizmente, isso estimulou um pouco todo o resto. Meu sentido do tato está voltando bastante bem. Acho que até senti um cheirinho de peônias no momento em que a auxiliar de enfermagem passou duas gotinhas em meu pescoço, mas não sei se isso era simplesmente fruto de minha imaginação ou se a informação era real. Mais uma vez, simplesmente decidi pensar que era real.

Prestes a morrer, é melhor fazer todo o possível para estocar o maior número de informações que eu possa, mesmo que isso implique sentir meramente um cheirinho de jasmim. Ou inventá-lo.

Tenho a impressão de ser uma bolsa desarrumada. Um bolsa cheia com um monte de coisas tão grotescas quanto naturais, que se encavalam umas sobre as outras. Não consigo de fato diferenciar as informações que me assaltam. Elas me chegam cada vez em maior número. É como se meu cérebro estivesse chegando a um ponto de saturação. Como se as áreas ativas ocupassem apenas alguns nanômetros quadrados, com essas três últimas semanas ocupando todo o espaço.

Aqui se empilha, ali se superpõe. Duvido que tudo isso venha a se misturar. Por isso digo a mim mesma, todos os dias, que talvez faça menos de uma semana que Noah me disse "até amanhã", mas o rádio da faxineira toda noite me confirma a data.

E é estranho, porque minha irmã também não veio quarta-feira. Talvez ela tenha tido provas? Talvez sua última visita a tenha abalado muito. Não tenho a menor esperança de que tenha se acertado com Lamar. Ele não faz parte do pelotão que a segue. De jeito nenhum. Mas espero simplesmente que ela consiga. Lamar merece uma linda história, e já é tempo dela começar uma.

Eu também queria começar a minha.

Tenho a dupla impressão de que é essencial e ridículo pensar assim. Como, em meu estado, posso dar importância tão capital a uma história de amor? Eu devia querer viver para me mexer, para voltar a uma geleira, ver minha família, encontrar pessoas, descobrir o mundo, sorrir de me acabar e rir e rir mais ainda. Sei que essas são as coisas que me importam. Enormemente. Mas também sei que o sentimento de amar é o que dá cor a tudo isso.

Sorrio mentalmente. Eu poderia dar muitas dicas a minha irmã a partir de minhas histórias com as cores. Elas certamente lhe seriam muito úteis no curso de artes plásticas. Não desejo que ela assuma meu lugar para descobrir tudo o que aprendi, mas eu gostaria muito de compartilhar com ela o que aprendi. Afinal de contas, não sei se ela será capaz de adaptar o que aprendi ao mundo da pintura e dos pincéis, mas valeria a pena tentar.

Estão vendo? Começo a divagar. Preciso parar de pensar. Enfim, pelo menos parar de pensar em tantas coisas aos mesmo tempo. Em tantas pessoas. Isso me confunde.

Achei ontem a solução, ou pelo menos... no que penso ter sido ontem. Já fazia um bom tempo que eu tinha chegado a ela, mas sem ainda me dar conta de quanto essa baixa atividade me permitia esquecer todo o resto. Foi quando a apliquei que consegui perceber o quanto isso aliviava minha mente. Por isso, vou retomá-la agora.

Eu quero virar a cabeça e abrir os olhos.

Eu quero virar a cabeça e abrir os olhos.

De vez em quando, um pensamento furtivo se enfia pelo meio. Um "eu quero amar", que afasto imediatamente. Isso me arrastaria para uma divagação muito mais nefasta.

Eu quero virar a cabeça e abrir os olhos.

Mesmo que isso aconteça apenas por meio segundo antes de meu espírito se apagar definitivamente, eu quero virar a cabeça e abrir os olhos.

notes.

hello xuxus, tudo bem?
faltam 3 capítulos para a fic acabar :(

esse capítulo foi menos porque eu
sigo a quantidade de capítulos do livro original.

espero que tenham gostado e não esqueçam de dar a estrelinha 🤸‍♀️

xoxo, Lil Moon🌛

Hasta Luego...

I'm hereOnde histórias criam vida. Descubra agora