» Capítulo 19

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any gabrielly

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any gabrielly.

O barulho lânguido do beijo que minha irmã está dando em seu ficante me repugna. Como tem coragem de fazer isso em meu quarto? Está certo que ela nunca teve de se fazer perguntas em matéria de namoradinhos.

Ela só precisa escolher alguém no meio da tropa que a segue por todos os lugares. Portanto, o amiguinho em questão não teve de pensar durante nem um só instante antes de corresponder ao beijo que ela lhe propunha.

Se eu for acreditar no som de certos tecidos, tenho até a impressão de que ele enfiou as mãos por baixo da camiseta de minha irmã. Eu a escuto rir, mas ela deve ter se controlado porque os lábios dos dois finalmente pararam de se devorar.

Suspiro mentalmente. Sim, estou de saco cheio de tanto ouvi-los se beijarem, mas, sim, eu também estava sentindo certo ciúme. Não ciúme por minha irmã ter falado menos do que de costume, mas sobretudo porque não tenho tido a experiência desse tipo de contato desde um tempo que já me parece uma eternidade.

Quando acordei esta manhã, tinha perdido um pouco a noção do tempo, depois minha irmã chegou e entendi que era quarta-feira. Só notei que dia exatamente era quando ela atendeu o telefone. Parece que são dez horas, mas não tenho certeza de nada. De todo modo, posso dizer que o Natal será em cerca de duas semanas. E fico me perguntando que presente vou ganhar.

Nada, certamente.

Que presente alguém daria a uma moça em coma? Especialmente, quando seu aniversário aconteceu um mês atrás e quando se trata de alguém que os médicos só pensam em desligar.

Fico me lembrando do Natal do ano passado, que foi uma chateação só. Embarquei numa dessas ceias intermináveis com as mesmas pessoas de sempre e com os mesmos pratos de todos os anos, quando só queria uma coisa: calçar meus esquis e ir curtir nas pistas num dia em que quase ninguém vai às estações. Minha mãe tinha criticado em várias ocasiões minha falta de sociabilidade. Me esquivei da crítica dizendo que não entendia por que minha irmã tinha o direito de trazer um ficante de duas semanas e eu fora proibida de desfrutar a presença de um amigo de longa data.

O amigo que eu queria convidar era Lamar. Toda a minha família já o conhecia, mas me disseram não. Meu pai o detestava desde que soubera que se tratava de meu parceiro de corda. Minha mãe o ignorava desde que entendera que se tratava apenas de meu parceiro de corda (e não de meu parceiro simplesmente). Já minha irmã...

Minha irmã, não faço ideia do que ela achava, mas tenho a impressão de que logo vou saber. Através da porta de meu quarto, ouço bem uma voz que me parece ser exatamente a de Lamar. A alegria me invade e me invade de verdade. Ela chega até a me submergir, porque minha vitória da semana é ter voltado a ser capaz de perceber minhas emoções.

Sinto o que está em circulação em meu sangue. Sinto essas mensagens químicas que me percorrem e que provêm de meu cérebro e a ele retornam carregadas de informações. A tristeza, depois a alegria são as emoções que estou experimentando hoje, mas ontem parece que meu quinhão foi de dor, de cólera.

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