» Capítulo 16

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 noah urrea

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noah urrea.

Preciso me acalmar.

Não, eu estou calmo! Preciso mesmo é raciocinar. Josh tem toda a razão. Estou me apaixonando por uma garota em coma. Isso realmente não é nada saudável. Mas quando a vi como há pouco, olhos arregalados, refém dessa espécie de sobressalto de loucura, reagi por reflexo.

Por reflexo... Provoco medo em mim mesmo, ainda mais quando um murmúrio escapa de meus lábios.

– Any... Eu não sei quase nada de você e mesmo assim...

Deixo as palavras suspensas. Pelo menos por uma vez, não me dirijo realmente à dona de meus pensamentos. Não sinto a menor necessidade de concluir minha frase em voz alta. O fim se perfila por si mesmo em minha cabeça. Então me dou conta de que estou me parecendo com meu irmão há dez minutos.

O paralelo entre nós me desanima um pouco, mas certamente estou com o mesmo olhar evasivo que ele lançava ao céu cinzento através da janela.

Clara se mexe em meus braços, procuro um canto para acomodá-la e deixá-la se mexer. Nesse momento, me dou conta de todos os meus erros de padrinho inexperiente. Fui muito egoísta ao trazê-la comigo ao hospital. Nem cheguei a pensar em trazer um tapetinho qualquer com brinquedos e companhia para ocupá-la. Calculei tudo para nossa saída não coincidir com a hora da mamadeira nem do sono, mas não pensei no restante.
A única possibilidade é deitar Clara no leito ao lado de Any, mas eu precisaria de um pouco mais de espaço para poder fazer isso.

Estendo meu casaco no chão e ali acomodo Clara enquanto arrumo um espaço mais agradável ao lado do corpo inerte. Fico travado por um momento. Any parece tão mais tranquila do que estava antes. Nada a ver com a face rígida e as mãos paralisadas de seu corpo retesado.

Só houve um aspecto positivo nesse espasmo, mesmo que eu preferisse que ele nem tivesse acontecido: pude ver os olhos de Any. De um castanho escuro pálido que me perturbou tanto quanto o estado no qual ela se encontrava.

Penso um pouco e encontro o canto onde eu já tinha percebido essa nuance de cor. Na foto pregada na porta. O azul do gelo sobre o qual ela caminhava. Antes de ver essa foto, eu jamais acreditaria que o gelo pudesse ser azul. Para mim, gelo é branco e, em alguns casos, transparente se você tem um bloco suficientemente puro e liso. Quer dizer, o gelo do congelador ou as pedras de gelo redondas do bar. Minhas referências são muito restritas.

Ninguém nunca me mostrou gelo azul, a não ser em versão alimentar aromatizada e, mesmo assim, achei infame.

Ali, naquela foto, descobri o que nosso planeta é capaz de fazer. E isso me surpreendeu porque, sendo da área da empreendedorismo, nunca tive de fazer estudos de campo em lugares como banquisas e geleiras. Any me fez botar os pés na terra. Ou melhor, na geleira.

Suspiro balançando a cabeça.

Dez dias que cruzei a rota de Any, dez dias que meu mundo se orientou todo para ela. Não tenho a menor esperança de rever agora esse castanho chocolate, que só é glacial na cor, mas tenho a esperança de revê-lo um dia. Não é porque o médico-residente não quis responder minha pergunta que Any está destinada a permanecer anos no coma.

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