» Capítulo 13

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ANY GABRIELLY

Minha mãe e meu pai estão aqui no quarto. E não estão sozinhos. O médico-chefe também está. Esse danado desse médico que me dá náusea. Aqui eu queria poder fazê-lo engolir

literalmente seu jaleco de tanto que ele me emputece.

Desde que ouvi a voz dele, minha cabeça começou a dar mil voltas. Ele veio falar do famoso "menos X" de uma vez por todas. A ideia já fora ventilada, mas não de maneira tão radical.

E "radical" é até uma palavra fraca.

Se existisse um termo que pudesse agrupar "descomprometido", "direto" e "totalmente desinteressado", acho que ela resumiria a maneira com que argumenta.

– A senhora há de compreender: não resta a menor esperança.

E essa linguagem cerimoniosa, imbecil! No limite, é como se você estivesse dizendo "minha 'senhoura'". Se vai decretar minha morte antecipada, tenha pelo menos a delicadeza de fazê-lo com a devida elegância!

Você se parece com um desses personagens de velhos faroestes americanos, exceto pelo fato de usar um jaleco!

Por sinal, eu o imagino bem desse jeito, um médico-chefe que me causa horror. O jaleco

completamente desabotoado, uma mão na cintura, o outro cotovelo apoiado na parede. Aposto que está usando jeans e não uma calça de médico por baixo. Uma camiseta velha destruída. Bom, isso sou que estou imaginando, mas na realidade ele poderia concretamente se parecer com isso.

Um descaso ultrajante.

Não entendo por que meu pai ainda não reagiu. Minha mãe foi quem reagiu depois de um bom momento. Ela soluça mais ou menos silenciosamente. Percebo mais facilmente que está chorando quando ela fala, porque o choro interrompe cada uma de suas palavras. Isso não deixa de ser curioso porque, em última instância, era ela que estava considerando a

hipótese de me desligar antes. Mas, diante de sua reação chorosa, quase se teria a impressão de que meus pais tinham invertido os papéis.

– Sé-sé-sério m... m... mais nenhuma?

A voz de minha mãe ficou totalmente estrangulada no final de sua pergunta. Espero que meu pai tenha tido a inteligência de tomá-la nos braços ou mesmo simplesmente de ter pegado sua mão. Ela está em desespero total, e isso não acontece muitas vezes. Em suma, ela deve ter entrado em pânico.

Faço uma prece silenciosa para que meu pai desempenhe corretamente seu papel de esposo. Duvido muito que minha oração tenha tido o menor efeito, mas compreendo que ele pelo menos agiu.

– Alex, acalme-se antes de tentar compreender o que quer que seja.

É um conselho muito sensato, meu pai em todo o seu esplendor, mas não é bem esse o

conselho que eu gostaria de ouvir.

– O senhor pode nos dar um tempinho, o tempo para que minha mulher se acalme?

O murmúrio do médico deve significar sim. Que mesmo que eu estava dizendo... Um

verdadeiro faroeste.

Mas onde está meu residente? Com toda a certeza, ele teria feito as coisas com mais tato! De toda maneira, desde que não fosse para ouvi-lo soluçando também... Isso teria

provocado muitas lágrimas para enxugar à tarde.

O médico sai. Minha segunda oração silenciosa é para que aconteça uma coisa qualquer que possa fazê-lo quebrar a perna agora mesmo. Mas mesmo depois de ter passado o tempo necessário para tanto cinco vezes, nada aconteceu porque quando ele volta não ouço nenhuma muleta batendo no chão.

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