O casamento do meu irmão

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São onze da noite e Catra está sentada na cama, recostada à parede enquanto conversa com a mãe pelo whatsapp, com o lençol cobrindo todo o seu corpo da cabeça aos pés e deixando somente o rosto e as mãos de fora, como um conjunto de capa e capuz. Na cama do outro lado do quarto, Entrapta, como sempre, mexe em seu notebook. "Ás vezes eu me pergunto se ela nasceu grudada com esse treco", pensa Catra, a espiando por cima do seu celular novo.

Ela ajeita os fones e dá play no último áudio de sua mãe.
- Filha, não precisava disso... a gente tá conseguindo se virar sem você, nós prometemos viu? Jê conseguiu um trabalho de empacotador no mercadinho do Tião. Guarde seu dinheiro pra você, ouviu?

Catra havia enviado uma mensagem mais cedo avisando à mãe que depositara parte do seu salário para ela, e desde que ela chegara do trabalho, há poucos minutos, vinha tentando convencer Catra a não fazer mais isso e insistindo em devolver o dinheiro. Revirando os olhos, a garota começa a digitar.

Catra

poh parah

tah doida? esses mané me pagam mt mais q eu consigo gasta

eu to de boa

é pra tu cata o dinheiro e volta de uber do trabalho agr ouviu?

chega de conduçao lotada pra sinhora mae

Mamãe está gravando um áudio...
- Você é um amor, minha filha... mas você tem sua própria vida, eu não quero que fique se preocupando com a gente, mesmo que seja difícil a gente sempre deu um jeito, não foi?

Catra

oh veia teimosa para de teima k7

ce cuido de mim por 18 anos

agr eu tenho dinheiro eu vo cuida doceis ue

Enquanto sua mãe grava um novo áudio, Catra aproveita para checar seu twitter. Já fazia algum tempo, desde a sua época no São José, que amigas e companheiras insistiam que ela criasse um perfil oficial, com seu nome e foto, para lidar com o público, e ela nunca gostou da ideia. Assiste um vídeo de um filhotinho de gato escalando a perna do dono, outro de dois gatinhos filhotes brincando numa cama, e logo chega a notificação da mensagem de sua mãe.
- Eu entendo como você se sente, minha filha... eu teria feito o mesmo. Obrigada.

Pelo tempo que ela levara para gravar a mensagem, Catra havia imaginado que seria algo bem mais longo do que isso.

Catra

issae

oh faz seguinte

procura umas escola de ingleis pros pirralho

sepah uma escola particular tb

de burra na família jah basta eu

e tb ve uns plano de saude pra sinhora mae

eu vo paga

A mensagem de voz seguinte é gravada rapidamente.
- Ai Catrina, você é impossível – ela ri, imaginando a cara de desprezo que sua mãe deve estar fazendo agora. Antes que Catra comece a digitar, outra mensagem de voz é enviada – e para de se chamar de burra, eu odeio quando você faz isso!

Catra

ue

qria eu num se burra neh

mae ta tarde aq oh

tenho q dormi

senao fico desabituada pros horario dos treino

Gringa Grudenta - (Catradora)Onde histórias criam vida. Descubra agora