Gringa Grudenta - (Catradora)

Você é como ela

Durante as férias, Catra ouviu muita coisa doida sobre o que aconteceria na temporada de 2020/21 em Etéria. Ouviu que a Royal Grayskull veio atrás de Scorpia, que a Red Horde fechou contrato com a melhor lateral do mundo, uma certa Lucy Bronze, que várias atletas estrangeiras famosas foram contratadas por equipes eterianas. Ouviu que as Thaymor Warriors estão se reforçando e chegarão com ainda mais força na próxima temporada, prontas para encarar as duas superpotências do país de frente. Ouviu que várias equipes tanto de Etéria quanto fora conversaram com White Light, a revelação da temporada anterior, que está dificultando as negociações de renovação com as Mystacor Witches. E parece que aquele time contra quem conquistaram uma vitória fácil no ano anterior, a Eternia City SC, costumava na verdade ser uma grande equipe, apesar da má fase nos últimos anos, mas com dois novos patrocinadores, Eternia City teria contratado várias atletas de alto nível, inclusive uma das sensações da temporada, Allen Hills, e a ex-artilheira da Royal Grayskull, a centroavante Crystal, e prometem chegar forte mais uma vez na temporada que se aproxima. Ouviu que depois das suas atuações magníficas no decorrer do ano, a Royal Grayskull foi procurar por jovens talentos no Brasileirão e trouxe nada menos que quatro jogadoras – incluindo Renata. Catra até se sente lisonjeada e orgulhosa, e pensa que deveria ir fazer uma visita-surpresa no apartamento da outra qualquer hora. Poderia perguntar para Glimmer e Adora se elas sabem onde a garota está morando. Será que alguma colega da Royal Grayskull também a está recebendo temporariamente?

Mas nada chama mais atenção que o fato de que Mermista, a centroavante titular absoluta da seleção eteriana, que sempre briga com Netossa pelo posto de estrela maior das First Ones, que foi revelada por um time mediano, as Salineas Sharks aos 17 anos e 10 anos depois continuava fiel ao time, e que no ano anterior atingira a incrível marca de 36 gols em 38 jogos na Superliga, finalmente teve sua fidelidade quebrada e foi contratada pela Royal Grayskull. Não apenas isso, não foi um acordo de final de contrato, como acontece em pelo menos 90% das ocasiões no futebol feminino: não, foi uma transferência paga. E mais do que isso: foram 1,1 milhão de dólares eterianos (o equivalente a pouco mais de 850 mil dólares) pagos pela Royal Grayskull às Salineas Sharks, configurando-se assim na transferência mais cara da história do futebol feminino por uma enorme margem.

Não é que Catra não ame sua família – se fosse fácil, se não fosse interromper a vida inteira deles, se eles aceitassem, traria todos para viver com ela em Etéria – mas nas últimas semanas de férias já estava quase tendo um ataque de ansiedade pela volta da temporada. Por isso, quando se apresenta para o primeiro treino após sua volta a Etéria, ela pega pesado: não vê a hora do seu primeiro jogo. Está doida para conquistar mais títulos, afiar suas habilidades técnicas ainda mais, humilhar Adora no campo mais uma vez.

E depois de ganhar o posto de titular absoluta na Red Horde pelas suas atuações na temporada anterior, Catra foi permitida escolher um novo número de camisa. Infelizmente, a 10 já está ocupada por Netossa, a estrela maior do time, então Catra sabe que não estará vestindo sua sonhada 10 tão cedo, mas ainda pode ir com a sua segunda opção. Naquela temporada, ela teria o 7 nas costas em vez do 23.

Tem mais uma boa notícia: a Red Horde contratou outra jogadora brasileira. Uma garota chamada Valéria, mas mais conhecida como Vavá, um ano mais nova que Catra, carioca que jogava no Vitória da Bahia. Foi praticamente amizade à primeira vista: a garota da favela carioca e a da comunidade paulista colam uma na outra durante o treino físico e o de passes, gritando provocações uma à outra e rindo quando a "rival" diz uma boa.
- A psôra tá olhando meia torto pra nóis – comenta Vavá, observando Weaver de esguelha.
- Finge que nem viu, essa véia é uma amargurada pau no cu e não manja de diversão – aconselha Catra, e como se para provocar (até porque é exatamente o que as duas pretendem), Catra e Vavá começam a exagerar ainda mais nos toques de efeito, de calcanhar, de letra, zoar como duas garotas do ensino médio.