Jason.
Eu estava já voltando da casa do Ret e a Hadassa tava praticamente encolhida no banco do carona e chorava baixo e mesmo assim seu corpo às vezes se sacudia em soluços.
— Filha, o que rolou lá? — perguntei pela quarta vez e ela murmurou outra vez:
— Nada, pai...
— Dassa, eu sei que aconteceu alguma coisa, você não iria chorar tanto assim atoa. — firmei e a encarei, haviamos parado no sinal.
Ela não respondeu. Só me olhou, os olhos estavam cheinhos de lágrimas prontas para descer no seu rosto que também estava molhado do choro que não parava.
— Eu não tô aguentando mais... tá doendo, eu nã-nã-não... pai, me ajuda.
— ela falava em meio dos soluços do choro e pulou no meu colo.— Ô vida, não fica assim que tu me quebra. — Acarrinhei seu cabelo e ela chorava com o rosto escondido no meu pescoço. Dei um jeito de estacionar o carro na calçada ali, liberando o trânsito atrás de nós. — Calma.... shi.... calma, filha.
— Eu... eu... pai, eu só queria ajudar.
— Amor, calma. Respira. — eu estava acarinhando suas costas e subia para seus cabelos fazendo um cafuné, ela estava extremamente magoada, era um choro tão sentido que eu já estava a ponto de chorar junto dela. — Respira fundo e tenta se acalmar para conversamos.
Eu tentava parecer calmo, mas no fundo meu peito tava apertadão, doía só de ver ela tão desesperada e eu não tinha poder de mudar aquilo. Pelo menos eu achava que não. Ela foi diminuindo o choro e tirou o rosto que estava apoiado entre meu ombro e meu pescoço. Sequei seu rosto com minhas duas mãos e ela deu um meio sorriso. — Tá melhor?
Ela assentiu tímida e eu respirei fundo, beijei seu rosto e entrelacei minha mão em uma das suas e selei a mão. — Me conta o que ouve que te deixou assim.... Confia em mim amor, eu quero te ajudar.
— Pai... o Théo.... — ela respirou fundo, forte como se tirasse um peso de seu peito.
— O que ele fez?
— Ele se drogou no quarto dele e eu... nós brigamos. Eu disse a ele que ele deveria procurar um tratamento mesmo que não precisasse se internar...mas se cuidar, sabe? — eu assenti e esperava ela falar. Ela hesitou por um instante e olhou nos meus olhos. — Ele.... ele ficou muito puto porque eu deixei escapar que ele estava feito um viciado e então... ah... — ela passou a mão no braço e eu segui os olhos para aquele movimento, estava arroxeado e eu senti meu sangue fervendo no mesmo instante chegou a dar estalos na minha cabeça.
— Hadassa.... caralho.
— Pai, não briga com ele por favor. Eu só acabei falando demais e ele se irritou. Eu não deveria ter dito que ele estava feito esses caras... viciados. — ela falou tudo rápido até que a voz falhou na última palavra, já não me olhava mais... havia abaixado a cabeça e estava mexendo no shorts.
— Hadassa... você poderia ter mandando ele ir pra puta que pariu. Ele não tem que te encostar. Não tem! — falei firme, a minha voz chegou a ficar mais grossa de tanta raiva que eu estava sentindo.— Mas pai...
— Amor, olha pra mim. — puxei seu rosto e ela estava outra vez com os olhos marejados. — Você já me viu alguma vez aumentar o tom de voz com sua mãe? Levantar a mão para machucar ela?
— Nunca. Mas é diferente.
— Não é. Amor, eu fui criado pra tratar a mulher como rainha, seja ela quem for. Nunca levantei voz nem mesmo pra alguma ficante por mais que eu estivesse puto. Eu me controlava ou deixava pra conversar quando os ânimos estivesse mais calmos.
— Não é culpa dele, pai. — choramingou e eu neguei.
— Em partes é sim, Hadassa... Não criei minha filha pra ficar nessa situação aí não pô. Ele já tá todo errado que tá usando a parada e não quer aceitar a porra de uma ajuda e agora quer te encostar a mão? Nem fudendo. — eu acabei me descontrolando e ela ficou quieta. — Você não vai ver ele. Não até ele se recuperar.
— Pai.. por favor não faz isso comigo.
— Não vai. E tá decidido e nem adianta ir atrás de sua mãe. Ela vai fechar comigo dessa vez. — eu falei firme e ela ficou cabisbaixa, saiu do meu colo e se sentou de volta no carona. — Eu te amo caralho, não tô fazendo nada por teu mal. Até tudo isso se resolver, você não vai ver ele.
— Tudo bem pai... — concordou em um sussurro e eu respirei fundo, passei a mão no rosto tentando tirar a tensão e liguei o carro.
Quando chegamos em casa, ela passou por mim feito foguete. Entrou no quarto dela e eu respirei fundo. Voltei de novo para fora de casa e entrei no carro, fiquei dando algumas voltas até decidir no que iria fazer, fiquei mais de uma hora nisso e por fim acabei voltando para a casa do Ret.
Estacionei e vi o Théo do lado de fora da casa, estava sentado no gramado do jardim e quando me viu engoliu a seco. Sentei do lado dele, mas não fiquei tão próximo para talvez evitar que meu corpo reagisse da forma que eu não queria e se isso acontecesse eu iria quebrar o meu afilhado.
— Me perdoa, padrinho. — falou baixo. — Eu não estava consciente. Me perdoa.
— Eu tô me segurando para não estourar tua cara, só pra tirar a prova de se você é tão fodão assim quando enfrenta um homem. Mas não seria justo. Você é um moleque e eu te quebraria muito facilmente. — eu confessei meio rouco e ele me olhou de olhos arregalados.
— Ela... ela tá puta comigo não é?
— Magoada. Ela está magoada. — ele engoliu a seco e coçou a cabeça como se estivesse em desespero. — Você não deveria ter levantado a mão pra ela Théo... caralho muleque, o teu pai e eu conversamos contigo sobre isso desde que tu era mais novinho. Porra, filho.
— Eu estava com muita coisa padrinho, antes dela chegar eu já tinha usado muito. Não esperava que ela aparecesse aqui. Eu... eu... eu tinha falado com ela que não iria usar mais, vacilei padrinho. Vacilei pô.
— Errou pra caralho, Théo. — ele tava segurando o choro igual com o pai dele faz.
— Meus pais já brigaram muito comigo. Eu... eu... eu acho que eles vão acabar até com o casamento deles por conta dessas paradas toda que eu tô fazendo. Pô padrinho, se eu soubesse que iria dar nisso tudo... eu nunca teria começado.
— Mas começou pô e não parou. Não adianta chorar agora, não vai mudar em nada. Tu tem que tomar a porra da atitude e ir procurar ajuda.
— Eu sei...
— Não parece que sabe.
— Eu posso ir com você? Pra ver a Dassa.
— Não. Você não vai ver ela. Não enquanto não iniciar algum tratamento.
— Padrinho... na moral, faz isso não.
— Eu tô protegendo a mulher que a gente ama, Théo... Você em sã consciência nunca teria feito o que fez hoje... Não consigo confiar em tu enquanto ta aí usando essa parada. Na próxima você pode muito bem machucar ela, não só com um apertão.
— Me perdoa padrinho... mas não me deixa longe da pretinha.
— Eu não tenho como não deixar, Théo. Não tenho. Quero proteger minha filha, caralho...
— Eu amo ela, padrinho. — confessou quase em tom de súplica e eu respirei fundo. Puxei ele para abraçar de lado e ele choramingou baixo.
— Se tu ama mesmo, vai se tratar pra ter ela do teu lado. Quem ama luta pra ter a pessoa ali, sempre. Muda o que tiver que mudar. Move um mundo inteiro pra depois ter o próprio mundo nas mãos. — aconselhei ele e veio a imagem da sereia na minha mente.
roi, leitorxs

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Maldita Vontade 》 XAMÃ
FanfictionPouco mais de quinze anos depois e tudo muda... as crianças crescem, amadurecem e começam a descobrir as coisas boas e ruins da vida. Um casamento fortalecido a base de muito amor, cumplicidade e carinho. Mas estaria Xamã no auge de seus quase qua...