quatro

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Eu estava sentindo meus olhos ardendo de tanto que já havia chorado e ainda estava dentro do carro, parada em frente ao prédio. Acho que no fundo eu esperava que ela se arrependesse no minuto seguinte e descesse correndo em puro desespero para me impedir de ir embora tão triste e chateada. Mas isso não aconteceu e nem iria acontecer daqui uns dias ou anos... minha mãe era extremamente calculista e fria, depois de fracassar no seu quinto casamento e ver o quanto eu me desviaria do que ela achava ser o certo e perfeito pra mim, era de se esperar que ela criasse uma personalidade própria, sem se importar se aquele jogo horrível iria me atingir ou me machucar.

Me acalmei aos poucos e dei a partida, dirigi até a casa do meu pai e minha mente ia a milhões, quando vi eu já estava chorando tudo de novo, estacionei o carro de qualquer jeito e entrei em casa passando voada pelo pessoal que estava na sala, escutei meu pai me gritando mas não parei para ver, subi indo direto para o meu antigo quarto e me joguei na cama, deixando o choro vir de vez.

Jason Carlos.

Você sabe onde ela foi, amor?

— Não sei, preto. Quer que eu fale com ela?

— Não...melhor eu ir. — selei a Melinda e subi as escadas pulando degraus, a porta do quarto da Ka estava aberta e ali do corredor já dava pra ouvir os choramingos dela.

Entrei no quarto, fechei a porta e me deitei na cama do lado dela, fiquei ali quieto até ela se acalmar e ir parando de chorar mesmo ainda dando alguns soluços, se moveu, deitou o rosto no meu peito e fez a mão segurar firme no meu cordão feito como fazia quando era pequena. Fiquei abraçado com ela até sentir ela muito mas calma, seus cachinhos se enrolavam nos meus dedos  e ela suspirou.

— Aonde que você foi amor, e porque chegou toda tristinha?

— Eu estava na minha mãe. Eu... fui conversar com ela, mas não deu muito certo. — sua voz falhava e eu selei sua cabeça. — Pai, você lembra que eu pedi para conversamos ontem?

— Lembro, mas eu fiquei exageradamente agitado com tua chegada, bebi demais e acabou não rolando.— expliquei e ela assentiu dando uma risada baixinha — Mas o que isso tem haver com a Natasha?

— Eu não voltei só para passar a semana, pai. Eu não vou voltar para Toronto. — ela disse e se levantou, sentando na cama e passou a mão no rosto.

— Não vai voltar? — perguntei animado e até me senti envergonhado em ter deixado aquilo tão aparente.

— Não pai... eu... eu desisti do intercâmbio e não quero mais fazer a faculdade de biologia. — falou apreensiva e eu estava confuso com  o tanto de informações.

— Filha, porque? — eu suspirei e ela deu de ombros, parecia pensar em como me dar uma resposta mais objetiva. — Aconteceu algo lá?

— Pai, eu só não quero mais. Só isso. Eu não quero me matar de estudar por algo que eu posso tá gostando agora e depois de formada posso odiar e exercer por pura obrigação e fogo no cu da minha mãe e aquele escroto do Alex. — completou ficando puta e eu me endireitei na cama.

— Já te falei que aquele cara não tem que se meter em nada da tua vida. Teu pai sou e e nem por isso eu fico te controlando ou te dando redeas sobre qual a porra da profissão que você tem que seguir e fazer na tua vida. — comentei já ficando puto, passei a mão no meu cabelo bagunçando tudo e respirei fundo pra me controlar.

— Eu sei, pai. — suspirou e ajeitou o cabelo em um coque. — Eu só quero ter o direito de seguir o que eu amo, fazer o que eu amo e tornar isso a minha vida e não o que eles dois querem me forçar guela abaixo, me entende?

— Conta pra mim o que você quer. — supliquei e ela abriu um sorriso sem graça. — Que foi, pretinha? É segredo, é?

— Pai...

— Faz assim, fecha os olhos e finge que eu sou a dona dos olhos azuis lá e confessa. — me referi a Melinda e ela gargalhou. — Conta pro pai, Ka. Eu quero saber e te ajudar.

— Eu quero ser como um carinha que eu conheço a pelo menos a minha vida inteira. Ele tem um história de vida linda e uma carreira ainda melhor, trilhou tudo dentro dos seus planos e até se surpreendeu com alguns que nem imaginava conquistar. Cantou pra poucos e depois para multidões, fez da música a sua vida e a música o fez encontrar o amor da sua outra vida.

— Akasha...

— Eu quero ser como o cantor Xamã mas ainda permanecer com os pés no chão como o Jason Carlos. — completou e eu a puxei para o meu colo, eu disse que iria me amarrar se isso acontecesse... mas agora o que eu tô fazendo mesmo é chorar. — Para de chorar, pai!

— Meu Deus amor, eu juro que estava suplicando por esse dia mas acho que esqueci de me preparar para quando ele chegasse. — suspirei e ela riu, secou meu rosto na ponta de sua blusa e selou meu rosto.

— Você me apoia então, né?

— Porra... claro que sim. Vou te ajudar em tudo, faço até o mesmo o mundo parar em seus pés, você quer? — perguntei entre risos e ela gargalhou.

— Eu te amo pai, bem muitão!

— Também te amo amor, você é a dona da minha vida e eu vou te ajudar, cuidar de tudo pra você. — alisei seu rosto e ela sorriu. — Não quero ver você chorando de novo, ouviu?

— Eu só fiquei chateada com as coisas que minha mãe me falou... mas vai passar.

— Claro que vai e depois sua mãe vai se arrepender quando te ver no palco do Rock In Rio.

— Você sempre sonha tão alto assim? — me questionou e eu assenti.

— Desde que o sonho tenha você, sua irmã ou sua mãe... eu sempre vou sonhar o mais alto possivel. — ri e ela assentiu. — Acho que o impossivel também.

— Você não existe, pai! Sério!

— Sou foda né? Fala aí.

— Ah pronto... pode nem elogiar. — saiu do meu colo rindo e eu gargalhei.

— Tá melhor?

— Tô sim, depois pode falar com tio Neo pra vir? Tenho algumas músicas já prontas. — começou a contar toda empolgada e eu fiquei admirando, ela me mostrou uns letras que tinha trago como bagagem de Toronto... e porra, a neguinha era brabrinha demais.


Maldita Vontade 》 XAMÃ Onde histórias criam vida. Descubra agora