Never Not - [RamKing] (Tattoos Together 2)

A mais plena paz antes do caos

P.O.V. Ram

     Sou acordado com alguma gritaria do lado de fora, e um anúncio no alto-falante logo em seguida. Precisávamos ir comer antes de partir para plantar.
Demorei alguns segundos pra perceber que ainda estava deitado no peito de King, o que me trazia um certo conforto. Ergui um pouco a cabeça e descobri seu olhar muito bem acordado, que provavelmente já me observava havia um tempo. Ele sempre acordava antes de mim, mesmo que tivesse dormido mais tarde.
     - Bom dia, dorminhoco - meu namorado sorriu, ajeitando meu cabelo caído no rosto.
     - Bom dia - a verdade é que eu queria muito ficar ali deitado mais um pouco, mas a atividade tinha horário, e King já havia sido gentil demais em permitir que eu ficasse naquela posição por tanto tempo, mesmo depois de ele já ter acordado. Dei-lhe um último aperto antes de me sentar, ainda um pouco sonolento - Como foi a conversa com Boss ontem? Desculpa, eu estava tão cansado que não consegui esperar acordado.
     - Não tem problema, Cool Boy. A conversa foi melhor do que eu esperava.
     - Mesmo? Como ele está? - eu poderia não ser tão próximo de Boss quanto King, mas seu estado era capaz de preocupar qualquer um. Quando eu o via, chegava até a ficar um tanto mal; com medo de que a rotina cheia de King e seu futuro promissor pudesse de alguma forma tirá-lo de mim, como aconteceu com Mek e Boss. Parte do valor inestimável do presente que me deu no nosso aniversário foi por ter me garantido que não desistiria de mim. Eu desejava que Boss pudesse encontrar essa segurança um dia.
     - Ele finalmente botou tudo pra fora. Ontem ele estava bem mal, mas ter desabafado fez bem. Aposto que ele estará novinho em folha rapidinho.
     - Viu? Eu disse que você conseguiria ajudar! Não conheço ninguém me...
     - Ei, vocês dois! - a voz de Bonn me interrompeu, seguida de algumas chacoalhadas na barraca - Venham logo comer ou vamos embora sem vocês!
     - Já vai! - King respondeu, fazendo Bohn parar de encher o saco - Obrigada pelo apoio, Cool Boy. Significa muito pra mim - meu namorado me roubou um beijo na bochecha antes de se levantar e ir se preparar para a saída, me deixando ali, bobo e imóvel por mais alguns segundos.

     Talvez tenha sido impressão minha, mas plantamos muito mais que no ano passado. Não apenas pela maior quantidade de pessoas, mas também por estarmos nos divertindo mais. Eu e King sozinhos plantamos umas três ou quatro, e julgando pela área coberta de mudas com certeza não haveria mais espaço para plantarmos aqui nos próximos anos.
     Boss realmente parecia estar bem melhor, o que tornava a atmosfera ainda mais leve para todo mundo. Pela primeira vez em muito tempo, ouvimos  uma de suas piadas extremamente ruins. Também deve ter sido a primeira vez que realmente rimos delas... mais de alívio por ter nosso amigo de volta mesmo.
     Depois da atividade principal pudemos nadar, jogar bola, tirar mais fotos e aproveitar para curtir o pouco tempo que tínhamos longe da cidade. Não me lembro de ter me divertido tanto desde muito tempo. Se eu soubesse a confusão que encontraríamos na volta, eu com certeza teria aproveitado melhor a paz.

     Com o anoitecer, o adiado jogo com bebidas voltou como sugestão, e dessa vez todos quiseram participar. Bom, todos menos King, que alegava estar com dor de cabeça. Desisti do jogo na hora para fazer companhia e cuidar dele caso fosse preciso. De qualquer forma, eu nunca fazia muita questão quando o assunto era beber.
      Mas, para a minha surpresa, King parecia muito bem quando chegamos na barraca. Ele com certeza não ficava assim quando tinha dor de cabeça. Não demorei muito pra sacar que não pretendia descansar.
     - Acho que depois dessa ninguém mais vem encher o saco - meu namorado deu um sorriso maroto - Eu até que gosto de pôquer, mas estava esperando por um tempinho sozinho com você... - ele se aproxima e deixa um leve beijo na parte lateral do pescoço, me fazendo arrepiar inteiro - Espero que não se importe.
     A verdade é que eu também andava esperando por momentos mais íntimos. Era bom ter amigos por perto, mas de vez em quando realmente queríamos a privacidade para aproveitar como um casal. Mal ele sabia o quanto tive que me segurar quando fomos nadar mais cedo... e não pude fazer nada com tanta gente ao redor. Chega a ser um alívio poder ver que não sou o único que se sente assim.
     - Você sabe bem que não me importo nem um pouco - retribuí o sorriso, agarrando sua cintura e unindo nossos lábios em um beijo caloroso - Eu não trocaria isso por nada.
     Seu sorriso radiante me fez querer me entregar ainda mais. Era mesmo possível que eu o amasse tanto? Nesses momentos eu tinha a certeza de que faria tudo por ele. King era valioso demais pra mim, e eu seria capaz de quebrar a cara de qualquer um que ousasse fazer qualquer coisa contra ele ou contra nós.
     O desejo e necessidade que sentíamos um do outro veio a nós com tudo, e naquela noite fiz questão de tocar, beijar e amar cada centímetro do seu corpo.

    
     Foi ainda mais difícil acordar na manhã seguinte, mas nosso último dia no acampamento nos aguardava. Fizemos uma longa trilha na floresta, e os monitores decidiram fazer uma gincana de encerramento junto a uma comemoração de despedida dos seniors no final da noite. Afinal, seria o último ano de viagens de faculdade deles.
     Na gincana, eu e King acabamos em times diferentes, mas era até divertido competir com ele. O mais engraçado foi ver suas caretas no cabo de guerra, que meu time acabou vencendo com certa facilidade. Mas minha glória não durou muito tempo, já que depois da corrida, da queimada e de mais umas 5 atividades, o time dele ficou na frente por umas 3 vitórias.
     A comemoração final fez algumas pessoas chorarem, inclusive Boss e Bonn, que pareciam duas criancinhas que não queriam crescer de jeito nenhum. Não vi meu namorado derrubando uma lágrima sequer. Com de costume, ele se encarregou de consolar os outros.
     Até eu acabei ficando triste. Foi quando caiu a ficha de que aquela provavelmente seria a última viagem que faríamos todos juntos. Qualquer outra viagem proposta pela faculdade no próximo ano não teria a mesma graça, e eu não gostaria de ir sem King. Ele inclusive chegou a notar minha melancolia quando terminou de consolar os amigos, me levando para uma parte mais vazia do gramado para sentarmos e aproveitarmos o céu estrelado enquanto conversávamos.
     - O que foi, Cool Boy? Você não é um senior ainda, lembra? Com certeza poderá ir em outras viagens depois dessa.
     - Mas você não vai estar junto...
     - Ah, nem se preocupe com isso - senti seus dedos se entrelaçando nos meus, transmitindo confiança - Podemos fazer tantas outras viagens juntos! Só eu e você.
     - Mesmo? Só nós dois? - A ideia me soava maravilhosa. Uma lista enorme de lugares que eu adoraria visitar com ele me veio à mente quase de imediato.
     - Sim! - ele sorriu - Mas também podemos chamar os outros de vez em quando, se preferir.
     - Hm... - fiz bico, sabendo que ele adorava - Gosto muito deles, mas por enquanto me empolguei com a ideia das viagens só nós.
     - Combinado então, fofão - King riu do meu biquinho e deu um aperto carinhoso em minha bochecha, dificultando a minha tentativa de não corar.

     Depois de um último dia tão cheio, acordamos todos na manhã da volta parecendo zumbis. O ônibus nunca esteve tão quieto... exceto por alguns roncos que não me dei o trabalho de identificar. Eu também tentei dormir o máximo possível durante o trajeto, já que chegando em casa eu e King teríamos que correr para o almoço marcado na casa da minha mãe.
     Acabei dormindo até demais, já que trânsito agitado da cidade acabou nos atrasando. Do ponto de chegada na faculdade, tivemos que ir direto pro almoço, com malas e tudo. Sei que minha mãe não se importaria, então estava tudo tranquilo... ainda.
     Toda a minha paz e felicidade dos últimos dias pareceu se estilhaçar no chão como um copo de vidro quando tocamos a campainha da casa da minha mãe, mas não foi ela que atendeu a porta.
     - Pai...