O que o futuro guarda para nós

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P.O.V. Ram

     Quando chegamos em Bangkok, tive a impressão de que a cidade estava menos agitada que o normal. Claro, estava mais vazia porque as pessoas costumam viajar nessa época, mas havia algo a mais. Talvez fosse apenas eu... que me sentia tão em paz que já não me incomodava com a cidade apressada.
     Acho que acabei me perdendo até demais nos meus próprios pensamentos e boas memórias dos últimos dias durante o percurso, já que nem percebi o caminho estranho que King decidiu tomar para casa. Eu já ia perguntar o que estávamos fazendo perto da universidade, mas antes que eu pudesse questionar, ele já estava estacionando em um lugar meio aleatório.
     Era uma rua residencial tranquila, enfeitada com árvores altas. Por mais que fosse bem próxima dos lugares que eu costumava frequentar, nunca havia prestado atenção nela antes, e eu não fazia ideia do motivo de termos parado ali.
      - P'King? - chamei, tentando entender o que faríamos - Onde estamos?
      - Visitando a casa de alguém - ele respondeu, com um sorriso brincalhão, como se a resposta fosse óbvia. Meu namorado desligou o carro e saiu com pressa, tendo tempo de abrir a porta pra mim do outro lado.
     - A casa de quem? - perguntei, enquanto saía do carro.
     - Da minha vó... - ele respondeu, tomando minha mão e andando com pressa até a casa, evitando mais perguntas.
     Eu já conhecia a avó de King, e ela era um doce, então não havia motivo para ficar nervoso. Mas só me encontrei com ela na casa dos pais dele e nunca tinha visitado a casa dela antes, por mais que fosse o cenário de muitas das histórias de infância do meu namorado.
     Por fora, a casa não parecia ser muito grande, mas isso era bom... transmitia conforto e tranquilidade. Era bonita como uma casa de filme, e o jardim da frente era tão bem cuidado que pude saber na hora de quem meu príncipe das plantas havia puxado o gosto por jardinagem.
     Quando chegamos à porta, esperei King tocar a campainha. Ao invés disso, ele simplesmente tirou uma chave do bolso e abriu a porta, como se fosse sua própria casa. Isso não teria sido tão estranho se encontrássemos sua avó do outro lado da porta, esperando por nós, mas a sala estava vazia. Literalmente vazia.
     Não haviam móveis, quadros, tapetes nem plantas. Não havia sinal algum da avó de King ou da comida caseira gostosa que ele enaltecia sempre que lembrava. Éramos apenas eu, ele, paredes brancas e minhas incontáveis dúvidas.
     - Minha vó está se mudando - King explicou  - Ela está precisando de alguns cuidados especiais, e essa casa já se tornou grande e solitária demais pra ela. Sem contar com as escadas, que ela tem dificuldade de subir - seu sorriso pareceu um pouco triste de repente, então segurei sua mão na tentativa de confortá-lo - Tenho lembranças maravilhosas nessa casa. Queria mostrá-la pra você.
     Olhei em volta mais uma vez, dessa vez imaginando como a casa seria antes, e como o cara que eu amava havia crescido correndo e brincando ali. Pela primeira vez, imaginar uma criança não me causou calafrios.
     - Eu achei ela incrível - sorri - Não duvido que tenha se divertido muito aqui.
     - Gostou mesmo? - ele me olhou nos olhos, e de repente pareceu uma conversa bem séria - Por favor, seja bem sincero.
     - Claro! É adorável - acariciei sua mão, retribuindo o olhar - Por que?
     - Porque... - seu sorriso caloroso voltou, e pude ver seus olhinhos brilhando como nos momentos mais especiais - Ela pode ser nossa.

P.O.V. King

      A expressão surpresa de Ram foi impagável. Eu queria muito ter gravado... mas ao mesmo tempo eu sabia que não teria conseguido desviar o olhar nem se quisesse me concentrar na gravação. Um grande ponto de interrogação parecia estar impresso em seu rosto.
     - Estou pensando em comprar a casa - expliquei - Minha vó vai ficar com os meus pais pra eles cuidarem dela e não vai precisar comprar um apartamento novo, então ela disse que poderia dar um ótimo desconto caso quiséssemos mudar pra cá. Na verdade, foi ideia dela. Ela sabe o quanto eu amo essa casa.
     Meu Cool Boy permanecia imóvel, como se ainda estivesse processando a informação, mas sua expressão me parecia uma reação boa, então continuei.
     - Eu tenho um dinheiro guardado, e agora tenho um emprego... é uma oportunidade única, e veio no momento perfeito. Eu sei que a casa não é assim tão grande mas...
     - É perfeita - ele enfim se pronunciou, abrindo um sorriso enorme antes de me tomar em um abraço apertado.
     - Então... topa entrar nessa loucura comigo? - perguntei, já eufórico.
     Ele voltou a me encarar, com um olhar carinhoso e o sorriso de cachorrinho contente que eu achava extremamente fofo.
     - Essa e qualquer outra.
     Tentei me conter pra não virar ou explodir de felicidade, mas eu provavelmente já estava vermelho como um tomate àquela altura.
     - É um grande passo pra nós, Cool Boy - lembrei, ainda incrédulo.
     - Eu sei - ele suspirou, radiante - Mas estou pronto se você estiver.
     - Então... acho que teremos um novo lar.
   

(Alguns meses depois...)

P.O.V. Ram

     É estranho lembrar que moramos aqui há menos de um ano. O ambiente se tornou tão familiar tão rápido que é como se sempre tivesse sido minha casa. Havíamos escolhido todos os móveis e decorações juntos, no nosso estilo, e é claro que haviam plantas pra todo lado, então cada cantinho tinha um conforto especial.
     Os cães também estavam felizes da vida, e aparentemente não sentiam nenhuma falta do apartamento antigo. Agora eles tinham um jardim só pra eles e mais espaço pra correr, o que me agradava tanto quanto a eles. Acho que todos concordamos que a mudança foi a melhor decisão.
     Tudo isso ajudava bastante, já que meu último ano de faculdade estava uma loucura e eu sempre precisava de um lugar tranquilo pra estudar e descansar. King também andava trabalhando muito, sempre engajado em algum projeto novo na empresa, e eu chegava a questionar como era possível uma pessoa só cuidar de tanta coisa; mas ele sempre chegava em casa e sorria pra mim, mesmo quando estava exausto, e eu conseguia ver que estava feliz com o que fazia. Era a melhor parte do meu dia.
     Costumávamos deitar juntos na rede que penduramos em frente ao jardim, só pra conversar e descansar, enquanto tacávamos brinquedos para os cachorros e os assistíamos trazendo de volta, pedindo por mais. Eu sentia um tipo de felicidade que nem sabia que existia. Não era algo momentâneo ou por um motivo específico, mas simplesmente uma segurança constante, de que independente do quão corrido ou estressante fosse o dia, eu sempre voltaria para casa e descansaria com minha pequena família. Quer dizer... se é que eu, King, três cães e mais incontáveis plantas, que meu namorado considerava filhas, podemos ser considerados uma família "pequena".
    Eu tinha cada vez mais certeza que queria aquilo pra sempre. Queria ver ele chegando em casa todo dia e acompanhar cada uma de suas conquistas. Queria poder abraçá-lo e beijá-lo pra recuperar minhas energias. Queria poder passar a vida com ele, e seria suficiente. Eu me esforçaria pra expressar isso sempre que possível e, um dia, tomarei a iniciativa oficial para que se torne realidade. Até lá, descobriremos o que o futuro guarda para nós.

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Oi gente! Como estão?
Mil perdões pelo sumiço enorme, minha vida virou um caos nas últimas semanas KKKK
Esse é o penúltimo capítulo de Never Not, e em breve teremos um último capítulo mais que especial. Muito obrigada por acompanharem até aqui. Vocês são incríveis!❤️

Never Not - [RamKing] (Tattoos Together 2) Onde histórias criam vida. Descubra agora