Capítulo 2

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Mais uma aula de Lucero e eu tentava prestar atenção em sua explicação sobre a citologia humana, mas só conseguia ver o seu olhar triste que havia voltado pela segunda vez naquela semana. Olhei pela janela e vi o sol escaldante bater na calçada, o que não condizia com sua blusa branca de manga longa e sua calça preta que cobria as suas pernas.

Só voltei a mim quando percebi o olhar de todos, inclusive o de Lucero, em minha direção.

− Querida, tudo bem? – Lucero perguntou carinhosa.

− Sim. Perdão, eu me distraí. – eu sorri sem graça.

− Sem problemas. – Lucero encarou séria alguns alunos que davam uns risinhos debochados para mim, fazendo-os pararem. – Eu perguntei quais são as funções da membrana plasmática numa célula.

− Ah, é dar forma a célula, além de controlar as substâncias que entram e saem dela. – eu falei sem hesitar.

− Está certíssima. – Lucero forçou um sorriso e respirou fundo.

Eu franzi o cenho ao ver Lucero fazer outras perguntas para todos os alunos com a voz embargada. Os minutos se passaram e ela começou a respirar ofegante enquanto transpirava até que o livro caiu de sua mão.

− Com licença, meninos. – Lucero saiu correndo.

Eu não fiquei a tempo de ver as piadinhas sem graça dos meus colegas e corri atrás de Lucero. A encontrei atrás da sala, em um lugar desabitado da enorme escola. Ela respirava com dificuldade encostada à parede e com os olhos fechados.

− Professora Hogaza, eu posso ajudar em alguma coisa?

− Não, eu quero ficar sozinha. – Lucero falou sem me encarar.

− Tem certeza? Olha, você não está bem e... – eu fui interrompida.

− Eu já disse que não tenho nada e não dei autorização para você sair da sala! – Lucero gritou.

Eu me encolhi, afinal Lucero nunca havia falado daquele jeito comigo. Na verdade, eu nunca a vi levantar a voz para ninguém, sempre era doce e calma. Mas voltei a me aproximar ao vê-la caindo lentamente sentada no chão e colocando a cabeça entre as mãos, chorando copiosamente.

− Eu posso me sentar com você? – eu me abaixei lentamente.

Lucero assentiu sem me olhar e eu me sentei devagar do seu lado, abraçando minhas duas pernas. Ficamos em silêncio enquanto seu choro e sua respiração cessavam gradativamente.

− Me desculpa por isso, você deve estar me achando louca agora. – Lucero colocou as mãos no rosto.

− Ei, é claro que não, todo mundo tem seus momentos de fraqueza. – eu dei de ombros.

− Não é a primeira vez que isso acontece, mas você é a primeira pessoa que presencia. Então, por favor, eu peço pelo que você mais ama que não conte a ninguém. – Lucero segurou minha mão.

− Fique tranquila, seu segredo está guardado comigo. – eu coloquei o cabelo de Lucero atrás da orelha com a mão livre enquanto a outra ainda estava embaixo da dela. – Mas você quer me contar por que fica assim?

− Eu adoraria, mas temos que voltar para a aula. – Lucero olhou o relógio em seu pulso e torceu a boca.

− Mas o horário já está acabando e você sabe muito bem que eles adoram quando os professores faltam. – eu revirei os olhos e ri.

− Tudo bem, mas se nos encontrarem aqui, nós teremos problemas. – Lucero apontou para mim com a expressão divertida.

− Quanto a isso, eu posso resolver. – eu me levantei. – Vem comigo. – estendi a mão.

Minha Querida ProfessoraOnde histórias criam vida. Descubra agora