Capítulo 36

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HORAS DEPOIS

Nós continuávamos sentadas no chão, abraçadas e cansadas de chorar até que a porta se abriu novamente e Rodrigo entrou carregando duas marmitas e nos entregou.

− Eu não quero. – eu falei séria e afastei o prato.

− Deixa de frescura e come. Você não pode ficar sem se alimentar. – Rodrigo respondeu.

− Desde quando você se importa com isso? – eu ergui a sobrancelha. – Se você já tentou uma vez matar o meu bebê, pode muito bem tentar de novo.

− Isso não me interessa mais. – Rodrigo sorriu.

− Por quê?

− Porque eu vou vendê-lo assim que ele nascer. – Rodrigo falou simples.

Eu olhei para Rodrigo, incrédula.

− Eu nunca vou permitir isso. – eu gritei, ficando em pé.

Rodrigo bateu no meu rosto e Lucero se levantou em um pulo e me puxou para os seus braços.

− Seu monstro! – Lucero gritou.

− Isso é para ela aprender a não gritar comigo. A comida está aí, comam se quiserem. – Rodrigo nos encarou com desprezo e saiu, batendo a porta.

Lucero tirou o meu rosto do seu pescoço e acariciou o local do tapa levemente, suspirando.

− Ficou vermelho. – Lucero suspirou.

− Por que ele é tão mau? – perguntei chorando.

− Ele endureceu o coração depois do que aconteceu, meu amor, mas nada disso é culpa sua, me ouviu? – Lucero segurou meu rosto e enxugou minhas lágrimas.

− Nós precisamos sair daqui antes do bebê nascer ou ele vai tirá-lo de mim. – eu solucei.

− E nós vamos. Eu não vou deixar que nada de ruim aconteça a vocês. – Lucero me abraçou.

Quando eu me acalmei, voltamos a sentar no colchão e Lucero puxou as marmitas para perto.

− Come, vai. Faz mal para você ficar sem se alimentar.  – Lucero pediu.

Eu peguei a comida e cheirei, sem perceber nada de estranho.

− E se ele estiver colocado alguma coisa?

− É por isso que nós vamos trocar. – Lucero pegou a marmita da minha mão e me entregou a dela.

− Não, mãe, isso pode te fazer mal.

− Não tem problemas. – Lucero começou a comer. – Come. – ela forçou um sorriso.

Eu suspirei, fazendo o que Lucero mandou e rezando para que pelo menos uma vez na vida, Rodrigo estivesse falando a verdade e não houvesse nada na comida. Quando terminamos, eu me deitei no colchão enquanto Lucero começou a andar de um lado para o outro, respirando fundo.

− O que foi? – eu perguntei me sentando.

− A escuridão... Quer me levar de novo. – Lucero ficou de joelhos com as duas mãos nos ouvidos.

Eu me lembrei de que Lucero não havia tomado os remédios e a médica já havia me deixado bem informada de que em situações de muito estresse, as crises poderiam voltar. Levantei e fui até ela, a erguendo com dificuldade e a abraçando com força enquanto ela chorava.

− Shhh, fique comigo, mãe. – eu sussurrei. – Isso vai passar, eu juro. – eu sentei no colchão e deitei Lucero no meu colo, fazendo-a agarrar minha barriga. – Respire fundo. Vai ficar tudo bem, seu neto e eu estamos com você.

Lucero fez o que pedi, mas continuava tremendo e chorando. Então eu me lembrei de uma técnica que eu havia aprendido e era o único jeito que tinha de acalmá-la.

− Feche os olhos e imagine que você está em um jardim florido, cheio de plantas e árvores. Sinta o aroma das flores, seus pés descalços na grama e escute as batidas do seu coração. Ele está em paz e feliz como nunca ficou antes. – eu percebi que Lucero estava se acalmando e sorri. – Então eu me aproximo de você, sorrindo e te dou aquele abraço forte que você tanto ama. Você me convida a sentar embaixo de uma árvore enorme, verde e linda e se deita no meu colo, exatamente como fez várias vezes antes. Sinta a paz te invadir, sinta o meu abraço... – eu apertei meus braços ao redor dela. – E fique tranquila, está tudo bem.

Meu coração sealiviou ao vê-la dormindo. Ela ainda soluçava quando passei as mãos levementepelo seu rosto, enxugando suas lágrimas. Lucero já havia me contado como ela sesentia nessas crises, ela tinha a sensação de que iria morrer e naquele momentomais ainda por estar naquele lugar escuro e trancado. Eu precisava mantê-laforte, assim seria mais fácil de conseguirmos sair dali. Encostei minha cabeçana parede e fechei os olhos, deixando as lágrimas escaparem silenciosamenteenquanto orava para Deus nos livrar daquele ser malvado que era o Rodrigo.

                                                                                         ~ * ~

Mais uma crise da Lucero :(

          

Minha Querida ProfessoraOnde histórias criam vida. Descubra agora