Capítulo XI

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Sonhei e acreditei que a fantasia era real

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Sonhei e acreditei que a fantasia era real. Aquelas exuberantes árvores cercavam as colinas com esplendor e as suas flores silvestres com seus perfumes adocicavam o ar, uma fragrância que incendiou meu coração e levou-me a lugares inimagináveis. Gostaria de não acordar e como no conto dos sonhos viver eternamente nessa encantadora realidade, mas as águas do revoltoso mar me tragavam para o meio e suas imensas ondas tinham como objetivo me afogar, naufragar era o meu destino, embora estivesse lutando já temia e aceitava que a morte e o esquecimento seria um caminho inevitável.

— Acorde, meu bom senhor! — Disse o fantasma de minha vida real, minha falecida esposa, Victoria, que ousa me atormentar durante o dia. — Sonhar é uma dádiva da qual não é merecedor.

— Não sabe como lhe odeio. — Expliquei. — Desejo que desapareça, mulher.

— Atormentar seus sonhos é meu castigo, senhor. — Disse segurando o meu maxilar perante suas mãos.

Perdi o ar, todavia assustado com o sobrenatural me encontrava.

— Não temas criança, pois a festa só está começando.

Desolado e curvado sobre as paredes daquela masmorra tentei me esconder, dos vivos tentei escapar e dos fantasmas procurei sossego, mas este fardo tinha que suportar. Como não esquecer dos inúmeros ratos que corriam sobre os meus pés e como não se espantar com a figura que a sarjeta da vida me converteu. Não havia graça ou muito menos beleza e porventura formosura. Gradualmente o tempo corroía e a sombra do que um dia fui se perdia, sendo que, a cada dia me enterrava sobre o lamaçal de pecados que eu mesmo, com todas as minhas forças, ousei construir.

Victoria era um produto de minha alma agoniada pelas trevas que durante grande parte da vida semeei. Não a culpo e deveras a condeno e nesse triste segundo que os ponteiros do relógio marcam três horas da tarde escuto pacientemente os sinos da igreja, é chegada a minha hora, não sei, mas terei que acostumar-me com sua inóspita e irritante presença.

Ela vive apenas em minha cabeça, mas contemplo-a perfeitamente e sua silhueta está igualmente divina como no princípio. O vulto dessa mulher desfila com harmonia diante dos meus olhos, ela deseja partir, sinto quando o observo, sua teimosia torna-se um alento para minha alma. Victoria mirou seus olhos para minha fraqueza e há muito tempo sorri com saudade, pois em sua cabeça uma tiara de flores vestia a mesma. Lembrei do princípio e logo percebi o quanto foi cruel e o quanto foi infeliz. Hoje estou sozinho, pois com solidão os campos cobri e as águas com os sangues dos inocentes manchei.

Fechei os olhos e quando novamente abri as lágrimas rolaram e infelicidade assenti brotar no fundo da alma, não tinha ninguém porque ninguém me amava, claro, a todos de alguma forma sufoquei com minha ganância, ninguém me amou e se amou um dia eu devorei esse amor com todo o meu ódio.

Aquela bela mulher vivia apenas em minhas memórias, e, memórias, são como histórias, história escrita em um livro que um dia serão lidas e recordadas e talvez apagadas pela velhice. Diferente de outros livros, o meu, era um conto de terror que o sobrenatural se acovarda com as atrocidades ali descritas em suas linhas, visto que, o medo era protagonista.

O meu medo era desenhado como o pior dos medos. Esse medo está retratado em uma única palavra, solidão.

Açúcar: A vingança do barão/ Livro 2 da série Açúcar.Onde histórias criam vida. Descubra agora