HUENINGKAI SORRIA do caixa. Era o primeiro dia de trabalho do irmão mais novo de Soobin, e ele não perderia isso por nada. Os dois haviam arranjado empregos em segredo, aceitando quase qualquer coisa que aparecesse.
Hyuka iria trabalhar no mercado do bairro. E Soobin como atendente em um restaurante, enquanto não conseguisse uma vaga em uma livraria. Os empregos eram de meio-período, pois não tinha a menor possibilidade de pararem de ir a escola sem que a mãe percebesse.
Soobin sorriu quando viu Kai atender sua primeira cliente, passando os produtos no leitor. O plano inicial era apenas Soobin trabalhar, mas seu irmão insistira que dois era melhor que um. E contra fatos não há argumentos.
O mais velho quase agradeceu de alívio quando Hyuka conseguiu terminar de atender a cliente sem nenhum problema. E seu irmão sorria como se tivesse ganhado na loteria. Iria ficar tudo bem, afinal.
Mesmo com a mãe ainda presa em casa, dizendo estar tirando férias antes de procurar um novo emprego - embora estivesse esvaziando todas as garrafas que Soobin não conseguira jogar fora -sendo um constante lembrete de que as coisas não ficariam tão bem assim.
Ele escolheu ignorar aquela vozinha chata que ecoava em sua cabeça. Pegou alguns produtos da pequena lista de compras e foi direto para o caixa de Hueningkai.
Era hora do teste de aptidão final.
(...)
Soobin não pode deixar de ficar um pouco hipnotizado pelo cabelo de Yeonjun, que recebera nova tintura. Se antes o azul desbotado chamava a atenção, certamente todas as cabeças se virariam para ver Yeonjun passar.
O cabelo estava mais macio e brilhoso. E nenhum tom de azul parecia certo para descrever, palavras mal serviam. Soobin apenas desviou o olhar quando Yeonjun o pegou olhando, deixando o garoto vermelho até os dedos dos pés.
- Quer tocar? Minha prima fez uma... acho que hidratação, o nome - Ele perguntou, depois de passar uns bons minutos rindo de Soobin.
Os garotos se sentaram no piso de carpete de algum dos vários corredores esquecidos da biblioteca. O tempo podia ser bem cruel.
Soobin sentiu o ombro de Yeonjun encostando no seu, os dois encostados em uma estante. Ele tentou dizer a si mesmo que não era nada demais.
Mas por algum motivo era.
E se tornou ainda mais, quando Yeonjun se deitou no chão, colocando a cabeça no colo de Soobin, que estava à beira de um colapso. Ele tentou raciocinar. Era para ele tocar no cabelo de Yeonjun. Sim, foi por isso que o garoto se deitou em seu colo.
Soobin cobriu parte da imensidão azul com os dedos. Era quase como tocar em nuvens. Não que ele já tivesse feito isso, mas imaginava que seria assim. O pouco do azul que escapava entre seus dedos brilhavam nas últimas horas do Sol de inverno.
Os dois ficaram ali, novamente naquele silêncio confortável, que crescia e se expandia, preenchendo toda a biblioteca . Uma fenda temporal só dos dois. Soobin imaginou que o cabelo de Yeonjun era o céu, e seus dedos as nuvens.
- Aquele dia que fomos ao parque - Ele começou, se culpando por quebrar o silêncio - Foi tipo um deja vú.
- Sério? - Yeonjun virou um pouco a cabeça para poder olhar Soobin.
- Sim, lá é um lugar especial para mim e... - Ele hesitou - Ah, deixa.
- Nem vem, começou agora termina - Yeonjun sorriu, travesso - Binnie.
Merda de apelido com efeitos colaterais.
- Tá - Soobin riu um pouco, pigarreando para limpar a garganta - Foi lá que eu fiz meu primeiro amigo, com quatro anos.
- Por que você só fez amigos com quatro anos? - Yeonjun levantou a cabeça e se sentou de frente para Soobin.
- A verdade é que eu não sei - Confessou - Mas enfim, ele me ensinou a brincar no balanço.
- Pera aí - Yeonjun pediu, fazendo gestos com as mãos - Quer dizer que, além de ter feito seu primeiro amigo, você só aprendeu a andar no balanço aos quatro anos de idade?! Eu convivo com um psicopata?
Soobin ficou sério, baixando a cabeça em um ângulo que só usava para assustar Hyuka. Com a voz quase em um sussurro, ele respondeu:
- Sim.
- Idiota! - Yeonjun riu, a risada rouca que poderia ser fatal se usada com o apelido de Soobin.
- Não, mas deixa eu terminar a história. Foi... incrível, pelo menos para mim. Só que eu nunca descobri o nome do garoto.
- Tipo aqueles amigos que a gente faz na praia? - Yeonjun franziu a testa - Interessante.
- Sim, só que ele foi meu único amigo. Até, bem, você. - Soobin disse a última palavra com um sussurro.
- Ah, Binnie. - Yeonjun respondeu, no mesmo tom.
- E continua! - Soobin fingiu não notar o olhar de quase pena no rosto do amigo - Eu tenho esses... sonhos.
Era a primeira vez que contava para alguém. Nem mesmo Hyuka sabia. E tinha saído tão naturalmente, como se precisasse ser contado para Yeonjun.
- E nesses sonhos, - Ele continuou - eu tento lembrar o nome do meu amigo.
- E até hoje nada? - Yeonjun encostou na estante oposta a de Soobin, ficando de frente para ele. Se os dois esticassem as pernas daria para os pés se tocarem.
- Bem, não. Mas você não me acha maluco?
- Eu poderia ter achado isso quando você disse que só aprendeu a andar de balanço com quatro anos. Agora nada mais me surpreende. - O azulado sorriu.
- Talvez você possa me ajudar, então vou contar. - Soobin olhou para os dois lados, e fez sinal para que Yeonjun se aproximasse.
Então Soobin contou tudo sobre o dia ensolarado em que aprendeu a voar.
(...)
Soobin e Hueningkai estavam na rua de casa quando viram o garoto moreno encostado em um poste. Subitamente, Soobin ficou na frente do irmão, servindo de escudo humano mais uma vez. Eles se aproximaram com cautela.
- O que foi agora? - Soobin questionou Kang Tae-hyun.
- Não é o que está pensando - O garoto estendeu as mãos - Eu queria conversar.
- Você sabe conversar sem bater? - Kai arriscou por trás do ombro de Soobin.
- Sim, eu sei. E era sobre isso que eu queria falar.
- Prossiga.
- Hueningkai, eu... sinto muito, não deveria ter batido em você por causa da Lia. E Soobin, desculpe também.
- Só isso? - Soobin perguntou.
- Hein? - Tae-hyun piscou - Ah, não, não!
Kang Tae-hyun se curvou.
E Soobin se culpou por desejar ter uma câmera consigo.
- Me desculpa mesmo! - Tae-hyun pediu, se curvando de novo.
- Ei, calma - Kai pediu - Já entendi que você está sendo sincero. Está desculpado.
Soobin e Tae-hyun encararam o mais novo. Simples assim, sem um resquício de rancor no rosto de Hyuka. Puro e genuíno perdão. Soobin se sentiu orgulhoso pelo irmão.
E ainda mais quando Kai completou:
- Seu pedido não é da boca para fora, tem significado.
(...)
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The book of you and I • Yeonbin
Fanfiction[CONCLUÍDA] Yeonjun precisa evitar ser expulso da escola e, para isso, o diretor lhe dá uma última chance. As condições? Passar a frequentar a biblioteca como ajudante, junto com o garoto mais estranho da escola e ainda com aquela velha bibliotecári...