Prólogo

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ESTÁ ENSOLARADO, o som das risadas das crianças preenchem o parque. Deve ser fim de semana, a julgar pela quantidade de crianças no playground. O farfalhar das folhas e a brisa da primavera abraça a todos, dando boas vindas.

Entre as crianças suadas lutando pela vez no escorrega, ele caminha até os balanços. Soobin brinca com a manga da blusa entre os dedos, nervoso. Todas as crianças aqui tem um amigo para brincar ou conversar, exceto ele.

O outro garoto, moreno, ocupa um dos balanços. É mais ou menos da sua idade e voa. Ele balança tão alto, tão sem medo. Senta no balanço ao seu lado. Soobin força o corpo para a frente e para trás, mas não avanço no céu como o garoto.

Ele para de balançar, olha para Soobin, e diz:

- Está fazendo errado.

- E como é o jeito certo? - Pergunta, envergonhado. Odeia errar.

- Estica as pernas e dobra os joelhos. Assim. - Ele faz devagar e Soobin começa a imitá-lo, um pouco confuso.

- Está indo bem! - O garoto elogia depois de um tempo, balançando no mesmo ritmo.

Aos poucos, perde o medo de cair e se entrega ao ar. Fechando os olhos, imagina que está voando muito, muito alto. O garoto faz o mesmo ao seu lado.

Passaram horas no balanço, voando. Foram astronautas, aviadores e pilotos. Pássaros, aves e insetos. Finalmente, Soobin tinha feito um amigo.

- Mamãe, olha! Eu sei voar! - Exclamou, ao ver sua mãe se aproximar com seu irmão mais novo no carrinho.

- Sim, filho! Eu estou vendo! - Ela sorriu. - Temos que ir embora, pode aterrissar?

Diminuiu aos poucos o impulso, até "aterrissar". Correndo até a mãe, abraçou suas pernas, cobertas com o tecido rosa do vestido que ia até as canelas.

- Posso ficar mais um pouco? - Pediu.

- Não, hoje não. - Ela lhe deu um sorriso triste. - Dá tchau pro seu amiguinho.

Soobin assentiu e esperou o garoto parar de balançar. Só quando ele ficou em pé, Soobin percebeu que deveria ser uns vinte centímetros maior que seu novo amigo.

Mesmo naquela época, ele já era maior que a maioria de seus colegas de sala, e garotos de sua idade.

- Eu não sei seu nome. - Ele o olhou, curioso.

- Soobin. - Respondeu, tímido.

- Tchau, Soobin. - Seu amigo acenou.

Depois de andar um pouco, Soobin se tocou que não sabia o nome do único amigo que havia feito nos seus quatro anos de vida.

- Qual o seu nome? - Gritou, já do outro lado do parquinho.

- Yeo...

E tudo ficou preto e se sentiu caindo. Não, não, não! Logo agora que tinha chegado tão longe. Ele precisava saber o nome dele e....

(...)

Acordou, sobressaltado e suado. Olhou o celular na mesa ao lado de cama. Quatro da manhã, tinha mais duas horas até o horário da escola. Duas horas é o que Soobin leva apenas para pegar no sono.

Desistindo, se levantou e arrumou as cobertas. Caminhou até a cozinha do pequeno apartamento, no mais absoluto silêncio para pegar água. No escuro, aproximou o copo do filtro e pressionou o botão. Depois de obter água suficiente, Soobin voltou para seu quarto, cuidando para não acordar seu irmão na cama ao lado.

Sentou no pé da cama, encarando a janela com a persiana aberta. A luz noturna o ajudava a dormir, mesmo que fosse a luz do poste e dos carros passando na rua do prédio. Pegou o bloco de post-it na mesa, ao lado do celular e a caneta. Anotou os cheiros, as luzes e as sensações novas. Juntou o pedaço de papel com os outros na parede.

Ele sempre sonhava com esse dia, mas sempre variava. Havia vezes em que só lembrava da sensação de balançar. Outros, que só recordava o rosto de sua mãe. Foi a primeira vez que teve a lembrança completa, faltando apenas dois detalhes.

Soobin passara anos tentando lembrar o nome do garoto que lhe ensinou a "voar". Perguntara para sua mãe, ela também não lembrava. Ele tinha chegado tão perto dessa vez...

E claro, como todos os outros dias, a mesma constante.

Soobin estava esquecendo o rosto do garoto.

(...)

The book of you and I • YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora