"Universos formados por palavras"

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A BIBLIOTECA estava cheia de atividade por conta da proximidade feira do livro. Duas semanas de pura agitação haviam se passado, deixando um espaço injustamente pequeno para Soobin passar com Yeonjun.

E por causa de todo o movimento na biblioteca, eles fugiram para o terraço na hora do almoço, mesmo Soobin morrendo de medo de perder o horário ou pior, ficar preso ali em cima. Yeonjun riu, o tranquilizando.

Soobin se sentia cada vez mais tentado a dar espaço para aquele seu lado ainda desconhecido que queria descobrir Yeonjun por completo, embora dissesse a si mesmo para ir com calma porque bem, era sua primeira vez fazendo tudo aquilo.

Mas com todo o planejamento, o emprego de meio período e as saídas com os amigos... ele precisava recuperar o tempo perdido. Soobin travava uma verdadeira batalha interna entre a timidez e seu lado desconhecido enquanto finalmente criava coragem para se sentar no colo de Yeonjun.

Eles pararam um pouco, recuperando o ar perdido. Yeonjun sorria, com as mãos espalhadas pelas costas de Soobin, o ajudando a se sustentar naquela posição, uma vez que ele era bem maior que Yeonjun. 

- Você já parou para pensar que beijar é algo nojento? Tipo, é saliva e...

- Binnie, por mais que eu tenha dito que nunca vou cansar de ouvir você falar, devo pedir que pare de cortar o clima do momento - Yeonjun disse, fingindo dar bronca - Então, vou ter que te calar temporariamente. 

- Ok, descartando todo o pensamento sobre saliva e... - Soobin parou ao ver a cara de bravo de Yeonjun - Sem objeções.

Depois de mais um tempo "recuperando o tempo perdido", os dois se sentaram lado a lado, dividindo o fone de ouvido. Era a versão digital do cd que Yeonjun fizera para Soobin, que o garoto não parava de ouvir. Primeiro, era simplesmente ótima e segundo, foi feita especialmente para Soobin.

Ele gostava como as músicas selecionadas juntas transmitiam uma mensagem, como as letras eram boas e como haviam músicas da Bebe Rexha também. Mais que isso, ele estava encantado pela forma que Yeonjun as juntara, criando um universo novo.

- Sinto que deveria retribuir o presente - Soobin disse - mas não sei como...

- Bem, uma tinta nova de cabelo seria bom, se faz tanta questão - Yeonjun apontou para os dois dedos de raiz que já haviam aparecido, destoando do azul.

- Ok, mas eu não vou pintar seu cabelo. Vai estragar.

- Eu acho que você se sairia bem, mas concordo que minha prima pinta meu cabelo muito bem - Yeonjun sorriu.

- Vai continuar com o azul?

- Acho que sim, não consigo pensar em cor melhor - Yeonjun arregalou os olhos de repente, como se lembrasse de algo - Eu preciso do segundo volume da senhorita peregrine!

- É viciante né? Parece que um acólito vai aparecer a qualquer momento e te puxar - Soobin se sentiu animado por ter acertado na escolha do livro - O segundo volume não tem na biblioteca, então vou te emprestar o meu.

- Uau, Choi Soobin vai me emprestar um livro. Isso é épico. Você não odeia emprestar? 

- Sim, mas confio em você - Soobin respondeu, maroto.

- Cara isso é tipo, você me entregando seu coração e dizendo que confia em mim - Yeonjun levou as mãos ao rosto - Isso é algo grande.

- Achei que já tivesse entregue há tempos... - Soobin murmurou baixinho.

- E eu achei que tivesse entregue primeiro sabe, no dia do cinema...

- Ah, eu queria ter terminado aquilo - Soobin sorriu.

- Por que não agora, garoto dos livros?

(...)

- Hyuka, por favor, tente não chorar descontroladamente, ok? - Soobin pediu, guiando o irmão pela mão nos longos corredores da clínica de reabilitação.

A clínica era afastada da cidade, localizada em uma pequena colina, dando certa privacidade para os pacientes. Não era muito grande, nem muito pequena. Mas tudo ali cheirava a limpeza, organização e comprometimento. Soobin nem quis pensar no quanto aquilo estava custando.

- Eu acho que isso é mais para você do que para mim... - O irmão observou, já notando na forma nervosa que Soobin esmagava sua mão.

Eles chegaram à porta do quarto indicado pela enfermeira, 403, e bateram na porta totalmente branca, apenas com a plaquinha com o nome da mãe escrito. "Choi Yoora". Ao ouvir uma fraca resposta do lado de dentro, os irmãos entraram.

Era um quarto modesto e pequeno, mas com muita luz natural por conta da enorme janela que Soobin sabia que sua mãe amava. Ela estava sentada, observando o jardim. Embora ainda muito magra, sua mãe parecia mais saudável.

- Olá, meus meninos.

- Oi, mãe! Eu preciso te contar tudo, olha... - Hyuka disse, quase se jogando na cadeira em frente a mãe, parando apenas por conta de Soobin, que estava com a mão em seu ombro.

- Kai, calma... - Soobin respirou fundo - Oi, mãe. A tia está bem e nós também. E a senhora?

- Bom -  Yoora riu dos filhos - Considerando tudo, estou muito bem.

- Isso é ótimo - Soobin sorriu - E a terapia?

- Bem também, é bom ver... que não estou sozinha.

Hueningkai colocou a mão sobre a mão de sua mãe, confortando-a. O peito de Soobin se apertou com o gesto. De certa forma, ele ainda se sentia responsável por tudo. Se apenas tivesse sido mais insistente...

- Soobin? - Sua mãe o chamou -  Preciso de um favor.

- Sim?

- Pare de se preocupar tanto, vamos ficar bem - Yoora sorriu, como sempre lendo os pensamentos do filho - Desculpe ter que fazer vocês passarem por isso.

- Calma, mãe. Já passou, o que importa é que estamos juntos - Hyuka disse - E vamos continuar juntos.

Os três pareceram fungar ao mesmo tempo. Sim, eles continuariam juntos, apesar de tudo.

- Hyuka, se importa de esperar lá fora? Preciso conversar com Soobin - Ela deu um sorriso doce ao filho, que logo saiu do quarto.

Com apenas os dois, Soobin voltou a sentir o velho incômodo. A velha culpa. Nem todas as palavras de conforto bastariam, pelo menos não por enquanto. Lá fora, a vida continuava no jardim e além dele. Quase uma injustiça momentânea.

- Soobin, eu acho... acho que minhas desculpas nunca serão suficientes. O que eu exigi de você, as responsabilidades...

Soobin queria gritar, chorar e se esconder ao mesmo tempo. Como ele poderia ficar bravo com a mãe, por sucumbir ao vício? Tudo que ele poderia fazer era ajudá-la para que nunca mais passasse por algo assim. E era isso que ele queria dizer a ela.

Mas as palavras não saíram.

Muitas vezes, a bebida funciona como um modo de escapar de uma realidade sufocante. O que ele nunca entenderia e nunca poderia, era como ele fazia parte de uma realidade assim, tão ruim.

Apesar de todas as dúvidas, ele não sentia raiva. Somente tristeza. E foi essa tristeza que fez com que ele desse um beijo no rosto da mãe e saísse em silêncio.

Porque seria assim, um dia de cada vez.

(...)

A autora quase esqueceu de publicar pois é uma irresponsável!

The book of you and I • YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora