Cold

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Mesmo que tudo estivesse uma merda, sabia que lá no fundo tudo ficaria bem.

E caso eu não encontrasse uma saída agora, talvez no final eu me encontraria e conseguiria ver a luz.

Luz.

Paz.

Talvez isso eu não teria ali. Na verdade não teria tão cedo.

Eu teria que suportar tudo, porque simplesmente mereci. Sim, as vezes a morte é a melhor saída. Mas nunca quis desistir, eu apenas... Eu apenas queria fugir. Fugir de toda essa dor, fugir de todo esse pesadelo. Algo me força a desistir, mas algo me pede pra ficar e aguentar. Pra simplesmente seguir, pra simplesmente ser forte. Mas tudo o que eu faço é ser menor, pequeno.

Ouvi um barulho vindo da porta de ferro, um cadeado sendo destrancado e um molho de chaves sendo abruptamente balançado. O policial apareceu, novamente, com aquele sorrisinho de chacota nos lábios. Que aflição dessas cenas se repetindo, dia após dia, como a porra de um disco riscado.

— Você tem visita.

Pulei da beliche em um instante. Poderia ser meu irmão vindo me ver. Eu queria que fosse, mas não demonstrei tanta emoção. Eu não queria que vissem a minha impolgação crescendo em meu peito. Deixei com que o policial me algemasse.

— Você é baixinho, mas vai que tenta fugir... — O policial voltou com aquele sorriso esquisito — Seu julgamento está chegando, amigo.

— Uh — Abaixei a cabeça, sem emoção.

Não respondi. Estava assustado demais pra isso. Não queria que ele visse minha total insegurança que sinto, não podia deixar transparecer tanto assim. O segui até a sala de visitas com um pouco de esperança em meu peito. Aaron. Talvez ele esquecesse que não quer falar mais comigo, talvez voltasse a ter proximidade ou quem sabe me apoiasse.

Ou talvez isso seja apenas insanidades e desvaneios da minha cabeça oca.

Chegamos a sala de visitas, um quarto escuro com uma luz fraca em cima que iluminava apenas uma mesa em baixo dela. Um rapaz de cabelos lisos e pretos estava de cabeça baixa. O policial ficou na porta e me pediu para sentar. Quando me aproximei, vi que esse rapaz era Bert. Meu coração gelou, minha pele tremeu e meu coração queria sair para fora.

Ele era meu melhor amigo de infância e me ajudou a assaltar o restaurante.

Mas assim que a polícia chegou, ele me largou lá.

Me sentei na mesa e Bert sorriu mas eu o fitei, segurando meu impulso de querer falar tudo o que eu queria falar. Do tipo "Por que diabos você me deixou para trás?" Mas me contive.

— O que faz aqui? — Perguntei tentando não mostrar emoção nenhuma.

— Quis saber de você — Ah, Bert, que mentira.

— Eu estou bem — Dei de ombros.

— Não está... — Como se você se importasse.

Abaixei a voz com medo de o policial ouvir.

— Por que naquele dia que fui preso você me deixou nas costas? — Não aguentei e falei. Eu fitava o mais profundo daqueles olhos azuis que agora se tornaram negros pelo chiarroscuro.

— Eu me arrependi — Ele abaixou a cabeça torcendo o lábio — Tipo, muito.

Tentei esquecer todas as lembranças que aconteceram naquele dia e o quão humilhado eu me senti.

— Eu saberia que um dia você sairia logo — Ele me olhou envergonhado — Achamos que nem é nada roubar um restaurante.

— Meu julgamento é em breve. E não acho que eu irei sair tão cedo — Fiz um abrupto silêncio depois disso.

Prison (Frerard) *RepostagemOnde histórias criam vida. Descubra agora