Chest

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A segunda apareceu com seu brilho matutino e salpicos entravam entre a grade suja e enferrujada da janela, clareando o quarto escuro, me fazendo acordar. Aquela era a única hora do dia que eu sentia o sol invadir todo quarto e era a única hora que me deixava esperançoso em relação à algo.

Eu estava deitado no peito quente de Gerard, seus braços estavam envoltos em meu corpo, me abraçavam e me aqueciam, mas um conforto não me livrava da culpa e não tinha mais o que ser feito. Eu precisava seguir em frente agora.

Quando seus olhos abriram, ele parecia estar odiando eu estar ali.

Eu simplesmente não entendi o porquê disso. Não entendia aquelas emoções ou mudanças de humor repentinas. Me atirei ao chão sujo e fiquei tentando compreender a situação. Parecia que eu nunca sabia a hora que Gerard mudaria seu humor. E isso me deixava tão totalmente cansado, tentando descobrir onde eu estara com a cabeça de tentar algo com ele.
Era impossível ficar perto de alguém tão instável assim.

– Me deixa, Frank. – Ele disse, irritado, como se quisesse que eu desaparecesse de sua visão.

- O que houve? - Perguntei tentando me levantar. Eu estava um pouco fraco, devia ser pela fome. Ele apenas colocou aqueles olhos severos sobre mim e esperou que eu falasse algo, mas eu não disse nada. Apenas ficou ali me analisando, por alguns segundos, antes de falar. Então ele respirou e respondeu:

- Fica longe de mim. Foi só um beijo, só isso - Ele virou o rosto para a parede e suspirou. Parecia que queria esconder algo ou alguma feição repentina. Eu que não devia me doer por algumas migalhas afetivas.

- É... Não significou porra alguma... - De novo, eu tentando me convencer. Eu deveria tentar convencer ele a procurar uma ajuda psicológica na cadeia. E eu também precisava.

Não significou porra alguma, certo. Eu era uma boa distração para ele. Ele queria me tornar um assassino, coisa que eu não sou, mas enquanto eu estiver aqui, sinto que devo dançar conforme a música.

– Você não pode agir assim, Gerard. – Eu disse como se finalmente pudesse o enfrentar.

– Você é a minha menina, Frank. Você quer que eu seja bonzinho com você, lírio do campo? – Ele soltou uma risada debochada. – Você ainda vai ter que comer muito arroz e feijão nessa cadeia para chegar aos meus pés. Não precisa tentar me dizer como agir.

Pela primeira vez, eu fiquei sem palavras. De fato, ele era um cara perigoso que mandava aqui, mas eu não queria que ele encostasse em mim novamente.

– Não encoste em mim novamente – Eu disse encarando seus olhos frios e distantes – Eu vou matar você se fizer isso novamente.

Um silêncio se instalou entre nós.

Ele se sentou na cama e abriu um sorriso largo, como se tivesse sido desafiado. Você sabe, Frank... Gerard gosta de desafios.

– Se eu fosse você, não diria isso... – Ele disse me alertando.

Eu precisava manter o controle.

Mas eu resolvi deixar quieto. Eu precisava que a conversa se encerrasse e fiquei em silêncio.

– Foi o que eu pensei – Ele deu de ombros e voltou a deitar na cama.

***
Abri a latinha azul enferrujada de cigarros da Free, tinha apenas três cigarros e uma foto velha. Era de Aaron, meu irmão, com meu melhor amigo Bert, sentindo um aperto no peito. Acendia o cigarro e observava os presos jogando algum jogo no qual eu não conseguia ver pela rodinha de pessoas, outros sentados em bando só observando. Estava tudo tão calmo naquela merda de lugar.

Prison (Frerard) *RepostagemOnde histórias criam vida. Descubra agora