Aaron

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Eu prefiro a vida e não a morte.

Não gostava de ver as pessoas morrerem. Sempre meus parentes morriam e eu faltava a escola naqueles dias como luto. Eram dias péssimos dignos de choros e despedidas. Pois bem, eu não gosto nem de lembrar. Matar é difícil. Momentaneamente você sente algo bom, mas depois a culpa é certeira, ligeira, dolorida; você tenta correr dela mas ela te alcança.

Eu cresci em um lar evangélico, supostamente dentro da igreja. Uma igreja pequena de NJ. Como a violência era frequente na minha cidade, minha mãe obrigava eu e meu irmão mais velho a vivermos na igreja toda a semana. Cultos de segunda a domingo. Era um saco.
O pastor dizia a mamãe que ela estava fazendo o bem "semeando na vida de seus filhos".

Eu tinha um irmão quatro anos mais velho que eu chamado Aaron e era muito parecido comigo. A diferença que ele era loiro de olhos claros.

Na escola ele tinha sua turma e não gostava que eu andasse com ele junto. Eu nunca entendi o porquê, mas acredito que ele não queria que eu fosse como ele.

Depois de um tempo eu fui pra quinta e ele já estava no colegial, mas sempre andava comigo pra me proteger de futuros idiotas.

Só que quando ele foi para o segundo grau, tudo mudou.

Ele me ignorava no recreio, mas depois em casa ele vinha falar comigo. Eu não entendia o porquê de ele fazer isso, mas acredito que seja algo normal de dois irmãos.

O tempo foi passando até chegar em seu último ano e ele mudar. Não falava comigo nem na escola, nem em casa.

As vezes, quando falava, ele queria brigar comigo por nada, além de ter desvios de humor o tempo todo. Eu sentia que algo estava ferindo ele, só que nunca queria me contar. Ele sempre foi muito fechado e eu todo tagarela por ai. Mas é compreensível que seja fechado ao ponto de não querer falar.

Fomos crescendo até ficarmos mais próximos e talvez ele viu que eu não era mais estranho como antes; eu fumava, andava de skate e curtia rock. Mas eu fazia tudo isso porque queria ser como ele, mesmo ele me aconselhando que eu tinha que ser diferente.

Saíamos toda noite. Ele era meu melhor amigo. Nossa mãe enlouquecia dizendo que não havia mais o que ela fazia para mudar nossas cabeças, porque o mundo já havia nos tomado.

Ficou assim até ela arrumar um cara com o dobro da idade dela e fugir deixando o coitado do meu pai. Meu pai que não suportou a dor da rejeição, acabou se suicidando meses depois de isso acontecer. E por consequência disso, Aaron e eu ficamos sozinhos.

A sensação de ter uma família destruída era horrível.

Mas Aaron era minha única família agora.

Depois se muitas festas, bebedeiras e pizzadas feitas por Aaron em casa, descobri o motivo da mudança em seu comportamento.

Fui procurar o isqueiro dele em sua escrivaninha. Queria acender um cigarro e quando abri a gaveta, estava lá um pacote de cocaína.

Aquilo me deu um ódio da porra. Ele tinha mentido pra mim! E eu odeio mentira. Aquela hora ele já devia ter viciado. Andei em passos largos em direção à sala chamando o nome dele até o encontrar sentado no sofá.

— Seu desgraçado! — Ele me segurou enquanto eu gritava.

— O que houve? — Ele perguntou, assustado. Eu não costumava agir assim.

— Você mentiu pra mim — Eu disse chorando e cai em seu ombro. Ele me abraçou, enquanto eu molhava sua camiseta com as minhas lágrimas.

— Você tá... Usando drogas — Apertei os olhos deixando mais lágrimas caírem, soluçando com dificuldade. — Por que não me contou?

Prison (Frerard) *RepostagemOnde histórias criam vida. Descubra agora