Capítulo II: Guardiões das Sombras

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Eram 9:50 da Manhã do dia 8 de Fevereiro de 2022, a aula de física já estava no fim, porém, a cena que se via na sala era indiferente. De vinte e dois alunos, dezessete aparentavam cansaço e desinteresse, apenas Auriel demonstrava algum interesse, ainda que já soubesse de tudo que o professor ensinava. Os outros simplesmente olhavam apenas para fingir que tinham tal interesse, a cena intrigou a celeste.

Já eram quase 10:00 horas, o horário em que o sinal liberava os educandos para um breve intervalo de meia-hora e logo Auriel observou ao seu lado, Marcel estava bem diante de seus olhos, passeando pela sala. A garota-anjo olhou em seus pulsos ainda vermelhos pela violência que sofrera mais cedo e logo começou a imaginar que os infernais já estivessem em cena. Ela pensa mais um pouco e logo se desgarra do seu corpo físico. Assim que saiu momentaneamente do corpo, percebeu que uma aura sombria a esperava.

— Aí está você, minha caça preferida – disse o infernal —, pronta para ser domesticada pelo instrutor Marcel, ou melhor, Abaddon, O Destruidor — completa se revelando.

— Não tenho medo de você! — rebateu Auriel — Já enfrentei inimigos muito mais poderosos.

— Dizem que quem não aprende por amor, aprende pela dor — disse Abaddon —, e você sentirá o peso da dor. Pode ter enfrentado quem for, mas eu sou Abaddon, o assassino de deuses.

— Quem é você pra falar de amor? — questionou a alada — Um verme rastejante como ti não sabe nada sobre isso; tampouco quem de nós irá vencer.

Ele rapidamente se lança ao ataque contra Auriel, a alada desvia de uma maneira épica e se posiciona para o combate. Não satisfeito, Abaddon a agarrou pela cintura e a lançou contra a parede com tanta força que ela rachou até no mundo físico. O demônio pegou a celeste nos braços e a lançou no chão com força desferindo socos no seu rosto em seguida, era evidente a superioridade do infernal. Ele a joga de um lado para o outro.

— Você é inocente, Auriel — disse o demônio a segurando pelos cabelos.

Quase desmaiada estava Auriel nos braços do infernal, a força dos golpes foram tantos que a deixaram tonta e sem reação, foi quando ela finalmente abriu a boca e disse:

— É um covarde, Abaddon. — falou ao sentir seus cabelos sendo puxados — Diga a seu mestre que nunca alcançará seu objetivo.

— Eu devia matá-la agora mesmo — disse em tom ameaçador —, mas vou deixá-la viver mais um pouco para conhecer meus companheiros.

— Aposto que devem ser tão covardes e sujos quanto você! — discorreu Auriel — Ainda vai pagar por ter me tocado!

— É mesmo? — desafiou ele.
O infernal que, então a segurava pelos cabelos, a lançou contra a porta com força.

— O que você tem de corajosa, tem de insuportável. — falou Abaddon — Passar bem, fraca! — completa desaparecendo em seguida.

Auriel estava caída e ferida, Abaddon a surpreendeu de tal forma que não teve como reagir, mesmo assim conseguiu encontrar forças para retornar ao mundo físico e materializar-se novamente. Ela percebeu que já eram 10:05 e lembrou-se do combinado com Zaniel e Periel; saiu da sala e foi em direção à cantina da escola para se encontrar com os rapazes celestes. Ao chegar, avistou os dois sentados num canto e Zaniel acenou para que ela viesse, foi o que fez.

— Aconteceu algo? — perguntou Periel.

— Abaddon, o demônio que guarda o portão do Inferno, eles já sabem de nossa presença. — disse Auriel — Ele me atacou no plano espiritual, não consegui reagir às suas investidas. Foi tudo muito rápido.

— Maldito — disse Zaniel —, como iremos achar os outros? De certo, existem mais deles.

— Será mais difícil do que pensava. — disse Auriel — Podem estar em qualquer canto desse lugar.

— Isso já deixa claro as intenções deles. — disse Periel — Você é o alvo principal, Auriel, por isso Abaddon a atacou, ele pretende atacá-la novamente, suponho.

— Foi o que ele me disse — respondeu Auriel —, Lúcifer procura uma forma de nos atingir.

— Não podemos nos separar — disse Zaniel.

— O que faremos então? — perguntou Periel.

— Ter mais atenção — respondeu Auriel —, qualquer coisa que acontecer poderemos ir ao outro plano e lá nos encontrarmos.

Ao observarem a quadra logo à frente, notam em um homem que ali jogava. Sua alma não era sentida pelos celestes, o que causou estranheza; tinha cabelos negros e lisos, alto, magro, pele branca e com um olhar esnobe. Fazia jogadas de mestre com a bola de basquete em mãos. Havia passado por quatro e fez uma cesta. Aquele era Pedro, com um dedo indicador, ele apontou na direção de um garoto amarelo, gordo e de cabelo marrom que ali estava. Era Gustavo, amigo da ex-namorada de Pedro, Helena.

— Essa baleia consegue fazer isso, Helena? — Perguntou.

— Olha o respeito, Pedro. — respondeu Helena — Gustavo não lhe fez nada.

— Ele nasceu — disse Pedro.

Helena era loira, branca e usava um par de óculos rosa. Assim como Gustavo, ela vestia a farda do colégio, composta por uma camisa azul e calça jeans da mesma cor.

— Me deixe em paz, Pedro. — pediu Gustavo — Sua sorte é que é o protegido da diretora.

— Cala a boca, baleia morta! — disse Pedro — Agora você vai pagar.

Ele agarra Gustavo e lhe dá um soco em seguida.

— Covarde — disse Helena —, deixe-o em paz!

— Você é minha, Helena! — respondeu Pedro, agarrando a garota.

— ME SOLTA! — gritou Helena.

A cena revoltou os celestes que estavam ali perto sentados, principalmente Auriel que não conseguia engolir a covardia de Pedro. Foi quando ela se levantou da cadeira e sentiu alguém puxando sua mão esquerda; era Zaniel tentando a impedir.

— Me largue! — ordenou Auriel — Não posso ver esse absurdo e ficar inerte.

— Não faça isso — pediu Periel.

— Preciso dar um jeito naquele covarde — respondeu ela caminhando em direção à quadra.

Ao perceber que Pedro acertaria um soco em Helena, a alada rapidamente correu e segurou a mão direita do agressor, se colocando entre eles.

— Respeitar as mulheres é uma coisa que deveria vir de berço. — disse a mulher-anjo — Se você não aprendeu, eu te ensino facilmente.

— Quem você pensa que é? — perguntou Pedro dando uma risada e falando com alguns rapazes que ali estavam — Agora as duas irão apanhar!

— Experimente! — desafia Auriel.

Ao tentar acertar um soco na alada, Auriel segurou a mão de Pedro e lhe deu uma joelhada na barriga, derrubando-o no chão. Pedro se levantou e tenta agarrá-la também, mas Auriel foi mais rápida e lhe deu uma cabeçada no nariz e um chute bem forte na virilha que o desequilibrou de vez. Foi derrubado na frente de todos por uma garota. Logo que o rapaz caiu, contudo, a ophanim sentiu uma aura demoníaca no local e não teve dúvidas.
Assim que sentiu a aura, a garota-anjo recuou, Zaniel e Periel foram em sua direção, enquanto Pedro ainda agonizava no local.

— Você está bem? — perguntou Helena — Não devia ter enfrentado ele assim.

— Não posso deixar que esse covarde fique impune. — disse Auriel — Por que não o denuncia?

— E-eu...eu não posso — respondeu Helena, meio cabisbaixa.

— Auri, quer dizer, Isabella, você está bem? — perguntou Zaniel.

— Não precisam se preocupar comigo — Respondeu Auriel —, se preocupem com as pessoas que não podem se defender de seus agressores.

— Você foi corajosa ao enfrentá-lo — elogiou Gustavo.

— Obrigada — respondeu Auriel —, mas fiz o que foi necessário.

Conversando sobre o ocorrido, nenhum dos ali presentes percebeu que Pedro se levantara com uma faca em mãos e agarrou Auriel, a puxando pelo pescoço e dizendo:

— Vai pagar, garota! — ameaçou — Ninguém faz isso comigo e sai vivo.

— Solta ela, agora! — pediu Periel — Não queremos confusão.

— O velho truque infantil –— disse Auriel em tom de zombaria, apesar do revés que sofrera.

— Eu sou Ronove, e você irá sentir a minha ira! — revelou-se comentando no ouvido esquerdo de Auriel.

Auriel não tinha se dado conta, mas Pedro, ou Ronove, estava a usar sua força demoníaca e tentaria matar a alada ali mesmo. Ele só não esperava um soco forte de Zaniel que o deixou tonto e o fez soltar Auriel.

— Agora sim foi na hora certa — disse Zaniel.

— Obrigada — agradeceu Helena.

— Helena e Gustavo, foi bom conhecer e ajudar vocês — disse Auriel.

— Eu que agradeço, Isabella. — disse Helena — Vocês nos salvaram hoje e temos uma dívida com vocês.

Alguns funcionários apareceram depois, mas a confusão já havia terminado. Um tempo depois, Auriel, Periel e Zaniel saíram de suas salas após o término da aula, contudo, ela estava diferente dos garotos. A celeste se mantinha pensativa e sequer prestava atenção no que Zaniel ou Periel diziam.

— Você está diferente — comentou Periel —, o que houve?

— Quando estava no chão lutando contra Pedro, eu notei algo estranho. — respondeu Auriel — Senti uma energia negativa no local, e não qualquer tipo de energia negativa, a força com ele que me agarrou não é normal de um ser humano. Tudo bem que não me feriu, porém, foi estranho.

— Deixa eu adivinhar — disse Zaniel —, Pedro é um demônio?

— Não qualquer um deles — respondeu Auriel —, Ronove, um dos líderes dos demônios e encarregado dos mortos. Aquela aparência também não é ele, lembro de ler uma enciclopédia sobre os mortos que falava que seu verdadeiro rosto foi danificado na rebelião e nunca curado.

— Uma coisa que eu notei, aqueles rapazes que estavam com ele, também não aparentavam ter alma — disse Periel.

— Porque também são infernais — disse Auriel — Abaddon e Ronove não os únicos aqui, há demônios menores que os acompanham. Nossa sorte é que eles não possuem permissão de nos atacar, ainda. Uma pena, estava ansiosa para pintar o chão de vermelho com o sangue deles.

— São muitos deles então — constatou Zaniel — Vamos ter trabalho pra limpar isso aqui, teríamos que habitar frequentemente o Plano Espiritual se quisermos pará-los.

— E todos deles querem acabar comigo. — disse Auriel — Eu sou o alvo principal deles, vocês correm risco se ficarem perto.

— Não vamos deixar que eles façam nenhum mal a você. — disse Zaniel acariciando o cabelo de Auriel — Já enfrentamos desafios piores que este, eu acho.

— Não sei o que seria de mim sem vocês! — disse Auriel abraçando os rapazes — Agradeço a Yahweh por ter os conhecido.

Auriel, Periel e Zaniel tinham bastante afinidade um com o outro e era esse sentimento que os unia nas situações mais difíceis. Como verdadeiros irmãos cuidavam um do outro e nunca faltava afeto, como deve ser em qualquer irmandade.

— Bom, esse clima está ótimo mas que tal darmos uma volta? — perguntou Periel — Salvador tem lugares interessantes, podíamos ir a um restaurante, só para conhecer mesmo, andar um pouco.

— É uma boa ideia — disse Zaniel —, assim aproveitamos para verificar se existem mais infernais nessa região. O que acha, Auriel?

— Só iremos se for conosco — disse Periel —, você é meio chata às vezes, mas amamos você.

— Eu mereço isso! — disse Auriel — Está bom, vamos, mas juízo. Não quero nenhum dos dois envolvidos em confusão. Fui clara?

— Se a Princesa dos Anjos falou, está falado — disse Zaniel.

— Fecha um pouco a boca antes que eu mude de ideia — pediu Auriel, ríspida como de costume.

Os celestes deixaram prédio dessa forma, ambos estavam rindo e se divertindo bastante apesar dos ocorridos da manhã.

Cavaleiros do Ar: Elos do ParaísoOnde histórias criam vida. Descubra agora