28_ Eu me lembro...

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28

   Hermione parou em frente à casa dos pais.
  A velha sensação de desamparo à invadiu, seu braço começou à coçar, no lugar específico da cicatriz, não havia lágrimas, só uma expressão de pedra em seu semblante.
  A mãe vinha sorridente com uma travessa de frango com batatas, que colocou sobre a mesa.
   Hoje os seus avós também estavam lá.
   E até a sua bisa, que tanto amava.
   Lembrou dela lhe trançando os cabelos e borrifando colônia, dizendo que era poção do amor.
   Ela olhava para o nada.
  Talvez, pela idade, não quisesse ou não conseguisse interagir tanto, mas Hermione teve vontade de sentar-se ao lado dela.
  O pai e a irmã saíram em seguida.
  Ela observou eles no jardim.
  Felizes, sorridentes e protegidos.
  Katherine estava linda, com um jeans da moda, camiseta e um belo casaco vermelho.  Posava junto com as amigas para uma foto.
   Era um almoço grande.
   Algo bem comum na sua família.
   Na verdade, antiga família.
   Um misto de sentimentos lhe invadiram.
  Na prática, aquelas pessoas não eram nada suas. Nem sequer sabiam que ela existia.
  Eles nunca a amariam!
  Nunca lembrariam dela, enxugou uma lágrima, nunca sentiriam saudades ou cobrariam a sua presença nas reuniões ou jantar de natal.
  Ela não existia!
  Ponderou se deveria sumir no mundo, um flashback da sua última conversa com Severus fez seu coração doer. Eles se viram mais uma vez, depois de ele ir até o apartamento dela.
  Encontrá-lo de maneira social, era a prova de que ele não estava mais à espreita, estava apenas vivendo a própria vida.
  Em uma noite, ela e Susan bebiam na sala da casa de Vera.
   Havia mais algumas pessoas por lá.
   Dois colegas de trabalho e um ou dois amigos que ela acabara de conhecer.
   Severus chegou com camisa e calça escura. Cumprimentou Vera e os demais de maneira amistosa.
   Lhe posou um beijo de cada lado do rosto, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
   Como faria com qualquer conhecido.
   Ao longo da noite, as coisas ficaram meio em suspenso. Trocas de olhares, acompanhados corações disparados.
  Pelo menos o dela estava.
   Ele parecia bem e parecia estar mais íntimo de Vera.
   Sentiu uma pontada no peito.
   Certamente era ciúmes.
   Ele observou que ela deu um corte no cabelo. Nada extremo ou exagerado. Mas estava mais bonita. Também havia emagrecido.
   Logico que sim, ela não curtia muito cozinhar apenas para sí.
   Achou que ela estava encantadora com camisa cor de rosa e jeans. Brincos de argolas e sandálias de salto alto.
   -Como você está?- Ele perguntou em determinado momento da noite.
  Ela o olhou surpresa.
  -Estou bem. E Como você está?
  Ele engoliu em seco.
  A olhou por longos segundos.
  -Ha um certo desconforto na solidão...ela foi minha companheira por tanto tempo. Mas eu sou um sobrevivente.-ela concordou balançando a cabeça-as vezes a gente só quer uma coisa e acaba esquecendo do resto.
   O que ele quis dizer com isso?
   Ela refletiu, enquanto ele continuava a falar
   -Algum sentido há de haver nisso tudo que passamos. você não acha?
  Ela deu de ombros.
  -Eu acho que as coisas são como tem de ser, no final.
   De longe, observando ela entrar em um táxi, ele se sentiu um tolo.
   Perdido de amores por aquela mulher pequena e geniosa. Queria ter o poder de controla-la, mante-la linda e dedicada apenas para ele.
   Sabia que não havia coerência nisso.
   Pelo menos agora, a sua vida social estava mais agitada.
  
   Hermione caminhou até na confeitaria.
   Estava feliz, em saber que Snape se importara em oferecer proteção para a sua família.
   A verdade, é que ela mantinha essas visitas quase reguláveis, para conferir se estava tudo bem. Mas estar ali, vendo-os seguir a própria vida, a magoava mais, do que ela era capaz de mensurar.
    Ela agora tinha um emprego, amigos...essa era a sua vida.
    Não queria e nem precisava viver chorando sobre fotografias.
  E então, lembrou por um segundo, de quando os seus olhos e os da bisa se encontraram.
   A velha senhora, sorriu, com os olhos rasos d'água. E lhe chamou com as mãos. Todos olharam para Hermione, que fingiu ser apenas uma pedestre confusa e surpresa.
  -Eu sinto muito mesmo, ela disse.
-Ah, tudo bem, respondeu o pai de Hermione. -Vovó jura que tem uma bisneta perdida por aí...vai que não é você!?
  Hermione olhou nos olhos da bisa e sentiu seu cheirinho.
  A senhora lhe afagou os cabelos.
  -Eu nunca poderia esquecer você, você está linda, Hermione!- Como ela sabia o seu nome!? Hermione sentiu o coração disparar, uma tontura estranha, era como se a sua cabeça fosse explodir- respire, meu amor. Respire...
- A senhora disse.
  -Você está bem querida?
  Sua mãe perguntou e ela apenas balançou a cabeça. Se falasse algo, caíria no choro.
  A mãe à olhava como se realmente se importasse.
  Então ela se deixou abraçar. Fechou os olhos, para absorver mais daquela sensação.
  Quando a mulher finalmente acalmou, ela disse que tinha que ir.
-Cuide-se.- Falou enquanto ela se afastava.- Eu nunca vou perdoar Alvo por não ter lhe orientado melhor.-Ela parecia bem lúcida agora- eu sabia que um dia você viria me visitar.
  Hermione voltou-se alarmada.
  E a senhora deu uma piscadela e sorriu.
  -Não fique tão sozinha. Aceite amor. Você merece companhia e cuidado..
  Ela apenas acenou com a cabeça.
  Um nó, que fazia a sua garganta doer.
  Ainda assim, algo dentro de sí estava mais leve.
   Não entendia, muito bem como a sua bisavó lembrava dela, na verdade, os outros explicaram, que ela sofria de Alzheimer em estado avançado, tinha dias que não reconhecia ninguém.
   Chegava a passar dias sem conversar e já não andava ou se alimentava sozinha...
   Mas ainda assim, ela a reconheceu...

   Remexia o seu chá distraída, pois precisava esperar para usar os armários de transporte, foi quando,  viu a sombra de alguém à sua frente.
   Levantou a vista e ele, o seu antigo amigo, a encarava. Os olhos expressivos, sob os óculos redondos. Ela levantou o queixo e recostou- se na cadeira para encara-lo.
   -Olá, Harry Potter.
   - Olá, Hermione.

...

  
  
 

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