Novo Ano. Novos Sonhos

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VII.

-O Murat é a última pessoa a querer que eu fale sobre os motivos da nossa separação... - começou Hande - aquilo que eu disse à imprensa na altura foi que nos tínhamos separado amigavelmente... Mas fi-lo por respeito ao Murat que me ajudou numa altura muito difícil da minha vida. O Murat enquanto namorado, enquando companheiro, não merecia essa consideração...

Melis olhou para Hande incentivando a que ela continuasse. Hande voltou a respirar fundo para ganhar forças para acabar a história. Melis pegou-lhe na mão e sentaram-se à mesa.

-A nossa relação nunca foi fácil - começou Hande - sempre tivemos altos e baixos, nunca foi uma coisa segura. A diferença de idades podia ser um motivo, mas... acho que não era impedimento... da primeira vez que nós terminamos foi porque eu descobri que ele me traía, constantemente. Uma das mulheres enviou-me uma mensagem a gabar-se que tinha passado a noite com ele. Eu não acreditei, claro. Mas aí ela enviou-me fotos... Eu confrontei-o, ele pediu-me imensas desculpas. Eu insisti e acabei por perceber que não foi só aquela vez, nem só com aquela mulher... Nós terminamos e eu segui com a minha vida.

Hande fez uma pausa, olhou para o jardim e parou o olhar no Kerem que brincava com o sobrinho.

-Sabes eu não sou pessoa de perdoar uma traição. Nunca fui.

-Mas... - perguntou Melis.

-Mas a minha mãe faleceu e eu entrei numa espiral depressiva... Não tinha vontade de viver...foquei-me no trabalho a 100%, não comia, não dormia... A minha família, que naturalmente também estava a sofrer, não sabia o que fazer, e então surgiu ele. E, num momento em que eu estava fragilizada, ele foi muito importante. Ouviu-me, esteve lá para mim... o facto de ele ter conhecido a minha mãe foi muito importante também, porque era mais uma ligação com ela. E, então quando ele começou a insistir numa segunda hipótese eu cedi...

Hande olhou para Melis:

- Porque não? Pensei eu na altura. Mas nunca mais foi a mesma coisa... As inseguranças estavam sempre lá, a dor da traição continuava presente, o amor já não era o mesmo da minha parte... Mas eu pensei que, com o tempo, as coisas fossem melhorar. Entretanto a minha irmã e o marido tiveram a bebé e eu vi-os aproximarem-se ainda mais. E aí percebi que era aquilo que eu queria... uma pessoa em quem eu pudesse confiar a 100%... E por isso, lutei pela nossa relação. Decidimos ir morar juntos. Entretanto, começou a pandemia e o isolamento. 24 horas por dia juntos. Eu tentei interessar-me por ele, pelas coisas dele... Mas não dava. Sabes quando tu estás com uma pessoa todos os dias e começas a... - respirou fundo - eu não quero dizer odiar... mas é quase isso... Eu já não o suportava, a ele, a voz dele, os sorrisos... O melhor dos meus dias era ir passear os meus cães, visitar a minha irmã ou conversar com amigos, com o Kerem...

Hande sorriu ao recordar-se...

-Nessa altura não havia interesse romântico da minha parte. Nós começamos a falar por causa do trabalho. O Kerem era a única pessoa com quem eu falava que não conhecia o Murat. Por isso, era uma lufada de ar fresco. Quando as gravações da série começaram, eu já tinha tomado a minha decisão de terminar tudo. Não fazia sentido estar a arrastar a situação. Eu já tinha abordado o assunto com o Murat. Ele não aceitava e insistia que não podia desistir tão facilmente...foi quando começaram as contantes mensagens e chamadas, os ramos de flores gigantes, as visitas surpresa ao set...

-Para marcar território! - concluiu Melis.

-Sim, provavelmente... sabes, naquela altura, as horas que passava a gravar eram as melhores horas do dia para mim - recordou sorrindo - Eu era finalmente feliz nessas horas. Depois quando ia para casa era um desânimo completo...

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