Epílogo

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      A Mansão dos Malfoy erguia-se, as paredes altas e a decoração fria dando a Meredith a sensação de estar num palácio que um dia fora rico e bonito, agora simplesmente tão carregado de Magia Negra que a beleza se fora.

     Na sala de estar, os Devoradores da Morte reuniram-se, circulando o seu Mestre. Ao lado de Meredith, Draco Malfoy mantinha os olhos postos no chão, a mente presa à jovem inconsciente que fora feita prisioneira no quarto de hóspedes.

     Laurel lutara até à exaustão.

     Fora Snape quem a carregara todo o caminho, algo não muito difícil devido à estatura magra e pequena da Ravenclaw. Esta só parara de gritar e de espernear quando tombou na cama, o corpo deixando-se levar pela inconsciência quase que de imediato. Entre a morte do avô, a preocupação com Ashley e uso de magia de forma incontrolável, Laurel não conseguira resistir durante muito mais tempo ao cansaço que se acumulara.

     O estômago de Meredith contorceu-se.

     Ashley.

     Pensar na Diggory era como cravar uma adaga no seu próprio coração e torcer vezes e vezes sem conta. Não fazia ideia se ela estava viva ou morta, se sofrera alguma lesão grave pela pancada que dera com a cabeça, não sabia como Ashley se sentia em relação a isso...

     Meredith sentia-se culpada. Se alguma coisa acontecesse a Ley, a culpa era sua, que a atacara.

     Voldemort ergueu os braços, num cumprimento. Aos seus pés, Nagini sibilava, os olhos atentos colocados em Meredith, que estremeceu.

     Todos os Devoradores da Morte tinham a máscara e o capuz a tapar-lhe o rosto e o topo da cabeça, à exceção dos Malfoy, de Bellatrix Lestrange e de Meredith; os donos da casa acharam desnecessário tapar o seu rosto, Bellatrix incluída, e Meredith recusara-se a colocar aquela coisa na cara.

- Sejam bem-vindos, meus amigos! - saudou Voldemort, as palavras saindo-lhe tão cínicas da sua boca - Estamos prontos para dar início ao propósito da nossa vida: limpar o mundo da escumalha impura que o usurpou. O maior protector dos Muggles jaze morto e o meu único entrave é Harry Potter, o rapaz que resistiu todos estes anos... Nada temam: as pragas são facilmente erradicadas e com esta não será diferente. - Voldemort sorriu, diabólico - Tragam Harry Potter até mim e serão recompensados. Se o fizerem enquanto destroem todo e qualquer impuro com que se cruzem... Tanto melhor!

     Os Devoradores da Morte riram, sádicos. Os olhos escuros de Meredith percorreram o salão, parando abruptamente na figura que a encarava do outro lado do círculo. As curvas de uma mulher, os cabelos negros a despontarem-lhe pelo capuz, o sorriso encarnado por detrás da máscara...

- Baixem as máscaras. - ordenou Voldemort, olhando para os seus servos - Revelem aos vossos companheiros quem sois e o amor que sentem por mim e por esta causa.

     Um a um, os Devoradores da Morte arrancaram a máscara do rosto. A expressão de Snape era indecifrável, enquanto a de Meredith foi bastante perceptível quando a figura feminina que estivera a observar baixou a sua máscara, o sorriso sádico e demoníaco demasiado familiar para o seu gosto.

- Milorde... Permite que me dirija à minha filha? - pediu Amanda Lovelace, com um falso tom de carinho na voz - Quero parabenizá-la por se juntar a nós!

     Voldemort sorriu e assentiu, vendo a palidez no rosto de Meredith assentuar-se quando a mãe correu para abraçá-la, com gestos exagerados.

- Eu vi-te morrer... - sussurrou Meredith, tensa nos braços da mulher.

- As aparências enganam, meu bem. O que viste foi uma Muggle que eu convenci a beber Poção Polissuco e a forcei a morrer por mim. - Amanda afastou-se, colocando as unhas extremamente afiadas nas bochechas da filha, que gemeu de dor ao senti-las perfurarem-lhe a pele - Vejo que escolheste o lado certo e o meu senhor contou-me quão útil tens sido mas não te iludas, minha filha... - Amanda sorriu, os olhos escuros brilhantes postos em Meredith - À mínima fraqueza... À mínima hesitação... - aproximou os lábios ao ouvido dela, que estremeceu, assustada - Mato-te como planejei por anos.

      E afastou-se, deixando Meredith Lovelace petrificada no mesmo lugar.

- ... Que a Guerra por um mundo melhor comece, meus amigos. - anunciou Voldemort, com fervor.

     Amanda Lovelace piscou o olho à filha.

**

     No quarto mais a Oeste da Mansão, Laurel Ravenclaw acordou da sua inconsciência.

     Pela primeira vez após um desmaio, não estava na enfermaria.

     O corpo dolorido fez-se sentir quando se tentou sentar, sendo ajudada por mãos frias e alongadas. Sentado na cama de dossel onde jazia, Draco Malfoy observava-a, procurando ajudá-la. Os olhos safira fixaram-se nos dele e Draco esperou ver a desilusão e mágoa que vira na Torre de Astronomia.

     Em vez disso, encontrou lágrimas.

- Não foi um pesadelo? - perguntou Laurel, com alguma inocência.

     Draco abanou a cabeça. O sol punha-se na colina onde a Mansão se situava e viu os olhos de Laurel brilharem um pouco com os tons que o céu adquirira; fora Draco quem escolhera aquele quarto de propósito para ela, sem explicar a ninguém porquê.

- A tua cor favorita... - apontou para o céu - A cor de um bonito pôr do sol num dia sem nuvens. Não é algo muito frequente em Inglaterra mas...

- Mas escolheste este quarto para, mesmo estando aqui presa, conseguir ao menos apreciar o pôr do sol. - concluiu Laurel, com um sorriso fraco no rosto - Obrigada, Draco.

- Laurel, podes não acreditar mas eu lamento muito o que aconteceu... Se eu tivesse escolha...

- Temos sempre escolha, Draco. - interrompeu Laurel, sem sentir piedade dele - Ambos fizemos as nossas escolhas. Agora, vamos ter de viver com as consequências.

- Eu sei. - fez uma pausa, fitando o chão -  Nunca quis magoar-te. Acreditei realmente que ele te faria mal se eu não obedecesse e... Não conseguiria viver com isso.

     Laurel assentiu mas nada disse. Tinha de pensar. Precisava forçar o seu cérebro a procurar uma forma de sair dali.

     Olhou em volta. Milhares de feitiços rodopiavam sobre a sua cabeça, impedindo-a de sair. A janela estava selada e a porta só abria para três pessoas: Draco, Narcissa e Voldemort. A Malfoy estava autorizada a entrar para cuidar das suas feridas e verificar o seu estado, agora consciente.

     Laurel estava presa.

- O Harry? - perguntou, baixinho.

     Num dia normal, Draco ficaria irritado, ciumento, ou qualquer outra coisa devido ao seu ódio mortal por Harry. Infelizmente, aquele não era um dia normal e Draco não era burro nenhum. Se havia chance de Laurel sair dali viva, era através de Harry, não dele.

- Está bem. - murmurou Draco - E Ashley também. Falei com Blaise por cartas e perguntei... Ele ficou em Hogwarts para o...

      Os braços de Laurel rodearam-no, agradecida. Saber que a melhor amiga estava bem deixou-a mais aliviada. Draco afundou o rosto nos cabelos dela, sentindo o seu aroma natural a jasmim.

- Eu lamento muito... - murmurou, em vão.

     Laurel assentiu.

- Tu avisaste-me, não foi? Avisaste-me que te odiaria... Embora não te odeie realmente. - a ruiva encolheu os ombros - Eu não quis ver. Fiz a minha escolha, tal como tu fizeste a tua.

     A Herdeira de Ravenclaw ergueu o medalhão, que brilhava como a mais bonita esmeralda. Com ternura, beijou a superfície fria do coração, sabendo que as rodas do destino já tinham começado a girar.

     Laurel ergueu os olhos, encarando Draco.

- Tens de me ajudar a sair daqui.

     Por momentos, fez-se silêncio. Várias emoções assolaram o rosto habitualmente sem expressão de Draco, até pararem numa.

- Claro. - afirmou, sem dúvidas.

     E beijou-a na testa, num gesto de carinho.

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