Cap IV

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Outros tantos jantares e encontros se repetiram, e nesses breves encontros meus com Natalie, conversávamos trivialidades e éramos educadas uma com a outra. Ela sempre tentava sondar como eu e Taylor nos conhecemos, qual era nossa ligação de fato.

Entre eu e Taylor as coisas se acalmavam, sempre havia uma brecha, um descuido, e de repente ele estava conversando comigo, me salvando da inquisição de Natalie ou simplesmente puxando um assunto. Eu adorava estar ali diante dele atencioso comigo.

A cada ocasião em que nos encontrávamos, menos magoado ele parecia. E eu ficava feliz com nossa aproximação.

Muitas vezes ele se deixava levar e acabava me tocando, mas em seguida se repreendia e pedia desculpas. O toque dele era como uma descarga elétrica, me arrepiava.

Ele não fazia ideia de que tudo era dele, tudo era para ele. Eu me pergunto se ele imagina que os quinze poemas iguais que escrevi são para ele, que escrevo porque preciso, que o amor é uma escolha, e que eu o escolhi.

Amores de verdade não são perfeitos. Eles simplesmente são!

****

Era aniversário de Jack, um jantar regado a muito vinho numa noite de inverno.

Todos juntos na mesma mesa, contando histórias da adolescência. Jack orgulhoso contava sobre o acampamento e sobre o começo oficial do namoro dele com Valerie. Eu lembrava bem daquele dia, mas tanto eu quanto Taylor ficamos tensos com a lembrança.

Até onde Jack sabia que podia falar? Não sei, mas ele não ultrapassou o limite, conseguiu manter nosso amor bem no fundo da gaveta onde Taylor o colocou depois que rompemos. Eu estava lá, no fundo da gaveta, num bilhete com um telefone escrito.

Taylor, Jack e Isaac se animavam jogando video game na sala, e Natalie se aconchegou no sofá e pegou no sono enquanto eu e Valerie olhávamos fotos antigas na mesa da cozinha.

— Quem diria? Olha a gente aqui... Mais lindas do que quando tínhamos quinze anos! — Valerie comenta enquanto nos encara numa foto.

Dou risada ao reparar em nosso estilo. Ela ri junto e passa o olhar pela sala.

— Quem diria que vocês não estariam juntos hoje... Eu nunca vou aceitar que ele está com alguém que não seja você, Harper!

Sigo seu olhar e paro meus olhos em Taylor, ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe. No sofá Natalie dorme tranquila, analiso seus traços, sua presença. Somos tão diferentes. Ela é o oposto de mim, isso mostra o quanto ele precisou fugir.

— Preciso fumar, Valerie!

Levanto e vou até o quintal. O céu escuro, limpo, sem nenhuma nuvem, o vento frio doía meu rosto.

Esse era um daqueles momentos em que você vê que está na merda. A taça de vinho em uma mão, o cigarro em outra, e ninguém ao seu lado.

Aprecio lentamente esse momento, saber que logo ali está o amor da minha vida, e que sua namorada dorme no sofá é uma espécie de tortura, mas recebo esse momento e o mastigo devagar.

"Será que o amor precisa de tanto esforço? Talvez estejamos destinados a ser só uma lembrança."

— Você vai congelar aí!

Aquela voz...

— Oi, não vi você vindo, Taylor...

— Não quis te assustar, desculpa!

— Tá tudo bem, não assustou.— Falo ainda olhando para o céu.

— Você ainda gosta de admirar o céu à noite?

Dancing With Your GhostOnde histórias criam vida. Descubra agora