QUANDO FALA O CORAÇÃO

Cap. 8 - Nó na cabeça

"As loucuras e bobagens, os caprichos e as incoerências me divertem, pertencem a mim e eu rio deles sempre que posso". (Elizabeth Bennet - Orgulho e preconceito, de Jane Austen)

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Meredith PoV

"Estimado diário,

Já se sentiu como se o chão lhe faltasse aos pés? Como se o mundo tivesse perdido o sentido simplesmente porque alguém poderia deixar de existir nele? Foi exatamente assim que me senti nesses últimos dias. A possibilidade de perder Maggie em tão pouco tempo fez com que meu chão ruísse e de repente eu me visse sendo tragada para um buraco que não tinha fim. Eu amo Maggie, ela parece ocupar bem mais que o "cargo" de irmã. Por ela, eu seria capaz de qualquer atitude, desesperada ou não. É uma ligação forte, desde criança, que eu não sei como explicar. Ver Maggie feliz sempre foi minha prioridade e sempre será, mesmo que eu tenha que abrir mão de qualquer coisa que eu ame. 

E hoje escrevo para dizer que o mundo voltou a ter cores, já que Maggie foi salva por um anjo que a trouxe de volta para mim e meu coração voltou a ter paz. 

Por favor, Deus, não me assuste assim de novo.

Com amor, M. "

Eu fechei meu diário e suspirei. Com tantas transformações nos últimos dias, eu nem havia conseguido escrever tanto nele. Mas agora, eu sentia meu coração voltar a se aquecer novamente com a Maggie fora de perigo e eu precisava externar isso. Sorri ao passar a mão na capa aveludada dele. Era meu ponto de refúgio, meu lugar aprazível, mesmo que ninguém soubesse disso.

Após a cirurgia de Maggie, tudo correu bem, sem tormentos. Na manhã seguinte, bem cedo, Amelia chegou e eu fui buscá-la na rodoviária. Nós havíamos conseguido falar com nossos pais que ficaram muito preocupados e queriam voltar de viagem imediatamente, mas consegui convencê-los a não fazer isso, já que estava tudo bem. Eles concordaram com a vinda de Amelia, mas me pediram para ficar de olho nela. Amelia desembarcou muito preocupada com Maggie, mas sem deixar de mostrar também o quanto estava deslumbrada com a agitação da cidade grande. Ela foi direto para o hospital para ficar com Maggie e para que eu pudesse ir para a faculdade.

Sim, mesmo depois de toda tensão e de ter passado a noite em claro, eu fui direto para a faculdade no outro dia. Passei em casa rapidamente, apenas para pegar minhas coisas e fui direto para o campus. Tive que tomar dois copos grandes de café para me manter acordada. Confesso que custei a me concentrar, a todo momento o sono atrasado cobrava seu lugar e eu dava pequenos cochilos entre uma explicação e outra, sendo chamada a atenção várias vezes.

Nos intervalos entre as aulas, recebi várias mensagens de Amelia e de Jackson, me tranquilizando sobre o estado geral de Maggie. Ela já havia acordado e estava um pouco sonolenta devido às medicações, mas estava bem, sem febre, mas sentindo um pouco de dor ainda no local da cirurgia. A Dra. Paloma passou bem cedo e nos animou revelando um quadro bem positivo e disse que em breve ela poderia ir para casa. Isso trouxe um sorriso ao meu rosto e a sensação de alívio ficava ainda maior.

Eu recebi também várias mensagens de Link, que queria saber notícias e aproveitava para me alegrar um pouco, me ajudando a ficar acordada com suas tiradas irônicas e piadas prontas. Eu confesso que me senti muito bem com a companhia de Link e me vi sorrindo furtivamente a cada vez que chegava alguma mensagem dele; mesmo conhecendo-o recentemente, ele parecia ser uma pessoa boa, divertida e cativante, mesmo que já tenha sofrido tanto na vida como ele mesmo me contou.

Esse pensamento me trouxe de volta a memória de Andrew e meu sorriso sumiu por um instante. Andrew sempre teve aquele jeito retraído e pouco sociável, mas eu nunca poderia imaginar que ele fosse cruel com um amigo por causa de ciúmes infantis. Ele parecia ser enérgico, focado, responsável ao extremo, mas eu achava que ele ainda tinha um coração. Especialmente devido aos últimos acontecimentos, pois ele havia se demonstrando sensível e companheiro comigo, mesmo com a sua frieza habitual. A jaqueta de couro que ele colocara sobre meus ombros, a segurança que me passou ao lidar com a autorização de cirurgia de Maggie e até mesmo o café que ele trouxe para mim na sala de espera eram atos de pessoas sensíveis, mesmo sob o semblante sisudo que nunca abandonava seu belo rosto.